Por: Iolanda Cruz*
Geralmente quando se pensa em desenvolvimento de uma localidade rural ou litoránea, é comum imaginar grandes infraestruturas ou investimentos financeiros. Mas há um tipo de riqueza, muitas vezes invisível, que é essencial para o progresso real e sustentável de qualquer comunidade: o capital social, um ativo estratégico, que muitas vezes passa despercebido nas políticas públicas.
Capital social é a confiança entre as pessoas, ao espírito de cooperação, à capacidade de se trabalhar juntos em torno de objetivos comuns. O capital social está presente nas relações de vizinhança entre as pessoas de uma mesma comunidade, nas redes de apoio ou de parceiros para o desenvolvimento local, na participação em associações, em cooperativas, em projetos coletivos, de entre outros. É o que une uma comunidade e dá sentido à palavra “pertença”.
Em lugares onde o capital social é forte, vê-se mais união, mais participação cidadã e maior capacidade de resolver problemas de forma colaborativa. Os projetos comunitários ganham força, os conflitos diminuem e os resultados se sustentam no tempo.
Nesse sentido, fortalecer o capital social comunitário é investir no que há de mais humano: a relação entre as pessoas. Valorizar o diálogo, incentivar a participação em decisões locais, apoiar lideranças comunitárias e redes de solidariedade são caminhos seguros para um desenvolvimento que não exclui ninguém.
Mais do que grandes obras, o que transforma uma cidade ou uma comunidade é o compromisso das pessoas entre si. Afinal, o verdadeiro progresso começa quando se olha para o outro não como adversário, mas como parceiro de caminhada.
Nas pequenas localidades ou comunidades, o capital social comunitário emerge naturalmente e gera confiança, cooperação e solidariedade entre as pessoas.
O papel da Gestão Pública
Na administração pública está-se habituado a trabalhar com indicadores económicos, com metas de infraestrutura, com orçamentos e obras. Tudo isso, pois é claro, é essencial para o desenvolvimento do país. Mas o que sustenta na verdade o avanço de uma comunidade ao longo do tempo, vai além dos investimentos materiais: é a qualidade das relações sociais, o grau de confiança entre cidadãos e instituições e a capacidade de cooperação entre diferentes setores da sociedade.
Para os gestores públicos, compreender e valorizar o capital social é essencial. Em contextos onde o capital social é forte, a implementação de políticas públicas encontra menos resistência, a população colabora mais ativamente e os resultados têm maior impacto e durabilidade. Além disso, comunidades com alto capital social tendem a ser mais resilientes, organizadas e propositivas. Por outro lado, ignorar esse fator pode levar ao desperdício de recursos e ao fracasso de iniciativas bem-intencionadas. Obras podem ser entregues, mas sem o engajamento da população, muitas vezes se tornam sub-utilizadas ou abandonadas.
Cabe, portanto, ao poder público não apenas investir em infraestrutura, mas também criar condições para que a população se envolva, estimulando organizações locais, fortalecendo a escuta ativa, apoiando iniciativas comunitárias e promovendo a transparência e o diálogo contínuo.
Mais do que executar políticas para as pessoas, deve-se construir políticas com as pessoas. Porque o verdadeiro desenvolvimento local nasce da soma entre recursos materiais e vínculos sociais fortes. E nisso, a gestão pública tem um papel decisivo. Fortalecer o capital social não é apenas uma questão ética ou social, mas também, é uma estratégia inteligente de gestão.
Aponta-se em modo de conclusão que o desenvolvimento local não se impõe com decretos. Constrói-se com a população, com base na confiança mútua, no engajamento coletivo e na transparência institucional.
Investir em capital social é investir na governabilidade, em justiça social e em um futuro mais resiliente e próspero para todos.
*Socióloga. Doutora em Ciências Sociais
