Por: Pedro Ribeiro
A inteligência artificial (IA) está a moldar o futuro e oferece oportunidades extraordinárias, obviamente. No entanto, para que seja verdadeiramente útil, é essencial que seja desenvolvida e implementada com responsabilidade, transparência e num compromisso com a sustentabilidade e inclusão.
Potencialidades da IA
A IA está a transformar o mundo dos negócios, a educação, a cultura e a sociedade em geral. O seu potencial para impulsionar a competitividade, produtividade, otimizar processos e criar novas oportunidades é inegável. Porém, à medida que esta ferramenta se torna cada vez mais omnipresente, importa refletir sobre os desafios que a sua adoção coloca, nomeadamente no que respeita à sustentabilidade e à ética. Se pensarmos nos prós da IA, rapidamente colocamos em cima da mesa, o aumento da eficiência e a promoção da criatividade e inovação. Através da automação de tarefas repetitivas, as ferramentas de IA podem levar a um aumento da eficiência, libertando tempo e recursos para o sucesso. Nos negócios, podem melhorar a capacidade de análise de dados, personalizar experiências e acelerar a tomada de decisões. Na saúde e na ciência, algoritmos de IA são capazes de diagnosticar doenças precocemente, e apoiar no desenvolvimento de novos tratamentos. No setor ambiental, a IA pode auxiliar na otimização de recursos e na monitorização das alterações climáticas. Adicionalmente, estas ferramentas também podem promover a inclusão e bem-estar. Por exemplo, como assistentes virtuais e tradução automática -, promovem maior acessibilidade digital e inclusão de pessoas com necessidades especiais ou barreiras linguísticas.
Desvantagens da IA
Contudo, vários estudos têm alertado para as desvantagens da IA, focando desafios ao nível da ética, da transparência, da segurança e da privacidade (proteção de dados), da manipulação da informação e do impacto negativo no mercado de trabalho. O avanço da automação pode conduzir à substituição de colaboradores em diversas indústrias e serviços, levantando questões sobre requalificação profissional e desigualdade económica, social e ambiental. Sobre o tema da ética, a IA pode perpetuar preconceitos caso os dados utilizados no treino dos modelos sejam enviesados. Adicionalmente, a falta de transparência em algumas aplicações pode comprometer decisões justas e equitativas. Em concreto, o desenvolvimento e a utilização de modelos de IA exigem elevados recursos computacionais, resultando num consumo energético significativo e num impacto ambiental relevante.
Sustentabilidade da IA
Neste contexto, a avaliação da sustentabilidade da IA deve ser algo que nos deve preocupar. Eis, os critérios: Primeiro, a promoção do bem comum, pois a IA deve ir além da simples prevenção de danos, e focar-se na criação de valor positivo para a sociedade. Segundo, a justiça intergeracional -as decisões tomadas hoje sobre a IA devem considerar o impacto nas futuras gerações. E, terceiro, a importância de uma visão holística sobre a sustentabilidade. A sustentabilidade deve ser tratada como um princípio independente e não apenas ligada a conceitos como transparência ou justiça. Urge a necessidade de uma abordagem mais ampla na avaliação da sustentabilidade dos modelos de IA. Embora o consumo energético e as emissões de CO2 sejam aspetos importantes, não são suficientes para medir o verdadeiro impacto da IA. É crucial considerar, através da elaboração de análises de custo-benefício, os efetivos custos e benefícios sociais e ambientais destas ferramentas. Pois o desenvolvimento e implementação da IA podem acentuar desigualdades, ao concentrar benefícios em grandes empresas e economias avançadas, enquanto deixam para trás regiões menos desenvolvidas; bem como custos ecológicos, pois a produção do hardware necessário para executar modelos de IA implicam, por exemplo, o uso intensivo de água e a geração de resíduos tecnológicos. Mas, por outro lado, existem benefícios sociais e ambientais que não podem ser esquecidos. A IA tem potencial para contribuir para uma economia mais sustentável e inclusivo, desde a monitorização de ecossistemas até à otimização da eficiência energética em diversos setores.
Desafios e Impactos da IA
Ora bem, para garantir que a IA seja verdadeiramente sustentável e inclusivo, é essencial adotar uma visão integrada, que considere impactos de curto e longo prazo, bem como a necessidade de políticas regulatórias (desregulatórias) eficazes. E as academias (universidades) têm uma responsabilidade acrescida nesta matéria, formando líderes que compreendam não apenas o seu potencial tecnológico, mas também os desafios relacionados com a ética, a responsabilidade social e a sustentabilidade, para garantir que o desenvolvimento tecnológico não comprometa valores fundamentais. Em conclusão, a discussão ética e a regulação internacional são imperativas para equilibrar inovação e responsabilidade, garantindo que a IA seja um motor de progresso para todos. Para além da pegada de carbono, a análise do impacto da IA deve incorporar custos e benefícios sociais e ambientais, assegurando um desenvolvimento equilibrado, sustentável e inclusivo. Vista como uma ameaça a muitas profissões, a IA pode trazer grandes ganhos de produtividade às empresas e promover a inclusão na sociedade. Mas é preciso regular para travar os riscos de segurança e de ameaça aos próprios direitos consagrados num mundo cada vez mais tecnológico. A IA é encarada como um dos maiores desafios que se apresentam na atualidade às empresas e à sociedade em geral. Porém, vai muito além do ChatGPT, o impacto da IA nas empresas. Recordando que a primeira reunião sobre a forma de utilizar algoritmos para reproduzir ações humanas ocorreu no final de 1950, pois a IA tem uma longa história e já teve muitos invernos, mas democratizou-se efetivamente com a disseminação do ChatGPT. Porém, a IA é algo que já está entranhado em muitos dos serviços tecnológicos que já utilizamos, diariamente. Todos nós usamos IA. Tudo o que é sistemas de reconhecimento facial vem de algoritmos de IA, o Google vem de algoritmos de IA, os algoritmos das redes sociais são de IA, portanto, já está connosco. Porém, o ChatGPT, por se assemelhar a uma interação humana, foi uma revolução e não uma mera evolução. Os dados enviesados que compõem os sistemas aos quais a IA vão beber informação, com grande prevalência de dados dos EUA ou o deficit de línguas menos usadas, por exemplo, dando azo a alguma discriminação logo à partida. Teremos certamente uma visão diferente daquilo que é na realidade. Países ou línguas como a nossa podem ser pouco representadas. Muitas profissões vão ser complementadas com a IA, com aumentos de produtividade. E um dos principais impactos é precisamente ao nível dos empregos. A ameaça e o receio de substituição de postos de trabalho surgem sempre que se dissemina uma tecnologia nova e o mesmo está a acontecer com a IA. É claro que algumas profissões vão ser impactadas a um nível muito grande, mas temos de perceber quais são as profissões de futuro e aquelas que vão ser incrementadas com a IA. Há profissões, como na construção e outras de interação com o mundo físico, por exemplo, que serão pouco impactadas, mas outras serão descontinuadas. Nós vamos ter no telemarketing robots a terem conversas persuasivas para convencerem as pessoas a comprar algo, por isso, esta profissão vai provavelmente extinguir-se. Porém, muitas profissões vão ser complementadas com a IA, com aumentos de produtividade, nomeadamente nas áreas do direito, marketing, indústrias criativas e até na programação e desenvolvimento de software. Vamos poupar semanas de trabalho por ano e isso vai ter um impacto muito grande na economia. A IA como ferramenta de expansão a dar voz às indústrias criativas neste debate necessário e urgente -, a IA como uma oportunidade de negócio. A IA vai proporcionar à arte uma nova forma de fazer, ou seja, tudo o que é criativo e expanda as nossas capacidades. Empresas que desenvolvem soluções de IA para a banca e para a área da saúde, trouxe ao debate a experiência de developer de tecnologia -, uma assistente de voz, capaz de marcar consultas de forma autónoma. Eis, exemplos de acessibilidade e inclusão que a IA pode trazer, independentemente do seu grau de literacia digital e de contexto. Cabo Verde deve, tão breve quanto possível, desenvolver uma regulação precisamente para acautelar as questões de segurança e de utilização da IA, uma vez que o mundo mudou quando a OpenAI abriu ao público o ChatGPT. Porém, isto não vai parar aqui, o blockchain, as criptomoedas e a computação quântica também como tecnologias que se estão a desenvolver e que precisam de regulação para serem controladas. As tecnologias devem ser incorporadas pelas empresas (independentemente da sua dimensão), entre elas a IA, para criar novos produtos, novos serviços, para produzir bens de forma diferente, para interagir com clientes ou antecipar necessidades e expetativas, pelo que urge estabelecer regras que permitam ter segurança e centrar nas pessoas a utilização (inteligente) da inteligência artificial.
