O relatório sobre a Actualização Económica de Cabo Verde para 2025 do Banco Mundial (BM) lançado esta semana chama a atenção para a necessidade de acelerar os esforços para melhorar o desempenho das empresas públicas, agir com prudência na criação de novas entidades e manter a disciplina orçamental do Estado. Mesmo assim, também há elogios à trajetória “sólida” de recuperação da economia.
O relatório deste importante parceiro do desenvolvimento económico de Cabo Verde aponta que o Produto Interno Bruto “real” do país cresceu 7,3% em 2024, impulsionado por uma “forte” actividade turística e por uma recuperação moderada da agricultura. Pese embora, as fortes críticas sociais em torno do sector que, segundo os agricultores, tem padecido da falta de mão de obra generalizada devido à emigração.
Contudo, o BM argumenta que a economia de Cabo Verde continua numa “trajetória sólida de recuperação”. Nesse contexto, e apesar dos “progressos assinaláveis”, nomeadamente na gestão macroeconómica, na redução do rácio de endividamento e na diminuição da pobreza, a instituição alerta que persistem vulnerabilidades importantes, como a dependência do turismo, a exposição a choques externos e as pressões fiscais provenientes das empresas públicas.
O documento analisa que a inflação caiu para 1% em 2024 (o valor mais baixo dos últimos anos) o que, no entender do BM, contribuiu para a redução da pobreza para 14,4% (linha de pobreza de $3,65 por dia, em paridade do poder de compra de 2017).
Segundo o mesmo, outro sinal positivo da economia é que a execução do investimento público aumentou, os níveis de endividamento continuaram a descer e a balança corrente registou um excedente, pela primeira vez, em quatro anos.
Já para 2025, a instituição prevê um crescimento real do PIB em 5,9%, acompanhado de uma redução contínua da pobreza. Porém, como vem sendo tónica nos últimos anos, o relatório alerta que as incertezas globais, os choques nos preços das matérias-primas e os riscos climáticos poderão afetar o ritmo do crescimento e das reformas em curso no país.
Recomendações
Entre as recomendações apresentadas, o relatório sublinha a necessidade de acelerar os esforços para melhorar o desempenho das empresas públicas, agir com prudência na criação de novas entidades e manter a disciplina orçamental, “ao mesmo tempo que se investe em iniciativas de elevado impacto”, conforme aponta.
O relatório realça também a necessidade urgente de implementar políticas que assegurem um crescimento inclusivo. É que, como refere o documento, apesar dos progressos nas áreas da educação e da saúde, as mulheres cabo-verdianas continuam a enfrentar barreiras no mercado de trabalho. Nesse sentido, eliminar as desigualdades de género no emprego e nos rendimentos poderá aumentar o PIB em até 12,2%, a longo prazo.
Para atingir este objectivo, o relatório recomenda alargar o acesso a serviços de cuidados infantis e a regimes de trabalho flexível; promover as competências das mulheres nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), bem como no ensino técnico e na formação profissional.
Por outro lado, chama a atenção para o combate à discriminação no local de trabalho e transformar as normas sociais. “Ao alinhar os esforços de reforma com políticas inclusivas, Cabo Verde tem uma oportunidade única para reforçar a resiliência, capacitar mais cidadãos, especialmente mulheres, e construir um futuro mais sustentável e mais justo”, apela Anna Carlotta Massingue, economista principal do BM para Cabo Verde.
Valorizar potencial económico das mulheres
De notar que o relatório, intitulado “Desbloquear o Potencial Económico das Mulheres”, analisa as projeções de crescimento económico do país, destaca os avanços no combate à pobreza e apresenta as reformas estruturais necessárias para assegurar um crescimento sustentado e inclusivo. O mesmo inclui ainda uma secção especial dedicada à valorização do potencial económico das mulheres.
“A recuperação de Cabo Verde é um testemunho da resiliência do seu povo e das suas instituições. Mas, para transformar esta retoma numa prosperidade duradoura e inclusiva, são necessárias reformas ousadas, em particular, para melhorar a governação das empresas públicas, apoiar a participação económica das mulheres e diversificar a economia”, defendeu Indira Campos, Representante Residente do Banco Mundial em Cabo Verde.
