PUB

Convidados

Cabo Verde Airlines: estratégia até 2031? Fechar.

Por: Pedro Castro

Esta é a minha resposta ao concurso público lançado pelo Governo com o objetivo de desenhar um plano estratégico e de negócios para os TACV entre 2026 e 2031. Fechar, sim. Não por má vontade, nem por desrespeito, mas simplesmente porque a realidade já respondeu por nós.

Ao longo dos últimos anos, a Cabo Verde Airlines tem-se revelado uma companhia muito custosa e totalmente irrelevante para o país. Entre o que entrega à economia e o que custa ao contribuinte, o balanço é negativo. Para se compreender melhor esta realidade sem estados de alma, basta olhar para a oferta programada nos voos comerciais internacionais de/para Cabo Verde no próximo Inverno IATA (de 26 de Outubro de 2025 e 28 de Março de 2026). Em qualquer métrica analisada, a Cabo Verde Airlines nunca aparece entre os protagonistas principais: ocupa apenas o 6.º lugar em número de lugares oferecidos (26.622), o 5.º lugar em número de voos (198) e apenas o 5.º lugar em número de destinos (3). Estes números traduzem uma presença limitada, tanto em escala como em diversidade geográfica e a Cabo Verde Airlines fica bem atrás de grupos estrangeiros como a TUI, TAP, easyJet e até a Transavia, com operações muito mais robustas no país; oferece menos destinos que a Tui (20), easyJet (5) e a Transavia (6); e, mais decisivo ainda, não opera nenhuma rota única ou exclusiva. Nenhuma. A comparação com o Grupo TUI é demolidora: com 231.574 lugares para 20 destinos diferentes e 1.194 voos previstos para o mesmo período, a TUI representa quatro vezes mais lugares e seis vezes mais voos que a Cabo Verde Airlines – sobretudo para o mercado britânico, o mais importante para o turismo em Cabo Verde… e para onde a companhia nacional nem sequer opera. 

A easyJet, que começou a operar para o arquipélago há menos de um ano, já assumiu o 3.º lugar em voos e lugares, com um crescimento notável, sustentado num modelo orientado para o viajante independente e para mercados emissores sólidos como o Reino Unido, Portugal e Itália. Já a TAP, embora relevante, serve apenas um destino e tem um papel funcional, não transformador. Esta evolução pós-pandemia revela um facto incontornável: a Cabo Verde Airlines não é estratégica, não tem escala e, pior, não é escalável. É uma companhia residual, sem expressão significativa, sem rota própria e sem papel estrutural. E o país não tem tempo – nem orçamento – a perder com projetos nostálgicos e ineficazes. 

Chegados aqui, a pergunta do Governo não deveria ser como salvar a companhia. A pergunta é: por que razão o Estado ainda hesita em pôr fim a este projeto falhado? Nunca foi tão fácil como agora encerrar esta operação, sem grandes consequências e sem deixar vazio nenhum que o mercado não preencha de forma mais eficiente e competitiva. A reflexão estratégica que o país deveria submeter a concurso público é outra:

Como melhorar a mobilidade interilhas e as ligações internacionais de Cabo Verde?

Como posicionar-se como centro de excelência da aviação na África Ocidental, precisamente numa região marcada por aeroportos dispendiosos, mal geridos ou disfuncionais?

Como atrair companhias aéreas estrangeiras, centros de manutenção, operadores logísticos e empresas da mobilidade futura a fixarem uma base em Cabo Verde, criando emprego qualificado e desenvolvimento sem colocar o Estado na dependência da posse direta de aeronaves, companhias ou aeroportos?

Tudo isso é possível. Basta que o Estado faça o que melhor pode fazer: criar um enquadramento jurídico, fiscal e institucional que seja transparente, eficiente e estável. Um país aberto à concorrência, previsível para investidores e ágil na execução será sempre mais forte do que um país que insiste em alimentar um símbolo vazio. 2026 a 2031 deve ser o tempo da ambição, não da insistência no fracasso.

Quadro comparativo das 10 principais companhias aéreas que operam para Cabo Verde no Inverno 2025/26 e das métricas mais importantes: lugares disponíveis, número de voos e número de destinos servidos. Este quadro confirma uma realidade incómoda: a Cabo Verde Airlines deixou de ser uma protagonista na aviação do país e o país está bem conetado graças às outras companhias. 

PUB

Adicionar um comentário

Faça o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PUB

PUB

To Top