Apesar dos estragos provocados pelas chuvas torrenciais que fustigaram a praia da Laginha em Agosto, o Circuito Mundial de Voleibol de Praia mantém-se firme no calendário internacional: de 11 a 14 de Dezembro, São Vicente será palco de uma das etapas mais aguardadas do Volleyball World Beach Pro Tour.
As enxurradas deixaram marcas visíveis na orla da Laginha, levantando dúvidas sobre a viabilidade técnica do evento. Mas o ministro do Desporto, em contacto com a organização da prova, conforme nos foi dado a perceber, reafirmou o compromisso do Governo: “Este evento é estratégico para Cabo Verde. Vamos recuperar a praia e garantir todas as condições técnicas exigidas pela Federação Internacional”.
A articulação com o Ministério do Mar e a Câmara Municipal de São Vicente já está em curso, com foco na drenagem, nivelamento da areia e reforço da infraestrutura.
Micau de Laginha: o optimismo como bandeira
O organizador local, Amílcar “Micau” Graça, não esconde o entusiasmo: “Vamos transformar a Laginha num palco mundial. A chuva não nos trava — só nos desafia.”
Com apoio da Federação Cabo-verdiana de Voleibol e da Associação Regional de São Vicente, Micau garante que a logística está a ser afinada ao milímetro, com supervisão técnica internacional e envolvimento comunitário. Segundo ele, o impacto desportivo e económico será enorme para a ilha que se quer reeguer.
A prova reunirá 32 duplas internacionais — 16 masculinas e 16 femininas — que competem por pontos rumo ao Mundial e aos Jogos Olímpicos. Para São Vicente, o evento representa, turismo desportivo, centenas de visitantes entre atletas, técnicos e fãs.
Na economia local, hotéis, restaurantes e serviços terão ocupação máxima.
E na formação técnica haverá clínicas e workshops para jovens atletas, com destaque para a dupla cabo-verdiana Janice e Ludmila Varela, que já brilham no circuito continental.
No que se refere à projeção internacional, haverá cobertura mediática global e reforço da marca “Mindelo Desportivo”.
Praticantes locais como Kelson Lima, veterano da modalidade, sublinham que nunca houve uma oportunidade destas. “É mais que um torneio, podemos considerá a prova como um legado”. Já Ludmila Varela, atleta olímpica em formação, vê o evento como trampolim: “Jogar em casa, com o mundo a ver, é um sonho que nos empurra para o topo.”
Como funciona o circuito internacional de Beach Volley
O Beach Pro Tour, organizado pela FIVB, é o principal circuito mundial. Ele é dividido em três níveis:
– Elite16: Torneios de topo, com as melhores duplas do mundo.
– Challenge: Competição de alto nível, mas com maior rotatividade de equipas.
– Futures: Porta de entrada para países emergentes e atletas em ascensão.
As duplas acumulam pontos para o ranking mundial, que determina acesso a torneios maiores e qualificação olímpica. O circuito é global — com etapas em cidades como Hamburgo, Cape Town e Playa del Carmen.
Cabo Verde no cenário africano
Na Taça Africana de Voleibol de Praia Feminino, Cabo Verde terminou em 7º lugar entre oito equipas. A selecção foi representada por duas duplas: Janice & Ludmila Varela e Marly Lima & Zina Gomes. Apesar das derrotas frente ao Quénia, Nigéria, Marrocos e Moçambique, venceram a Gâmbia na disputa pelo penúltimo lugar.
O treinador Rui Fortuna apontou a falta de ritmo competitivo como principal obstáculo.
No masculino, Cabo Verde não participou da última edição. Marrocos venceu e garantiu vaga olímpica.
Posição internacional de Cabo Verde
Actualmente, Cabo Verde não figura com destaque no ranking mundial da FIVB. A ausência em torneios do circuito Beach Pro Tour limita a visibilidade e o acúmulo de pontos. A participação africana também é esporádica e marcada por desafios logísticos e falta de competição regular.
Caminhos possíveis para Cabo Verde
Areia não falta, talento também não. O que falta é calendário. Cabo Verde tem condições naturais ideais, mas precisa de investimento em torneios locais com chancela internacional, participação regular em etapas Futures, parcerias com federações africanas para intercâmbio técnico.
João A. do Rosário
Publicado na Edição 941 do Jornal A Nação, de 11 de Setembro de 2025
