Ao longo destes 50 anos da história da Independência de Cabo Verde, os emigrantes cabo-verdianos, espalhados pelos quatro cantos do mundo, têm tido um papel determinante no processo de desenvolvimento socioeconómico do país. Se por um lado têm dado uma ajuda preciosa às suas famílias, especialmente em momentos de crise, por outro, têm sido um pilar fundamental do investimento em Cabo Verde.
O contributo da diáspora de Cabo Verde no processo de desenvolvimento do país começa muito antes da própria Independência em si. Os emigrantes tiveram também um papel muito importante no financiamento da luta pela Independência.
Desde então, os filhos da terra, a viver fora de Cabo Verde, sempre tiveram um papel activo em relação aos desafios sociais e económicos do arquipélago, dando um importante contributo para dinamizar a economia, no geral, em várias vertentes e sectores.
Como é sabido, as remessas constituem um importante suporte financeiro para inúmeras famílias no arquipélago, seja através do envio de dinheiro, seja através do envio de bidões repletos de bens para serem comercializados/transacionados e assim convertidos em renda que acaba por sustentar, em inúmeros casos a economia familiar.
Saúde, educação e alimentação
Ao longo destes 50 anos de Independência, essas remessas têm sido o suporte do dia a dia de muitas famílias, e acabam por servir para suprir despesas alimentares, saúde, educação, entre outras. Desta forma, esse contributo financeiro ganha ainda maior expressão social especialmente em situações de crise ou períodos de seca, como aconteceu, recentemente, com a pandemia da Covid-19, que afectou os rendimentos de muitas famílias, com os sucessivos Estados de Emergência e confinamento. Nesta situação de sufoco e imprevisibilidade financeira, os emigrantes acudiram e protegeram financeiramente as famílias.
As remessas acabam por ter, assim, uma relação muito clara e definida entre a migração e o desenvolvimento de Cabo Verde, diferenciando-se dos outros mecanismos de financiamento externo, como, por exemplo, dos investidores externos turísticos ou outros, por beneficiarem directamente as famílias.
Estados Unidos, Portugal e França lideram envio de remessas
Dados do Banco de Cabo Verde mostram inclusive que, de certa forma, tem havido alguma estabilidade, com tendência para o aumento gradual do envio das remessas dos emigrantes para o arquipélago.
De acordo com a mesma fonte, entre Janeiro e Março de 2025, as remessas dos emigrantes em divisas para Cabo Verde totalizaram 7.422 milhões de escudos, tendo sido transferidos 2.598,8 milhões de escudos em Janeiro, 2.386,4 em Fevereiro e 2.436,8 em Março. Estados Unidos ( 2.458.2), Portugal (2.235,3) e França (1.302,4) lideraram estas transações, constituindo o top 3 dos principais países emissores de remessas para Cabo Verde no período em análise.
No que diz respeito aos municípios receptores, Praia liderou entre Janeiro e Março de 2025, ao ser o concelho que mais remessas recebeu nesse período. A capital recebeu 1.946 milhões de escudos em remessas de emigrantes. Depois vem Santa Catarina de Santiago, na estrutura dos principais envios, com 740,1 milhões recebidos. Em terceiro lugar está o município de São Filipe, no Fogo, ao ter recebido 528,9 milhões de escudos em remessas dos emigrantes.
Tendência dos três últimos anos
De notar que, recuando um pouco atrás no tempo, em 2022 Cabo Verde recebeu 29.984,3 milhões de escudos em remessas dos emigrantes em divisas, tendo baixado ligeiramente para 28.685,0 em 2023 e subido para 30.414,7 milhões de escudos em 2024.
Nestes três anos, Praia, São Vicente e Santa Catarina, lideraram as remessas em divisas recebidas dos seus emigrantes. Praia recebeu 7,226,0 milhões de escudos, em 2022, 6.993,0 em 2023, e 7.348,6 milhões de escudos em 2024.
Já as famílias de São Vicente receberam dos seus emigrantes 4.293,3 milhões de escudos em remessas de divisas em 2022, 4.313,0 em 2023 e 4.879,9 milhões de escudos em 2024. Para o município de Santa Catarina de Santiago, por sua vez, foram enviados 3.345,2 milhões de escudos em 2022, 3.195,8 em 2023 e 3.451,7 milhões de escudos.
De notar que no caso destes três municípios, houve uma ligeira diminuição no valor das divisas enviadas em remessas, em 2023, registando-se, por assim dizer, uma retoma em 2024, que deverá ser a tendência em 2025. Ou seja, as perspectivas são para o contínuo aumento do envio das remessas dos emigrantes em divisas ao longo deste ano que decorre.
Estatuto do Emigrante
Além destas remessas financeiras, o contributo dos emigrantes que residem na diáspora estende-se também ao investimento em habitação, comércio, hotelaria e restauração, rent-a-car, etc. Desta forma, muitos emigrantes acabam por obter também o Estatuto de Emigrante, para terem precisamente acesso a um conjunto de facilidades, como a isenção de impostos.
Actualmente, por exemplo, na ilha de Santiago, especialmente na cidade da Praia, os emigrantes acabam por liderar a compra de novos apartamentos na capital, muitos deles, inclusive de alto standing. Trata- -se de investimentos a longo prazo para aluguer ou, seguindo a tendência, para arrendamento turístico no Airbnb, Booking, etc. Inclusive, o Governo de Cabo Verde tem vindo a regular este sector do alojamento local, que até há bem pouco tempo estava a funcionar ainda de forma muito informal. A fiscalização da nova legislação é um dos grandes desafios, por forma a garantir uma concorrência mais justa no mercado turístico que, como se sabe, está em expansão na ilha de Santiago.
Publicado na Edição 941 do Jornal A Nação, do dia 11 de Setembro de 2025
Publicado na Revista INICIATIVA Nº106
