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Mundial 2026: Tubarões Azuis jogam amanhã o jogo das nossas vidas

No calor de Trípoli, Cabo Verde volta a sonhar com o impossível. Os Tubarões Azuis, embalados por cinco vitórias seguidas e pela maturidade competitiva alcançada, querem transformar o jogo de amanhã num marco eterno do futebol cabo-verdiano. Mais do que um jogo, a partida entre os Tubarões Azuis e os Cavaleiros do Mediterrâneo marca o teste definitivo à solidez mental e coletiva dos cabo-verdianos. Uma vitória significará o passaporte histórico para o Mundial 2026, e a confirmação de que o sonho cabo-verdiano já fala a linguagem dos grandes. O jogo tem lugar pelas 12 horas de Cabo Verde, no Estádio Internacional de Trípoli, na Líbia.

A selecção nacional de Cabo Verde em futebol, primeiro lugar do Grupo D, com 19 pontos, entra em campo amanhã, dia 8 de Outubro, para defrontar o terceiro classificado, a Líbia (14), em jogo a ter lugar no Estádio Internacional de Tripoli.

É a segunda vez que os Tubarões Azuis (TA) veem os palcos da finalíssima de uma Copa do Mundo a um toque certeiro das suas botas. A primeira foi em 2012-2013, na corrida rumo ao Brasil-2014, quando o colectivo nacional chegou a liderar o pelotão, acabando, entretanto, desclassificado na secretaria da FIFA, alegadamente pela utilização irregular de um jogador – Fernando Varela, então atleta do Steua de Bucareste.

Os cabo-verdianos tentam agora esconjurar o aforismo “não há uma sem duas”. Este é o penúltimo jogo desta segunda volta, um verdadeiro match-point. Caso vença, os Tubarões Azuis apuram-se imediatamente – e de forma inédita – para uma copa do Mundo, desta feita, para o Mundial 2026 que tem palco tripartido: Estados Unidos da América, Canadá e México.

Entre equilíbrio, experiência e juventude, Bubista convocou os seguintes atletas para o jogo desta quarta-feira: Guarda-redes: Bruno Varela, Josimar Dias “Vozinha” e Márcio da Rosa; defesas: Edilson Borges “Diney”, Ianique Tavares “Stopira”, Kelvin Pires “Djack”, João Paulo Fernandes, Roberto Lopes “Pico”, Sidny Lopes Cabral, Steven Moreira, Wagner Pina; médios: Aílson Tavares, Deroy Duarte, Jair Semedo “Yannick”, Heriberto Tavares, Maccabi Netanya, Jamiro Monteiro, Laros Duarte, Kevin Pina, Telmo Arcanjo; avançados: Dailon Livramento, Garry Rodrigues, Hélio Varela, Nuno da Costa, Ryan Mendes, Willy Semedo.

Cabo Verde caminha confiante para o jogo da Líbia, quanto mais não seja pelas cinco vitórias consecutivas, sem sofrer golos nas duas últimas partidas. Justamente por isso – e ciente de que os Tubarões Azuis já alcançaram maturidade suficiente para “competir em qualquer campo e buscar resultados positivos, dentro e fora de casa” – Bubista considera que nesta fase da competição “o factor mental é determinante”. Razão pela qual apelou à “união e consistência” do colectivo, confiante de que, claramente, os Tubarões Azuis poderão, já amanhã, “marcar a história do futebol cabo-verdiano”.

Pela frente, Bubista tem o experiente seleccionador, o senegalês Aliou Cissé, seis anos mais novo do que ele, mas já com um palmarés invejável (Ver Caixa), que quer a liderança do Grupo D para ele, tendo já prometido publicamente levar à Líbia ao Mundial-2026. 

Outros pontos em disputa

Nesta recta final das preliminares ao Mundial 2026, Cabo Verde (19 pontos) precisa de apenas três dos seis pontos que ainda estão em disputa para se apurar. Mesmo que amanhã não vença o pleito da Líbia, nada estará perdido. Pela frente tem ainda um último jogo, desta feita, diante ao último classificado do grupo – o eSwatini, que até agora não somou uma única vitória.

Mas poderá dar-se o caso que os Camarões (15) percam no Complexo Nacional das Maurícias (5). Bastará, então, aos Tubarões Azuis apenas um empate frente aos Cavaleiros do Mediterrâneo para carimbar o passaporte, rumo aos EUA, Canadá e México.    

O certo, por ora, é que os insulares regressam a Cabo Verde imediatamente após o jogo da Líbia. Terão pela frente mais cinco dias para preparar aquele que será, esse sim, o jogo das nossas vidas no Estádio Nacional, em S. Filipe, diante dos combinados do eSwatini (2 pontos). Estes recebem no Somhlolo National Stadium os Palancas Negras de Angola (10), que buscam um “bom segundo lugar”, feito que permitirá aos angolanos alimentarem esperanças nesta corrida à Copa do Mundo 2026.

Como chegamos até aqui   

Líderes isolados do Grupo D, os Tubarões Azuis parecem estar a dormir tranquilos à frente do pelotão, quanto mais não seja pela distância de 4 pontos que levam diante do segundo classificado, a duas jornadas do fim – os Leões Indomáveis dos Camarões, a selecção mais poderosa do grupo pelo seu rico palmarés nestas andanças internacionais.

A campanha rumo aos EUA, Canadá e México iniciou-se em 2023. Os cabo-verdianos fizeram um percurso irrepreensível – seis vitórias, um empate e uma derrota. Partiram do Monte Vaca, em 2023, no Estádio Nacional, empatando frente aos Palancas Negras de Angola (0-0) e desfeiteando o Essuatíni (0-2); em 2024 foram aos Camarões encaixar uma pesada goleada (4-1) e redimiram-se em casa, diante da Líbia (1-0). Desde 11 de Junho de 2024 que mantêm a toada de vitória e só sabem ganhar: 1-0 diante das Maurícias, 1-2 contra Angola, 0-2 diante das Maurícias e 1-0 na revanche aos Leões Indomáveis dos Camarões, na cidade da Praia. 

Quem são os Cavaleiros do Mediterrâneo?

Até a morte de Muammar Al-Kaddafi (2011) a selecção da Líbia era conhecida como “Os Verdes”, numa alusão à cor da bandeira nacional. A partir de então, com a adopção de uma nova bandeira, o seleccionado, não só mudou de alcunha para Cavaleiros do Mediterrâneo como também trocou cor da sua indumentária, passando a vermelho e preto.

Os líbios não são nenhum bicho papão. Os confrontos mais recentes com a selecção de Cabo Verde – duas vitórias para os Tubarões Azuis (1-2, em 2015; 1-0, em 2024, na primeira volta da corrida a este Mundial 2026) e uma derrota (2016) – deixam um rasto de esperança, com sabor a vitória insular no jogo de amanhã, no Internacional de Trípoli.  

Trata-se de uma selecção que, à semelhança de Cabo Verde, nunca se qualificou para uma Copa do Mundo e nunca venceu uma Taça de África das Nações (CAN). Sua melhor classificação nesta prova africana – a CAN – deu-se em 1982, quando sediou a competição – Vice-campeã. Mas guarda nas suas prateleiras uma CHAN-2014, Campeonato das Nações Africanas aberta unicamente aos atletas domésticos.

Na memória, mantém o registo de uma derrota estrondosa, frente ao Egipto (10-2), quando em 1953 estreou-se, oficialmente, numa preliminar de uma Copa do Mundo da FIFA.

Perfil de dois treinadores com chances de chegar ao pódio

O experiente Bubista encontra pela frente um também experimentado seleccionador – Aliou Cissé, técnico que já tinha orientado o poderoso Senegal, selecção para a qual jogou em 2000 e foi por ele orientado no último Mundial. Vejamos um curto palmarés dos dois homens fortes que buscam os caminhos para chegarem aos EUA, Canadá e México.

Seleccionador Nacional de Cabo Verde

Pedro Leitão “Bubista”

Pedro Leitão “Bubista”, 55 anos, nasceu em Estância, na ilha da Boa Vista e fez a sua carreira entre Cabo Verde, Espanha – onde militou pelo Badajoz – e Angola, onde jogou pelo ASA, chegando a treinador-adjunto do Progresso de Sambizanga. Fez parte da caravana de Lúcio Antunes, o técnico cabo-verdiano que, pela primeira vez, levou os TA a finalíssima de uma Copa de África – a CAN-2013, na África do Sul. Bubista chegaria ao comando técnico do TA, selecção para a qual jogou durante mais de 10 anos. Sua maior prestação, após três tentativas, foi a presença de Cabo Verde na finalíssima da CAN-2023, na Costa do Marfim, onde falhou o assalto às meias finais, eliminado pelos Bafana-Bafana, da África do Sul, na marcação das grandes penalidades. É sobre ele que recai agora a hercúlea tarefa de fazer a SN cabo-verdiana chegar, pela primeira vez, à finalíssima de uma Copa do Mundo, depois da tentativa falhada em 2012-13, que deveria levar Cabo Verde ao Brasil-2014.

Seleccionador Nacional da Líbia

Aliou Cissé

Aliou Cissé, 49 anos, nasceu em Ziguinchor, no Senegal, fez toda a sua carreira de atleta profissional em França, em clubes como Lille, PSG, Montpellier, Sedan e Nîmes, e Inglaterra, jogando pelo Birminghan, Crystal Palace e Portsmouth. Jogou pelos Leões de Teranga (2000-2009) e chegou a seleccionador nacional do Senegal em 2018. Nessa condição, participou na Copa do Mundo de 2022, no Qatar, depois de ter comandado duas edições da CAN, levando os senegaleses à vitória na edição de 2021, nos Camarões. E para a sua conta pessoal, as insígnias de melhor treinador da CAN-2012 e a de Treinador do Ano da CAF. Seleccionador nacional da Líbia desde Março de 2025, ele tem agora pela frente a ingente – dir-se-ia que quase impossível – tarefa de apurar os Cavaleiros do Mediterrâneo para o Mundial-2026, conforme promessa sua, e de os fazer chegar à finalíssima do Campeonato Africano das Nações de 2027, uma exigência contratual com a federação Líbia.

Os estádios da finalíssima com que Cabo Verde sonha

Estão programados um total de 104 jogos nesta 23ª edição da Copa do Mundo 2026. Pelo menos 46 selecções nacionais estarão distribuídas por 16 cidades dos EUA, Canadá e México. O jogo de abertura dar-se-á no México, no Estádio Azteca, no dia 11 de Junho de 2026; o da Meia Final-1, no AT&T Stadium, em Dallas, Texas; o da Meia Final-2, no Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta, Geórgia; o da final, no MetLife Stadium, em East Rutherford, Nova Jérsia, no dia 19 de Julho.

Eis os 16 estádios onde vão decorrer os jogos:

Estados Estados Unidos

MetLife Stadium (Nova Iorque / Nova Jersey)

  • MetLife Stadium (Nova Iorque / Nova Jersey)
  • AT&T Stadium (Dallas / Arlington, Texas)
  • Arrowhead Stadium (Kansas City, Missouri)
  • NRG Stadium (Houston, Texas)
  • Mercedes-Benz Stadium (Atlanta, Geórgia)
  • SoFi Stadium (Inglewood / Los Angeles, Califórnia)
  • Lincoln Financial Field (Filadélfia, Pensilvânia)
  • Levi’s Stadium (Santa Clara / área da baía de São Francisco)
  • Gillette Stadium (Foxborough / Boston, Massachusetts)
  • Hard Rock Stadium (Miami Gardens, Flórida)
  • Lumen Field (Seattle, Washington)

 

México

  • Estádio Azteca (Cidade do México)
  • Estádio Akron (Zapopan / Guadalajara, Jalisco)
  • Estádio BBVA (Guadalupe / Monterrey, Nuevo León)

Canadá

  • BMO Field (Toronto, Ontário)
  • BC Place (Vancouver, Colúmbia Britânica)

A grande novidade desta 23ª Edição-2026 é que as selecções nacionais serão divididas em 12 grupos de quatro equipas, sendo que as duas primeiras de cada grupo, conjuntamente com as 8 melhores terceiras classificar-se-ão para as oitavas de final. Um formato inédito que estabelece que as seselcções que chegarem à final terão que ter passado por oito jogos, mais um que os disputados na última Copa do Mundo FIFA de 2022, no Qatar.

Importa referir que, nestas preliminares ainda em curso, são já conhecidas pelo menos duas das 9 selecções do grupo África – as tais que se apuram automaticamente nestas pré-eliminatórias, sem recurso aos play-off – Marrocos (Grupo E) e Tunísia (H).

Depois do dia 13 – e já apuradas outras 7 – abrir-se-á uma janela suplementar para uma espécie de final-four disputada entre os 4 melhores segundo classificados. Estes serão escolhidos no quadro de uma repescagem intercontinental que abrirá a possibilidade de a África vir a ter 10 representantes neste Mundial.

Paixão e custos elevados marcam a corrida dos adeptos ao Mundial 2026

Os cabo-verdianos – no país e na diáspora – sempre estiveram próximos dos grandes momentos da nossa seleção nacional. Foi assim em 1978, quando os Tubarões Azuis conquistaram o seu primeiro troféu, em Bissau; em 2000, pela conquista da XVI edição da Taça Amílcar Cabral; nas finalíssimas da CAN-2013, na África do Sul; na CAN-2015, na Guiné Equatorial; e na CAN-2023/24, na Costa do Marfim.

E a saga continua.

Partindo do princípio de que Cabo Verde carimbará, nesta janela de outubro (entre os dias 8 e 13), o passaporte para o Mundial de 2026, são já milhares os cabo-verdianos – adeptos fervorosos dos Tubarões Azuis – que se preparam para voltar a acompanhar a seleção nesta campanha pelos Estados Unidos, Canadá e México. Uma aventura de paixão, mas também de muitos custos.

A FIFA já iniciou a venda dos primeiros ingressos – e são, de facto, bastante onerosos. O site The Athletic revela que os bilhetes para a final de 19 de julho, no MetLife Stadium, em East Rutherford (Nova Jérsia), poderão chegar aos 6.370 dólares (USD) – mais de 600.000$00 cabo-verdianos.

Para simplificar, o mesmo site indica que a média de preços nas partidas da fase de grupos varia entre 200 e 300 dólares (20 a 30 mil escudos) por jogo. Além da partida da final, em Nova Jérsia – a mais cara de todas – seguem-se os bilhetes para os jogos de abertura, na Cidade do México, e para as meias-finais, em Dallas e Atlanta. Os ingressos mais acessíveis, lançados em setembro, custam cerca de 60 dólares (6.000$00). Contudo, a FIFA já advertiu que, ao longo das fases da competição, todos os bilhetes poderão sofrer variações de preço.

Santa Clara*

*Pseudónimo de José Mário Correia

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