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São Vicente

Incêndio nos estaleiros do Cruzeiros do Norte expõe descaso com o patrimônio imaterial do Carnaval de São Vicente

O incêndio que consumiu parte dos estaleiros do Grupo Cruzeiros do Norte, por volta das 18h desta quarta-feira,29,no Mindelo, não é apenas uma tragédia material, é um sinal de alerta para a vulnerabilidade estrutural do Carnaval de São Vicente, cuja memória, criatividade e esforço coletivo continuam à mercê da sorte e da informalidade.

Segundo Jailson Juff, presidente do grupo, há suspeitas de fogo posto. Estudantes da Escola Técnica, integrantes da batucada, relataram à imprensa ter visto um jovem fugindo do local instantes antes das chamas se alastrarem. Mas enquanto as autoridades investigam, o que ardeu não foi apenas madeira, tinta e figurinos, ardeu também o silêncio cúmplice das instituições que, ano após ano, celebram o brilho do desfile mas ignoram os bastidores precários onde esse brilho é forjado.

Acervo e estrutura de trabalho consumido pelas chamas

O Cruzeiros do Norte, campeão do Carnaval 2025 com o enredo “Farol do Atlântico, brilhante de mil luzes”, viu parte do seu acervo e estrutura de trabalho ser consumido sem que houvesse qualquer plano de salvaguarda.

Não há seguro, não há protocolo de emergência, não há sequer reconhecimento formal do valor cultural dos estaleiros como espaços de criação coletiva.

Este incêndio revela uma falha sistêmica, a ausência de políticas públicas que protejam os grupos carnavalescos como agentes culturais permanentes, e não apenas como atrações sazonais. Os estaleiros são oficinas de arte, centros de formação informal, espaços de inclusão e resistência. E, no entanto, continuam invisíveis aos olhos do poder.

A cidade de Mindelo precisa encarar o Carnaval como um projeto de cidadania, e não apenas como espetáculo.

O incêndio nos estaleiros do Cruzeiros do Norte é um chamado à ação, para que a memória não se apague, para que o esforço dos voluntários não seja em vão, e para que o brilho do desfile não esconda a escuridão dos bastidores.

João A. do Rosário

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