Nos bastidores já se notam movimentações de diversos actores políticos no sentido de garantirem um lugar elegível nas listas para as eleições legislativas do próximo ano. Os lugares são poucos e a tendência é para a velha guarda tapar o caminho aos eternos deputados suplentes. Para as presidenciais também começam a ser lançados os primeiros nomes, sendo certo que o número de candidatos vai depender dos resultados das legislativas.
O Presidente da República, José Maria Neves, vai convocar, em Janeiro próximo, o Conselho da República para a marcação da data das eleições legislativas de 2026 e, consequentemente, a data das eleições presidenciais, que deverão acontecer seis meses depois do primeiro pleito eleitoral.
De acordo com uma fonte bem informada, as legislativas deverão ser marcadas para o mês de Abril.
Contudo, mesmo sem a marcação da data das legislativas já se nota um frenesim de militantes dos dois partidos do arco do poder, no sentido de marcar posições em lugares elegíveis nas listas para deputados. Mas a tarefa não se afigura fácil, tendo em conta o manancial de candidatos para poucas vagas, principalmente nos círculos que elegem dois deputados.
E, pelas movimentações de bastidores, nota-se que alguns deputados, tanto da bancada da maioria, como da oposição deverão ter dias contados.
Caso Mircéa Delgado
O caso mais notório é, para já, o de Mircéa Delgado que está em rota de colisão com o líder do MpD, Ulisses Correia e Silva. Um outro “anticorpo” dessa parlamentar é, seguramente, o todo poderoso Augusto Neves, criticado por não ter dotado a segunda mais importante ilha do país de um plano director municipal, situação que ficou à vista com a tempestade de Agosto. Se depender de Neves, dificilmente Mircéa será incluída na próxima lista de deputados por São Vicente.
Nota-se claramente um ambiente de intriga no seio do Grupo Parlamentar do MpD, que tenta encostar essa deputada à parede, mas o partido terá que saber lidar com o elevado grau de popularidade dessa sua deputada, em São Vicente, onde é vista como uma voz que defende a população, muitas vezes contra as ideias do seu próprio partido. O MpD pode estar perante um dilema em São Vicente.
Orlando Dias
Orlando Dias é outro deputado que, meses atrás era considerado “descartável”, não só por ter desafiado o presidente do MpD, mas, também, pelas intervenções contundentes, no Parlamento, que, muitas vezes não se enquadravam na disciplina imposta pela direcção da bancada da maioria.
Mas, hoje, com 2026 à vista, nota-se uma certa moderação nas intervenções deste deputado que, certamente, pretende fazer tudo para continuar como o eleito pelo círculo de África, com base em São Tomé e Príncipe, arquipélago de que é natural.
PAICV, hora de acertar contas
No PAICV é bem provável que alguns deputados que apoiaram a candidatura de Nuías Silva, na luta contra Francisco Carvalho, não serão integrados, em lugares elegíveis, nas listas do partido com vista às eleições legislativas.
Démis Almeida deve ser um dos primeiros sacrificados, assim como o antigo líder da bancada do maior partido da oposição, João Baptista Pereira.
Quem está à procura de uma tábua de salvação é Julião Varela, que, como secretário-geral do PAICV, teve o ‘qui-pro-quo’ com elementos da candidatura de Francisco Carvalho à liderança do PAICV. Nota-se agora uma certa aproximação de Varela à nomenclatura do novo presidente do PAICV, o que lhe pode valer um lugar na lista.
Para a Europa, a situação de Francisco Pereira, que também disputou a liderança do partido, configura-se igualmente problemática. De olho seu lugar de deputado está Mário Carvalho, antigo presidente da Associação Cabo-verdiana de Lisboa, e irmão de Francisco Carvalho.
Regresso da velha guarda e eternos suplentes
Uma boa parte dos deputados do MpD são suplentes e, por isso, tentam fazer de tudo, muitas vezes com intervenções “balofas” no Parlamento mais no sentido de agradar a liderança do partido e, assim, tentar garantir um lugar de destaque nas listas. Aqui o realce vai para os chamados jovens turcos, ou cristãos novos, gente que procura, por vezes, mostrar-se mais papistas que o Papa.
O eventual regresso de Eurico Monteiro, José Luís Livramento e Jorge Figueiredo, actuais membros do Governo, para a lista de Santiago Sul, poderá atrapalhar as contas dos “eternos suplentes”, que continuam “obstaculizados” pela nomenclatura do partido e de alguns amigos pessoais de Ulisses Correia e Silva.
No PAICV poderá registar- -se um fenómeno idêntico, tendo em conta as aspirações de Filomena Fialho, que foi a mandatária de Francisco Carvalho, de Mário Paixão, vice-presidente do partido, e de Joanilda Alves, também vice-presidente, que, na próxima legislatura, podem regressar às lides parlamentares. Isto é, veteranos que parecem não querer sair da arena, o que naturalmente cria dificuldades à jovem guarda ansiosa por mostrar serviço.
Daniel Almeida
Leia a matéria na íntegra na Edição 951 do Jornal A Nação, de 20 de Novembro de 2025



