Entrevistado nesta quinta-feira no programa da Rádio Alfa “Conversa no Ponto”, o deputado do MpD defende que “se aparecer um partido novo, com boas propostas, com uma boa liderança, poderá ter bons resultados”. E admite que, “para o bem de Cabo Verde”, poderia fazer isso, numa conjuntura em que o próprio partido o expulsasse ou eliminasse das listas de deputados
Médico, deputado nacional e da CEDEAO, fundador do MpD, ex-ministro e ex-candidato às eleições internas de 2023, onde defrontou Ulisses Correia e Silva, Orlando Dias considera que as condições para a criação de um ou mais partidos existem e decorrem dos “resultados que estamos a ter, a abstenção alta e o número de indecisos”. Por isso, sustenta que “se aparecer um partido novo, com boas propostas, com uma boa liderança, poderá ter bons resultados”, mas que o problema está no financiamento.
“Um partido que comece de novo, se não tiver, pelo menos, um milhão de euros para fazer eleições, não vai conseguir resultados, vai ser completamente abafado pelo MpD e pelo PAICV. Esse é o problema de fundo. Mas, havendo disponibilidade financeira legal, conseguindo um empréstimo bancário de 100 mil contos, vai eleger, seguramente, cinco, dez, ou mais deputados”, vaticina Orlando Dias.
Orlando já se sentiu tentado, mas reconsiderou
O deputado admite que já se sentiu tentado a avançar, numa altura em que teve a “pressão de vários amigos”, mas que reconsiderou, porquanto tem um percurso político com o seu partido de sempre. “Sou fundador do MpD, tenho 34 anos de MpD, mantive sempre uma linha leal ao partido, nunca saí para voltar a entrar”, sublinha Dias.
“Para o bem de Cabo Verde eu podia fazer isso, numa conjuntura em que o próprio partido me forçasse a fazer isso, ou expulsar-me do partido ou eliminar-me das listas”, disse ainda o deputado, reiterando, contudo, que “há espaço para a criação de partidos políticos” e que “isso poderia não ser mau” para Cabo Verde.
Nada está decidido em 2026
Reportando-se às eleições legislativas de 2026, Orlando Dias diz que “as próximas eleições estão em aberto, tanto um partido como o outro pode ganhar”, considerando que “o MpD tem uma vantagem, porque está no poder, mas também tem desvantagem” por razão do “desgaste do poder”.
Quanto ao PAICV, o deputado ventoinha considera que, por causa do resultado das eleições autárquicas do passado ano, “tem alguma vantagem, quer queiramos quer não há alguma ligação” entre as duas eleições, “mas, também, tem que saber arrumar a casa depois das eleições [internas], se não se unir não ganhará”.
Contudo, Orlando Diass diz que o resultado das legislativas “também vai depender das listas, das propostas, as pessoas não devem ser excluídas. Há um conjunto de decisões que os partidos podem tomar para influenciar o resultado eleitoral. Mas, qualquer um dos partidos pode ganhar”.
E o deputado deixa, ainda, uma sugestão aos pequenos partidos: “eu aconselharia esses partidos a se unirem, a não dispersarem votos. Mas, caberia à UCID dialogar com esses partidos e irem em conjunto” para as legislativas.
Consciência crítica do MpD
Visto por muitos como “consciência crítica do MpD”, Orlando Dias foi candidato à liderança do partido nas eleições internas de Abril de 2023, tendo alcançado cerca de dez porcento dos votos expressos, mas acusando o processo eleitoral de ter sido fraudado.
Em Janeiro deste ano, na sequência de uma reunião da Direcção Nacional do MpD, foi peremptório: “Não sou candidato!”, afastando por completo a possibilidade de se candidatar às próximas eleições internas.
“Num contexto de aclamação do presidente (a primeira vez que isto acontece no partido) e não num cenário em que o mais adequado seria realizar já a convenção e respetivas eleições internas, mesmo na improvável possibilidade de tais procedimentos ocorrerem no último trimestre do ano, fica claro que o objetivo é impedir que qualquer candidato possa disputar a liderança com Ulisses Correia e Silva, ao mesmo tempo que promovem a sua entronização”, escreveu Orlando Dias num pronunciamento público.
Ainda segundo esse pronunciamento, o deputado não deixa margem para dúvidas: “sem as mínimas garantias de liberdade no debate de ideias, de confronto democrático e de realização de eleições justas e limpas, não estou disponível para vivenciar o mesmo de 2023, com o descarregamento generalizado de votos e a desigualdade de tratamento dos candidatos, com o meu então opositor a socorrer-se de recursos do Partido e do Estado para fazer a sua campanha”.
c/ Rádio Alfa
