Por: Olímpio Tavares*
A alimentação constitui uma das bases essenciais da sobrevivência humana. No entanto, se não for feita de forma saudável pode contribuir para que tenhamos uma péssima qualidade de vida, tanto a nível físico com a nível psicológico.
O intento desta reflexão é mostrar que maior parte dos produtos consumidos pelos nossos alunos no recinto escolar não são saudáveis, e, sendo assim, acabam por condicionar negativamente a aprendizagem, o rendimento escolar e a saúde dos mesmos. Prosseguirei a minha reflexão com a discussão de algumas alternativas que considero necessárias para resolver essa situação a favor das pessoas que vendem esses produtos e, consequentemente, dos alunos.
Creio que na maior parte das escolas deste país há pessoas que vendem na rua das mesmas, a fim de ganharem o seu sustento. Em relação a este aspeto, não tenho nada contra. Mas sou contra a maior parte dos produtos que vendem porque, além de serem açucarados e com excesso de gorduras trans, são sobretudo pobres em nutrientes. E tendo em conta que esses alimentos não provocam a saciedade desejada porque são pobres em fibras e gorduras boas, faz com que os nossos alunos os consomem a cada intervalo que passa, provocando assim distúrbio alimentar altamente nocivo para o organismo.
Ora, como se sabe, o organismo humano está formatado há milhares de anos para comer de 5 em 5 horas, em média, e não hora a hora. Quando o indivíduo respeita as 5 horas, isso faz com que se processe toda a digestão e ainda permite o estômago descansar durante algum tempo, beneficiando o organismo como um todo.
Por outro lado, quando se consome produtos alimentares a cada hora que passa, o nosso organismo fica mais lento, o nosso estômago está em constante trabalho, o que pode provocar a longo prazo problemas gravíssimos, além de picos constantes de insulina, que acaba por atrapalhar a capacidade de concentração na sala de aula, no caso dos alunos.
Como os produtos alimentares que se vendem nos arredores da escola não são saudáveis, pelo menos na sua maioria, então quais seriam as alternativas?
Uma das alternativas seria a negociação entre a direção da escola e as vendedeiras, no sentido destas passarem a vender alimentos saudáveis, que contribuem para a saciedade dos alunos e estes passarem a comer menos e menos vezes. É óbvio que essa negociação não se afigura nada fácil. Exige muita coragem da equipa diretiva, no sentido de levar esse intento a bom porto.
Outra alternativa seria fortalecer a cantina interna, de forma que os alunos possam ter acesso a alimentos fornecidos com base no critério da “alimentação saudável”. Esta opção colocaria as pessoas que vendem na rua em desemprego. O que fazer? Uma alternativa seria a escola contratar esse pessoal para trabalhar na cantina, auferindo assim um salário mensal fixo, que na realidade seria mais baixo que o rendimento que auferem na rua, mensalmente. Isso constitui um motivo forte para rejeitarem essa proposta, e, neste ponto, têm razão. Por isso, essa alternativa não se afigura nada fácil. Então o que fazer, mais uma vez?
Talvez aqui seria a vez do Estado intervir no sentido de encontrar uma solução mais confortável para essas pessoas, e possivelmente mais sustentável a longo prazo. Mas os resultados dessa negociação não se mostram nada fácil para ambos os lados. Da parte do Estado, dificilmente tem uma alternativa de emprego que supere o rendimento das vendedeiras. E o que fazer ainda? Talvez tentar a alternativa do autoemprego, empreendedorismo, como forma de ultrapassar essa situação. Mas isso “obriga” o Estado, de certa forma, a financiar a formação, de preferência a fundo perdido, de forma que as vendedeiras possam ter uma alternativa qua vai ao encontro das suas necessidades. Mesmo neste caso, os resultados das negociações não se afiguram nada fácil.
Para ser sincero, julgo que não é fácil encontrar alternativas ideais que as vendedeiras possam aceitar. Mas uma coisa é certa, é preciso encontrar as alternativas necessárias que ambas as partes saem a ganhar. Ou seja, garantir que as vendedeiras possam ter um rendimento aceitável e, ao mesmo tempo, os alunos terem acesso a uma alimentação saudável, que favorece o seu desenvolvimento integral.
*Mestre em Supervisão Pedagógica
omendes2030@gmail.com
