Por: Pedro Ribeiro
Indústrias Criativas são as atividades que têm a sua origem na criatividade individual, habilidade e talento e com potencial de criação de emprego e riqueza, através da geração e exploração da propriedade intelectual. O desafio da aposta nas indústrias criativas passa por conceber o desenvolvimento das ilhas através da ligação entre a economia e a cultura, combinando aspetos económicos, culturais, sociais, anbientais e tecnológicos. Trata-se de criar, com base na criatividade, inovação e propriedade intelectual, produtos e serviços distintivos, que permitam o reposicionamento na cadeia de produção mundial, atraindo e retendo talento e capital para um desenvolvimento económico sustentável.
Qual o valor das indústrias culturais?
As indústrias criativas constituem um fator estratégico de competitividade e progresso; setor gerador de emprego, riqueza e valor; meio de reforço da cidadania e diversidade; alavanca de coesão social e territorial; veículo de afirmação internacional das comunidades. O conceito de Indústrias Culturais e Criativas é vasto e diverso e abarca um conjunto de atividades que têm em comum a utilização da criatividade e inovação, do conhecimento cultural e da propriedade intelectual como recursos para produzir bens e serviços com significado social e cultural, como sejam as artes performativas e visuais, o património cultural, o artesanato e a joalharia, o cinema, a rádio, a televisão, a música, a edição, o software educacional e de entretenimento e outro software e serviços de informática, os novos média, a arquitetura, o design, a moda e a publicidade. Apresenta algumas características diferenciadoras face aos restantes setores da economia, designadamente: um setor constituído maioritariamente por indivíduos, microempresas e PMEs que trabalham em cadeias de fornecimento complexas, que combinam atividades comerciais com atividades précomerciais (anticomerciais) e que dependem, em grande parte de redes informais por onde fluem as ideias criativas; constitui muitas vezes negócios de nicho altamente especializados que criam valor pela conjugação de inovação tecnológica e criatividade no desenho e definicao de novos produtos e servicos culturais; os seus activos são invisíveis e voláteis: talento, reputação e marca e grande parte da infraestrutura crítica a estes negócios é exterior às empresas; apresenta um perfil de negócio pouco reconhecido pela banca, investidores e governo, sendo por vezes desvalorizado em detrimento de outras atividades consideradas “mais rentáveis.
Como reconhecer iniciativas nacionais?
As indústrias criativas são consideradas importantes para o desenvolvimento económico e social podendo contribuir para o reforço da competitividade de Cabo Verde, sendo de destacar: a sua relação com o Turismo: o número de turistas culturais tem vindo a crescer, o que num país com vasto património histórico e arquitetónico vomo nosso, constitui uma oportunidade para a criação de destinos turísticos únicos, designadamente associados a experiências criativas com forte componente interativa; o impacto das indústrias criativas, do turismo cultural e do marketing cultural na dinamização, regeneração económica, na regeneração urbana (arquitetura e ordenamento biofísico e do território), na competitividade e projeção internacional dos centros históricos e das cidades; a existência de uma classe de “pessoas criativas”, com espírito empreendedor, com competências, informação, conhecimento e talento capazes de potenciar a inovação e aposta na tecnologia; o contributo das indústrias criativas para a criação de produtos e servicos com características tecnicas essenciais distintas e valor acrescentado, que os possam tornar competitivos, alguns dos quais em setores relevantes para a economia nacional, como o mobiliário ou as indústrias dos têxteis, vestuário e calçado, onde o design, as marcas e a publicidade assumem um papel cada vez mais significativo; a articulação das indústrias criativas com as TIC que coloca verdadeiros desafios, não só em termos de criação e procura de novos conteúdos, como de novas formas de interação, transformando modelos de consumo e formas de comunicação, divertimento e lazer; existem casos a nível nacional e local identificados onde os investimentos estratégicos nestes sectores obtiveram resultados espetaculares. Em especial, eventos como festivais e as Capitais Cabo-verdianas da Cultura produzem importantes benefícios económicos que, por vezes, induzem ganhos superiores a dez vezes cada escudos investido; existe um reconhecimento crescente, nas últimas décadas – fora e dentro do campo cultural – da importância económica e social dessa nova atividade económica; o potencial da cultura nas estratégias de desenvolvimento regional deve ser apoiado, com recurso a investimentos em infraestruturas culturais (objetivos de política urbana integrada sustentáveis) e tendo em conta a sua capacidade para criar novo emprego e desenvolvimento económico.
A palavra-chave: empreendedoríssimo cultural
O empreendedorismo cultural faz exatamente isso: une ideias de negócios com a valorização da cultura. Nesta tipologia de empreendedorismo, o foco está em criar projetos culturais que utilizam expressões criativas para desenvolver a economia -, uma maneira de fazer negócio e valorizar o retorno financeiro e o crescimento social e cultural.
Como o fomentar?
Os empreendedores culturais buscam a criatividade e inovação e desenvolvimento com soluções que tragam resultado para o setor. Ademais, buscam impacto cultural nesse processo. Ao investir em um projeto cultural, o foco não está apenas nos números, mas em como aquela ideia pode inspirar, educar e conectar pessoas.
Como financiar?
os investimentos apoiados pelos Organismos Internacionais, MIC e Fundos do Turismo, do Ambiente e Fundo Rodoviario (sobretudo em infraestruturas técnicas de Museus, Bibliotecas, Teatros e Centros Culturais) contribuíram para a existência de uma rede cultural densa e atualizada; o setor cultural abriu-se à cooperação, gerando efeitos colaterais e benefícios noutras áreas como o desenvolvimento urbano, económico e a inclusão social; a integração da cultura permitiu novas formas de comunicação e cooperação inter-departamental, sobretudo entre instituições culturais e económicas; uma nova geração de PME,s das indústrias criativas iniciou, nas últimas decadas, atividades na área dos serviços do património, digitalização, desenvolvimento local, design, educação e formação artística, audiovisual, turismo cultural, etc. Startups que apostam na excelência de serviços e produtos, tem influencias claras noutros setores; a presença do Terceiro Sector (associações, fundações, sua redes e outras ONG´s) no setor cultural é importante, especialmente nas regiões de convergênca -, barlavento e nas áreas tradicionais da cultura; estas novas industrias integram nos seus recursos humanos alguns dos caboverdianos mais qualificados; existem algumas redes profissionais no setor cultural e criativo, sobretudo ao nível das ilhas (artes performativas e artes visuais, património) que têm revelado capacidade para implementar projetos com sucesso; existe um claro reconhecimento da cultura e da criatividade (aliada a Inovação) com recursos fundamentais para o desenvolvimento de Cabo Verde; Cabo Verde tem uma imensa produção criativa e, ao mesmo tempo, beneficia de múltiplas oportunidades de crescimento económico que são criadas pela sua abertura ao mundo e pela sua diáspora; a economia criativa é vista como um dos principais pilares da estratégia de Cabo Verde para a criação de uma economia dinâmica, inovadora, competitiva e sustentável e também pode contribuir para que as comunidades tenham uma nova perceção do potencial da cultura como ancora para a geração de rendimentos; a associação da nossa cultura às relações comerciais tem uma vantagem comparativa imediata que advém do facto da cultura caboverdiana ser única e genuína, mas isso é válido para todos os países do mundo que façam a mesma abordagem e, portanto, compete os decisores politicos e, principalmente, aos proprios empreendedores criativos concretizar e comprovar de forma sistemática as vantagens da integração dos produtos e serviços criativos nas cadeias de valor. Em conclusao, as indústrias criativas constituem um tema de grande atualidade no país, e aparece como um desafio de todos transformar a cultura e a criatividade caboverdianas no principal motor de crescimento e desenvolvimento do país.
