A crise laboral na TACV, que teve como seu ponto alto a greve recente dos pilotos, continua a opor essa categoria e o PCA da companhia, Pedro Barros, com ameaças de novas paralisações. Barros considera que as “reivindicações” dos pilotos, a serem atendidas, significam “matar a galinha de ovos ouro”.
Questões relacionadas com o seguro e consultas, que estavam na base das reivindicações dos pilotos, segundo um comandante da TACV, o PCA da companhia, Pedro Barros, continua a ignorá-las, depois de, há um ano, terem chegado a acordo sobre essas duas matérias.
Como alega essa e uma outra fonte, aquando da paralisação dos pilotos, Pedro Barros “quis passar para a opinião pública de que a greve se deveu a questões salariais quando, na verdade, há muito já se tinha chegado a um entendimento de que a questão salarial seria tratada numa outra altura”.
Por outro lado, as alegadas tentativas de “aliciamento” a alguns pilotos, por parte da administração da TACV, terá agudizado as relações já “azedas” entre essa classe e o PCA da empresa.
“Pedro Barros”, disse um dos visados ouvidos pelo A NAÇÃO, “fez questão de não acatar nenhuma das orientações da tutela, no sentido de se sentar com os pilotos, na perspectiva de se chegar a um acordo”, desautorizando com isso o próprio ministro, José Luís Sá Nogueira.
Linhas que continuam adiadas
“Tirando as rotas que apareceram no verão, fruto da demanda dos operadores turísticos (Porto, Barcelona) não se entende como, depois de dois anos, a TACV não conseguiu retomar as rotas como Fortaleza, Nice e mesmo Boston”, aponta o nosso interlocutor. “Os dois Boeings continuam com poucas horas de utilização apenas com as rotas fixas de Lisboa e Paris”.
Se é verdade que a Covid 19 alterou os planos da TACV em particular as rotas de expansão que estavam previstas no Business Plan da Icelandair não é menos verdade que após a crise e com a saída dos islandeses a empresa tarda em recompor-se.
Para os pilotos, o Governo tem insistido na nomeação de pessoas para a Administração da TACV “sem o mínimo conhecimento da aviação” e “isso acaba por se reflectir no plano comercial da empresa e, por acréscimo, na incapacidade da empresa gerar receitas que possam garantir, minimamente, os custos operacionais da companhia”.
Falta de agressividade
A TACV concentra, actualmente, todas as suas operações no mercado português onde sofre a dura concorrência da TAP, SATA (Açores), Royal Air Marrocos e agora a low cost EasyJet.
“A falta de agressividade comercial tem feito com que novas rotas não apareçam a não ser aquelas que no verão as operadoras turísticas acabam por introduzir, casos do Porto e Barcelona. Não abrindo novas linhas regulares fica comprometida a capacidade da empresa gerar receitas que cubram os custos operacionais e daí a necessidade do Governo continuar a injetar avales uns atrás dos outros”, desabafa.
“Na área Operacional e de Qualidade a empresa não tem conseguido reunir as condições para readquirir o certificado ETOPS e enquanto isso não acontecer os voos para Fortaleza e Boston continuam sendo uma miragem”, frisou o nosso interlocutor, sublinhando que o pessoal técnico-operacional se queixa frequentemente da ingerência do PCA numa área que desconhece completamente”.
Voos domésticos
Enquanto isso, aguarda- -se pela entrada em funcionamento da nova companhia para voos domésticos. No dizer da nossa fonte, conhecendo a morosidade e o excesso de burocracia da Agência de Aviação Civil (AAC), na emissão de certificações e licenciamentos “não se espera que a nova empresa esteja operacional antes do final do ano”.
Pedro Barros alerta para os riscos de se matar a “galinha de ovos de ouro”

Pedro Barros – PCA dos TACV
Confrontado com as reclamações dos pilotos, o PCA dos TACV, Pedro Barros, adverte que atender as reivindicações dessa classe, neste momento, seria “matar a galinha de ovos ouro”, com prejuízos para “todos os colaboradores da empresa”.
Boas relações com Sá Nogueira
Pedro Barros garante que, enquanto PCA dos TACV, mantém um “óptimo” relacionamento com o ministro José Luís Sá Nogueira. “Essa boa relação é extensiva a nível pessoal e as nossas relações profissionais e pessoais vêm desde os anos 90”.
Confirma, entretanto, “que houve orientações do Governo, através do Sr. Ministro, para discutir e negociar com os pilotos todas as reivindicações a fim de chegarmos a entendimentos e evitarmos a greve”, afirmando que, além disso, o CA da empresa “não tinha e não tem nenhum interesse na realização da greve seja de pilotos e ou qualquer classe profissional”.
Seguros e outros problemas Aquele gestor garante, ainda, que “não foi ignorado por nós nenhum acordo sobre os seguros simplesmente porque a existir o mesmo não é do nosso conhecimento. Os seguros existentes na companhia são, neste momento, os mesmos que estão em vigor desde 2021. Por isso, só faz sentido falarmos de ignorar um acordo que não existe”.
“Aliás uma das reivindicações do sindicato de pilotos é a reposição do capital seguro existente antes de 2021 e alargamento ao seguro de vida e assistência em viagem. Estamos precisamente neste momento em discussão e prestação de esclarecimentos envolvendo companhias seguradoras para que possamos chegamos a acordo que não mereça posteriores reclamações”, enfatizou.
“Por acaso, apenas referimos à progressão salarial reivindicada e em nenhum momento dissemos de que a greve se deveu a questões salariais, mas, já agora, sendo o Acordo de Empresa a reivindicação principal dos pilotos, é onde consta uma proposta de aumento brutal do salário base e dos subsídios, com propostas de inclusão de 13º e 14º meses, totalizando aumentos que ultrapassam os 30%, a somar aumentos de licença parental de 90 dias úteis para a mãe e 10 dias para o pai para até 150 dias, aumento de 22 dias para 32 dias úteis de férias remuneradas, passagem para 15 dias seguidos de faltas justificadas por altura do casamento, em vez dos 6 dias legais, entre outras. Pelo que acabo de dizer achamos justo pedir aos pilotos que provem de que não estamos perante uma reivindicação de aumento salarial”, instou.
Sobre o alegado aliciamento de pilotos para não aderirem à greve, Barros diz que “é evidente que essa afirmação não faz sentido”. Admite a possibilidade de ter havido “uma deturpação, consciente ou inconsciente”, do alcance duma mensagem enviada pela Direção dos Recursos Humanos a perguntar a cada um dos pilotos sobre quem iria aderir à greve. “A mensagem tinha um propósito muito simples. Quando se adere à greve há perda de retribuição. Não é justo, por exemplo, que sejam retiradas retribuições a pilotos que durante a semana de greve estavam ocupados em treinos nos simuladores ou em formação no país ou no estrangeiro. Este procedimento teve apenas como objetivo a gestão administrativa”.
Matar a ‘galinha de ovos de ouro’
O PCA da TACV fez questão de referir que, as reivindicações dos pilotos , “não são sustentáveis e, a serem atendidas pelo acionista (Estado), seria, como diz um ditado popular em ditado popular ‘matar a galinha de ovos de ouro’, com prejuízos naturalmente para todos os colaboradores da empresa”.
E continua: “O que podemos dizer é que os resultados da TACV durante o ano de 2024 falam por si e vêm na continuidade dos alicerces lançados pela administração anterior. É visível e notório por todos os que utilizam os serviços da TACV sejam cabo-verdianos e ou estrangeiros que nos visitam qual o nível da nossa prestação”
“Sem falsa modéstia”, Barros reconhece que a empresa ainda não atingiu o nível de excelência que os passageiros merecem, mas, “para lá caminhamos e todos os colaboradores, sem excepção, nos quais se incluem obviamente os pilotos de tudo fazem para que a companhia preste e melhore a cada dia que passa a sua performance”.
“É nesse sentido que estamos a trabalhar para que brevemente estejamos a abrir novas rotas, nomeadamente a tão desejada ligação para os EUA e Brasil, assim como algumas outras cidades europeias e ainda este ano faremos ligações a alguns países africanos”, finalizou.
Daniel Almeida
