Sandeney Fernandes, o coordenador da UASE, está no centro de um conjunto de novas denúncias envolvendo alegadas práticas de favorecimento pessoal, gestão arbitrária de recursos públicos, perseguições laborais e até assédio no local de trabalho. As acusações, sustentadas por documentos a que A NAÇÃO teve acesso, apontam para uma cultura de impunidade e desigualdade na gestão daquele organismo tutelado pelo Ministério das Finanças.
Duas ex-trabalhadoras da Unidade de Acompanhamento do Sector Empresarial do Estado (UASE) moveram processos internos e judiciais contra o coordenador desse organismo público, Sandeney Fernandes, complicando ainda mais a situação deste jovem quadro economista, tido como um dos homens do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia.
Uma das funcionárias interpôs uma acção administrativa no 3º Juízo Cível da Comarca da Praia, alegando perseguição, assédio moral, redução salarial de 65 mil escudos e diminuição do prazo contratual como forma de despedimento antecipado, sem justa causa nem indemnização.
Uma outra funcionária, também processou a UASE em 2024, alegando ter sido demitida de forma injusta e retaliatória, após a renovação do contrato. Segundo esta cidadã, o coordenador da UASE usou de “argumentos inconsistentes” e tratou casos idênticos de maneira desigual para justificar a sua dispensa.
Tratamento desigual e assédio
Fora esses dois casos, afirmam os denunciantes que outros colaboradores da UASE relataram situações em que estiveram sem receber salários por mais de seis meses, além de fortes disparidades salariais dentro da Unidade, determinadas alegadamente pelo “gosto pessoal” de Sandeney Fernandes. As mesmas fontes referem-se ainda a um “clima de medo e silêncio”, motivado por receios de represálias e prejuízos nas carreiras, especialmente entre trabalhadores com vínculos precários.
De salientar que as denúncias vão além da gestão financeira. Há, com efeito, relatos de assédio moral e sexual envolvendo o coordenador, cuja conduta neste quesito, segundo essas vozes, é alegadamente conhecida dentro do Ministério das Finanças.
Internamente, contam nossas fontes, a UASE não dispõe de um quadro efectivo de pessoal, mas funciona com base num despacho interno que regula os salários. As denúncias indicam que Sandeney decide pessoalmente os montantes salariais de forma arbitrária e consoante a sua preferência e simpatias.
Reincidências
Foi notícia em Maio último que o coordenador da UASE está a ser investigado por suspeitas de corrupção, tráfico de influências e favorecimentos pessoais, durante o exercício do cargo, que ocupa há cerca de cinco anos. As denúncias apontavam que Sandeney Fernandes terá usado a sua posição para beneficiar amigos e familiares com empregos e nomeações, e que terá participado de forma irregular na compra de acções da Caixa Económica de Cabo Verde (CECV), actuando simultaneamente como representante do Estado e comprador.
A Polícia Judiciária chegou a realizar buscas na sede da UASE e na residência do visado, apreendendo documentos e equipamentos. A investigação foi motivada por indícios apontados num relatório da Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários (AGMVM) envolvendo as suspeitas relativas à venda de um lote importante de acções da CECV (ver página A06).
Contactado por este jornal na altura, o visado recusou-se a comentar as suspeitas que pairam sobre ele. “Já percebi o filme e, claramente, não vou falar”, disse, encerrando a chamada. O certo é que apesar destes escândalos, Sandeney Fernandes é mantido no cargo, facto que já terá causado algum embaraço a Olavo Correia, inclusive, junto dos seus colegas do governo.
Geremias S. Furtado
