Assinalando os 50 anos da Independência de Cabo Verde, a Universidade do Mindelo promoveu uma homenagem a Pedro Pires, outorgando-lhe a distinção de Doutor Honoris Causa (Por Causa Honra da) pelos “mais de 70 anos de entrega a Cabo Verde”, conforme referiu o presidente da República. Mas o elogio académico esteve a cargo de António Sampaio da Nóvoa, professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, da qual foi reitor, que expressou a sua admiração pelo homenageado e considerou a luta de libertação “grande parte” da origem do 25 de Abril.
A cerimónia de homenagem a Pedro Pires começou com um desfile de académicos e estudantes da Universidade do Mindelo (Uni-Mindelo), acompanhados de representantes de instituições universitárias de Cabo Verde, de Portugal e de outros países, destacando-se o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, mas também o próprio Pedro Pires e o seu padrinho na cerimónia de doutoramento, o escritor e jurista Germano Almeida.
Uma vida e uma história que mudou dois países
Sampaio da Nóvoa começou por expressar a sua admiração por Pedro Pires, “a nossa comum admiração, por uma vida e uma história que mudou Cabo Verde e Portugal, e muito para além dos nossos dois países”.
Aludindo directamente à distinção, Sampaio da Nóvoa explicou o seu significado e traduziu o latim de Honoris Causa para a língua portuguesa: “Por causa de honra, por causa honrada”.
O académico, fazendo referência aos tempos em que foi reitor da Universidade de Lisboa – e dirigindo-se ao homenageado dizendo “a sua universidade, comandante Pedro Pires” –, altura em que participou em várias cerimónias de doutoramento Honoris Causa a “personalidades extraordinárias”, destacou os ex-presidentes da República Portuguesa Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.
Fazendo uma analogia entre os três primeiros chefes de Estado portugueses, após o 25 de Abril, e Pedro Pires, Nóvoa enfatizou: “idêntico gesto se cumpre aqui hoje, por ocasião dos 50 anos da Independência de Cabo Verde, com a outorga deste título a Pedro Pires”. Nesta parte da intervenção, Sampaio da Nóvoa, dirigindo-se ao homenageado disse abrir um parêntese para, da parte do general Ramalho Eanes, apresentar uma saudação.
Sob o olhar da esperança
Referindo-se à luta de libertação nacional, Sampaio da Nóvoa considerou que ela “foi, também, decisiva para nós, portugueses, pois nela está grande parte da origem da Revolução dos Cravos, desse dia maior da nossa liberdade, o 25 de Abril”.
“O comandante Pedro Pires é o rosto da luta contra o colonialismo, é a voz da Independência de Cabo Verde”, disse ainda Sampaio da Nóvoa, sublinhando “a importância do seu papel no meu próprio país” e manifestando-lhe reconhecimento e gratidão.
Por sua vez, José Maria Neves destacou a “grandeza da obra” de Pedro Pires “nos mais de 70 anos de entrega a Cabo Verde”, referindo que a atribuição do título Honoris Causa é uma “justa homenagem” e que “passados os 50 anos, temos de prestar homenagem, sim, àqueles homens e mulheres que se dedicaram ‘de corpo e alma’ à causa da independência, à causa da libertação do povo de Cape Verde da subjugação colonial”, salientando que “dentre eles, eleva-se com certeza a figura de Pedro Pires”.
Por fim, o homenageado, Pedro Pires, afirmou-se honrado com a distinção da Uni-Mindelo: “Considero cumprido o nosso compromisso político e ético com o povo cabo-verdiano. Do meu ponto de vista, Cabo Verde independente tem vindo a registar resulta dos muito dignos. Cresceu, desenvolveu-se em todas as esferas da vida pública e social, atingiu um índice de desenvolvimento humano extraordinário, tendo em conta a sua dimensão e as parcas riquezas materiais de que dispunha e dispõe”.
António Alte Pinho
Texto publicado na edição 932 do Jornal A Nação, de 10 de julho de 2025
