Os deputados do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Eva Ortet e Luís Pires, eleitos pelo círculo do Fogo, manifestaram profunda preocupação com a situação do sector agrícola na Ilha do Vulcão, alertando para desafios graves que comprometem o desenvolvimento da agricultura e a segurança hídrica para a rega.
Em declarações no final de uma visita ao círculo, no quadro da preparação do debate sobre o Estado da Nação, os parlamentares classificaram o estado actual da agricultura como “crítico”, sublinhando a escassez de mão-de-obra e a incerteza quanto à campanha agrícola, mesmo que ocorram chuvas.
Eva Ortet e Luís Pires destacaram que há receio de que, tal como no ano anterior, muitos campos fiquem por cultivar devido à falta de trabalhadores.
Gestão da água sem apoio do Governo
O abastecimento de água para a agricultura foi outro ponto central das preocupações. Durante a visita à empresa Águabrava, responsável pela gestão da água, os deputados constataram dificuldades financeiras muito sérias, já que a transferência da gestão de água para a agricultura não foi acompanhada de um plano de apoio eficaz por parte do Governo.
Actualmente, o custo de produção da água atinge cerca de 190 escudos por metro cúbico, mas a que é vendida para fins agrícolas custa apenas 70 escudos, o que representa um prejuízo, para a empresa, de 120 escudos.
Apesar dos investimentos próprios da Águabrava em prospecção de água subterrânea, os parlamentares reconhecem que a empresa não tem conseguido expandir a área irrigada nem responder à crescente demanda, o que compromete qualquer projecto de expansão agrícola na ilha.
Falta de subsídios agrava crise no sector
Além disso, Eva Ortet e Luís Pires acusam o Governo de ignorar os pedidos de subsídio à electricidade utilizada na bombagem de água, lembrando que os custos energéticos são um dos maiores entraves à sustentabilidade do sistema de rega.
“Não há como falar de desenvolvimento agrícola sem um sistema de irrigação eficiente e acessível”, salientaram os parlamentares.
Infra-estruturas abandonadas
Os deputados lamentaram, ainda, a ausência de respostas por parte do Governo em conceder isenção da taxa de perfuração solicitada pela Águabrava e o abandono de um parque fotovoltaico que poderia contribuir para a redução dos custos energéticos da empresa.
A crise atinge também outras infra-estruturas, como o centro pós-colheita, que permanece inactivo há quase 10 anos. A Câmara Municipal de São Filipe já teria solicitado ao Governo a gestão do espaço para o colocar ao serviço dos três municípios da ilha, mas o pedido foi recusado, levando à contínua degradação do edifício.
Para os deputados do PAICV, a responsabilidade pela crise no sector agrícola não pode ser transferida apenas para as autarquias nem para a Águabrava. “A Águabrava não tem a responsabilidade de promover a agricultura. Essa é uma tarefa do Governo”, salientaram os parlamentares, alertando que, apesar de tudo, a empresa tem adoptado medidas para minimizar os impactos financeiros negativos.
Adelise Furtado
*Estagiária
C/Inforpress
