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Angola: Greve de taxistas termina em 22 mortes e mais de mil detenções após confrontos

Luanda viveu três dias de forte tensão durante uma greve de taxistas que se transformou em uma onda de violência urbana com caráter político. O governo angolano confirmou a morte de 22 pessoas, incluindo um policial, além da detenção de 1.214 manifestantes nos protestos, que se espalharam por outras províncias como Benguela, Huambo, Huíla e Icolo e Bengo.

A paralisação, iniciada como reação ao aumento do preço dos combustíveis — que impacta diretamente o transporte público informal, especialmente os táxis coletivos conhecidos como “candongueiros” — rapidamente deu lugar a saques, confrontos com a polícia e atos de vandalismo.

Apesar da presença de forças de segurança nas ruas da capital, jovens continuaram a desafiar os agentes, bloqueando vias, saqueando lojas e incendiando veículos.

A onda de saques prossegue nesta quarta-feira (30), em várias áreas de Luanda, assim como nas províncias do Bengo e de Icolo e Bengo. Nos tumultos, há cidadãos que desafiam os disparos das forças de defesa e segurança.

Segundo relatos colhidos pela imprensa local, o aumento do custo de vida e a falta de resposta governamental acirraram o clima de revolta.

Gildo Matias, ouvido pela reportagem da RFI, afirmou que “quando sobe o combustível, os preços da cesta básica também sobem. Foi uma forma errada, mas foi a única maneira que encontramos para nos manifestarmos. A vida está muito difícil”.

Vandalismo

Outro morador, Hugo Guimarães, testemunhou os confrontos no bairro Caop-B, em Viana. “Nem todos os que estavam na rua eram manifestantes. Alguns aproveitaram os protestos para invadir armazéns e saquear, dizendo que faziam parte da manifestação. Mas a polícia também agiu mal, porque não é correto disparar contra o povo”, afirmou.

197 feridos só nas últimas 48h

Em declaração oficial, o ministro do Interior de Angola, Manuel Homem, destacou que os atos de vandalismo colocaram em risco a segurança pública não apenas em Luanda, mas também em cidades do interior. Nas últimas 48 horas, além dos mortos e detidos, foram registrados 197 feridos.

“Nos últimos dois dias, registraram-se ações que configuram atos de vandalismo e que colocaram em risco a segurança pública da província de Luanda, com destaque também para as províncias do Huambo, Benguela e Huíla”, afirmou.

O Ministério do Interior informou que as forças da ordem seguem mobilizadas para garantir a normalidade da vida social no país. No entanto, os eventos levantam questões sobre a resposta do Estado às demandas populares, a escalada da repressão e o papel da juventude na luta por condições básicas de vida.

O ativista Rafael Marques afirmou à agência Lusa que a única pessoa que parece ter cabeça para pensar no país é o Presidente, que, segundo ele, não sabe governar, é extremamente incompetente e se cercou de pessoas tão incompetentes quanto ele.

Ele acrescentou que “nada funciona no país” e que essa é a razão pela qual há atualmente “uma verdadeira crise de segurança pública em Luanda”. De acordo com o ativista, atos básicos de vandalismo foram suficientes para isolar o centro da cidade e transformar áreas urbanas periféricas em zonas de desordem. Marques ainda considera que essa situação pode se agravar, pois agora as pessoas percebem as fragilidades do próprio regime.

O que começou como uma greve por preços justos pode facilmente se transformar em protesto contra mecanismos de exclusão, revelando uma realidade muitas vezes ignorada pela imprensa internacional.

C/RFI

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