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Sociedade

Rosana Almeida sob ataque digital

Esta semana a jornalista Rosana Almeida foi alvo de recorrentes ataques nas redes sociais, na sequência de uma reportagem publicada no jornal da noite de segunda-feira, 28, da Televisão pública sobre a apresentação do projecto do Hospital de Cabo Verde

À margem da apresentação do projecto, a jornalista tentou ouvir o primeiro-ministro, que se esquivou da pergunta, delegando a responsabilidade ao ministro da tutela. Jorge Figueiredo, incomodado, é então questionado se, por aquilo que foi anunciado antes, o hospital não deveria estar a ser inaugurado.

A jornalista recorda, na reportagem, que o mesmo projecto foi apresentado anteriormente, na ilha do Sal, em 2019, depois em Março de 2021 e agora na Praia.

A sua abordagem ao assunto não agradou pessoas próximas ao MpD, e foi alvo de diversos ataques e acusações de frete partidário.

Na sua conta do Facebook, Rosana Almeida lamentou o que considera uma “digladiação” da pessoa nas redes sociais, mas deixou claro que, apesar do respeito por todos, não tem medo.

“Continuo a exercer a minha profissão como sempre fiz, trabalhando para todos os cabo-verdianos. Queremos um Cabo Verde com menos violência e que de preferência a violência não parta de pessoas que, à partida, sua missão é promover uma cidadania correta”, sublinhou

A mesma diz ainda ter a consciência tranquila de nunca ter vendido a alma em troca de cartão político e prometeu resolver certos comentários em fórum próprio, ou seja, por meio de processo-crime.

Num desses comentários foi escrito, no Facebook, por Armindo Lélis, conhecido cidadão salense, apoiante do MpD e que já ocupou várias funções no Estado – a jornalista é comprada a uma “cadela no cio”. “Não poucas vezes a jornalista Rosana Almeida, que parece uma cadela no cio, tem manifestado um assédio flagrante aos membros do governo”, escreveu.

Horas depois, Lélis pediu desculpas, pela mesma via, admitindo que “o termo utilizado foi infeliz”. Em nova publicação, retifica a crítica e diz que a jornalista age “de forma raivosa” em suas abordagens a membros do executivo.

Direção da TCV se pronuncia

Em comunicado divulgado esta quarta-feira, a direcção da TCV repudiou, “com veemência”, as críticas “vis, injustificadas e teor por vezes obscenos” dirigidos à Rosana Almeida.

“Infelizmente, o que se tem assistido nas redes sociais é de um destilar de ódio sem precedentes e a tentativas de linchamento público de uma profissional da comunicação social, o que representa um ataque à própria estação pública de televisão”, sublinhou em nota assinada pela directora Dina Ferreira.

A TCV recorda que Cabo Verde dispõe de instituições reguladoras competentes, que têm pautado a sua ação pela defesa de uma comunicação social ética, equilibrada e isenta. Por isso, diz, é inaceitável que, em nome de interesses alheios ao jornalismo, determinadas figuras que deveriam adoptar posturas de ponderação e responsabilidade, contribuam para a instigação de ataques pessoais contra jornalistas no exercício das suas funções.

AJOC condena ataques

A Associação dos Jornalistas de Cabo Verde – AJOC – saiu em defesa da classe, de forma geral, e da jornalista Rosana Almeida, a quem manifestou toda a solidariedade.

“Trata-se de uma agressão injustificável e preocupante, tanto mais quando parte de figuras conhecidas da nossa sociedade, que deveriam, no mínimo, por dever cívico e institucional, ser defensoras do respeito pelo exercício livre da profissão jornalística”, condenou.

De acordo com a AJOC, este episódio acontece num contexto em que os profissionais da comunicação no país têm sido alvos de agressões verbais e tentativas de intimidação constantes. “Esta forma vil de silenciamento não pode, em momento algum, ser normalizada ou tolerada numa sociedade democrática. O silêncio de figuras políticas com responsabilidades é preocupante”, acrescentou a AJOC.

A associação sindical pediu ainda o envolvimento de todos os jornalistas na defesa da liberdade de imprensa e na defesa dos princípios que norteiam o jornalismo “sério, livre e comprometido com a verdade dos factos”.

Natalina Andrade

Publicado na Edição 935 do Jornal A Nação, de 31 de julho de 2025

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