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Amor em tempo de tragédia 

Por: Jorge Eurico*

A ilha de São Vicente foi devastada por uma tempestade de força telúrica na última segunda-feira. Deixou um rasto de destruição. Mortes e profundo sofrimento. Um desastre natural que expõe, mais uma vez, a vulnerabilidade das infraestruturas e a fragilidade da capacidade local de resposta em momentos de crise.

As palavras perdem força e tornam-se insuficientes em tempos de crise. São necessários gestos concretos de solidariedade que transcendam crenças. Culturas e geografias. É nesse espírito que proponho um gesto simbólico: Uma “missa pagã” para devolver a esperança a São Vicente, símbolo cultural e identitário de Cabo Verde.

Enquanto São Vicente luta para se reerguer, importa reflectir sobre as prioridades sociais e económicas do País. O festival Baía das Gatas investiu, em 2024, somas significativas na contratação de artistas internacionais, entre as quais uma “gata” como Ivete Sangalo, cujo cachê terá rondado os 14 mil contos (cerca de 126 mil euros). Se canalizado para a ajuda às populações afectadas, este montante poderia ter um impacto imediato e transformador. Não aconteceu. Inversão de prioridades. Descaso.

Este facto levanta questões essenciais sobre a gestão dos recursos públicos e privados. Sobre a necessidade de um planeamento integrado que equilibre o investimento cultural com a resposta eficaz a emergências. A cultura é um pilar do desenvolvimento social e económico. Mas não pode eclipsar a salvaguarda da vida e do bem-estar das comunidades.

A tragédia em São Vicente reforça a urgência de políticas públicas robustas. Elas devem incluir prevenção e sistemas de alerta precoce. Apoio psicossocial e reconstrução sustentável. É imperativo que o Estado, a sociedade civil e os parceiros internacionais se unam num esforço coordenado para garantir que episódios como este não se repitam com a mesma intensidade.

Em última análise, a (minha) “missa pagã” simboliza o compromisso colectivo com a esperança e a resiliência. Convidando-nos a repensar a forma como valorizamos e protegemos aquilo que mais importa: As nossas pessoas e o seu futuro. Oremos por São Vicente. Os santos as vezes também precisam da oração. Nem que seja de gente pagã. Como eu.

*Jornalista radicado no Canadá 

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