A cineasta brasileira de origem coreana, Iara Lee, já viajou para 179 países, fazendo da sua câmara um instrumento de cultura e de encontro de soluções para um mundo mais equilibrado. Percorre o mundo mostrando como a arte pode ser a solução para ultrapassar obstáculos no processo criativo e ainda contribuir para um desenvolvimento sustentado. Passou pela Praia, onde falou sobre o seu ‘artivismo’ e deixou conselhos aos amantes do cinema.
O contacto dos cinéfilos cabo-verdianos com a obra da brasileira de origem coreana, Iara Lee, vem dos vários filmes que o Centro Cultural do Mindelo vem passando, nessa cidade. E era por isso que ela contava, nesta sua segunda viagem a Cabo Verde (esteve aqui em 1990), dar uma saltada para ‘beber um café de verdade’ com o director do CCM, Toni Tavares. Mas conta que, com os acontecimentos do passado dia 11, a sua preocupação passou a ser o envio de ajuda humanitária, ajudar as pessoas em São Vicente, do que passar o filme.
“Até porque tiveram de cancelar a exibição, em Agosto, mas me pediram para que voltasse em Setembro, mas não será possível, vou ter de regressar ao Brasil, vinha para três meses, mas uma queimadura com água quente, numa parte do corpo, uma queimadura de terceiro grau, obriga-me a mudar de planos, infelizmente.”
Antes de falar para o A NAÇÃO, Iara Lee preparava- -se para a projecão do seu documentário From Thrash to Tresure, Turning Negatives Into Positives (de Lixo a Tesouro, Transformando o Negativo em Positivo), rodado em 2020, no Lesotho, pequeno país africano, encravado na África do Sul. A sessão foi organizada pela Mankara, da produtora cabo-verdiana Korikaxoru, de Natacha Craveiro, que projecta filmes no Centro Guimarães Rosa da Praia, todas as quintas-feiras, às 18h30. Como o título indica, o filme gira em torno do aproveitamento que vários grupos fazem de materiais recicláveis, como forma de ultrapassar os obstáculos do seu processo criativo.
“Tenho um prémio que se chama Creative Activism Award, de activismo criativo, no valor de 1000 dólares, que visa premiar as pessoas que usam a criatividade para ultrapassar obstáculos através de todas as maneiras: reciclagem, biologia, dança, fotografia, dança, poesia, o que se puder imaginar para transformar o lixo em tesouro, transformar os negativos em positivos. Cerca de 300 pessoas e grupos já foram contemplados com esse pémio”, explica Iara Lee.
Iara chegou a Cabo Verde pela ilha do Sal e ali conseguiu encontrar uns grupos voltados para a ecologia, a biodiversidade. “Ofereci- -lhes um drone para poderem fazer melhor a monitorização das tartarugas-marinhas; há outros grupos que trabalham com crianças carenciadas, e demos-lhes também materiais, assim como às peixerias do Sal. Fiquei sabendo que vão passar lá o meu filme sobre as mulheres da Guiné-Bissau, sobre a agro-ecologia.”
Joaquim Arena
Leia a matéria na íntegra na Edição 940 do Jornal A Nação, de 04 de Setembro de 2025
