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Cabo…Verde, quase maduro.

Por: Pedro Castro

Durante anos, muitos se perguntaram como era possível que as Canárias acolhessem quase 18 milhões de turistas internacionais por ano, enquanto Cabo Verde, com uma geografia e climas semelhantes, mal chegasse a um milhão. A resposta é menos misteriosa do que parece. Cabo Verde esteve, durante demasiado tempo, “verde” de muita coisa: faltavam hotéis, faltava produto, faltavam recursos humanos, faltava investimento – e faltava abertura jurídico-comercial no setor aéreo. Com a idade vem a maturidade e Cabo Verde já é país há cinquenta anos, por isso não admira que o destino esteja a ter o seu momento agora.

Quando um Estado é dono dos aeroportos, dono do handling, dono da companhia aérea (e, se for dono de hotéis, pior ainda), a tentação de proteger o que é “seu” sobrepõe-se muitas vezes à visão estratégica de longo prazo. Assim, por receio de perder controlo – e os votos associados a esse controlo – fecha-se a porta à concorrência e, com isso, à evolução. Em termos de negócio, o turismo cabo-verdiano seguiu, até agora, um modelo ancorado nos operadores tradicionais, muito semelhante ao que existia no Algarve e na Madeira até finais dos anos 90. Esta dependência manifestava-se sobretudo no domínio da TUI relativamente aos mercados do Benelux, nórdicos e britânico. Juntamente com operadores de Portugal e da Itália, estes grupos garantiam a ocupação dos hotéis com grandes contingentes, impunham os seus preços e controlavam a capacidade aérea através dos voos que contratavam diretamente. Este modelo, apesar de eficiente para garantir ocupação, favorece sobretudo os próprios operadores – não necessariamente os destinos. Controlando a oferta, manipulando a procura e limitando a entrada de novos “players”, o crescimento é real, mas desequilibrado, dependente e frágil.

A maré, no entanto, está a mudar. A abertura recente à Transavia e, de forma mais significativa, à easyJet a partir de mercados emissores como a França, Reino Unido, Portugal e Itália, é um ponto de viragem. Estamos perante o início de um novo ciclo, mais aberto, mais competitivo e, acima de tudo, mais diversificado. Este novo ciclo dá poder ao turista individual – aquele que compra o voo por conta própria, escolhe o alojamento e experiências usando os angariadores do costume – tipo Booking ou Airbnb – mas que abarcam um número significativamente maior de fornecedores a todos os níveis que não tinham qualquer hipótese no quadro dos pacotes pré-formatados. É justamente com este novo perfil de viajante que surgem novas oportunidades para os agentes locais, os animadores sem referência, os restaurantes independentes e as comunidades anfitriãs que, até agora, estavam fora do jogo. Mas é também com este novo perfil que surgem novos desafios de política pública na habitação, no ambiente, na segurança, no saneamento ou na saúde. É justamente aqui que veremos como Cabo Verde irá amadurecer.

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