Exatamente um mês após a tempestade que ceifou nove vidas, e deixou dois desaparecidos, a ilha de São Vicente voltou a ser surpreendida por uma descarga intensa de água, acompanhada de trovoadas. Embora em menor escala, a chuva desta madrugada reacendeu medos, expôs fragilidades e confirmou que a ilha ainda vive entre escombros, físicos e institucionais.
A EDEC (ELECTRA) agiu com rapidez, cortando o fornecimento de energia elétrica para evitar danos maiores. No entanto, o apagão trouxe consigo o velho fantasma das comunicações deficientes, mergulhando bairros inteiros num silêncio forçado e numa sensação de isolamento.
A Delegacia de Saúde já havia alertado para o risco iminente de uma crise sanitária. Após a tempestade de Agosto, águas estagnadas e esgotos a céu aberto criaram o ambiente ideal para a proliferação de mosquitos transmissores de doenças como Zika, Dengue e Paludismo.
Aumento “anormal” de vetores de doenças
Segundo o delegado Elísio Silva, há um “aumento anormal” desses vetores em praticamente todas as localidades da ilha, apesar dos esforços de contenção.
“São Vicente não está preparada para enfrentar outra chuva como a de há um mês”, lamenta uma moradora da zona de Ribeira Bote, onde ainda se vêem vestígios da destruição anterior.
A onda tropical que influencia o arquipélago entre os dias 9 e 11 de setembro já havia sido prevista pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, que alertou para precipitações intensas nas ilhas de Barlavento.
Mas, para muitos, o alerta não se traduziu em ação concreta.
São Vicente continua a lutar, não apenas contra o clima, mas contra a negligência, a lentidão institucional e a memória dolorosa de um Agosto factidico.
João A. do Rosário
