A Universidade de Cabo Verde recebe esta sexta-feira, 26, a pré-estreia do documentário “Da Rinkada”, da jornalista e linguista Ana Karina Moreira. Uma história de mulheres – mães – que decidiram partir e o preço que pagaram pela decisão tomada.
O projecto, segundo Karina Moreira, nasceu de uma preocupação relativa a esta nova leva de emigração cabo-verdiana, que tem ganhado contornos diferentes nos últimos anos.
“Reparei numa saída desenfreada, principalmente de mulheres, numa perspectiva diferente. Antigamente elas iam para se juntar aos maridos. Agora muitas vão por conta própria e deixam os filhos para trás, numa proporção que não tinha visto antes. O nosso primeiro impulso é julgar, mas depois vi que isto tem uma proporção mais profunda”, relata a autora.
Neste contexto, o documentário procura mostrar todos os lados da questão, para ajudar as pessoas a perceberem porque é que isso acontece, e para ajudar as próprias mães que emigraram ou que tencionam emigrar, a saberem como fazê-lo, minimizando o máximo possível os impactos.
“Acabamos por alargar muito mais o leque, não só nesta nova leva, mas começando desde quando as mulheres começaram a emigrar para São Tomé, passando pela emigração para a Itália, que é maioritariamente feminina, até chegar aos dias atuais, em que estão a sair muitas mulheres, porque também a maioria das famílias cabo-verdianas são chefiadas por mulheres”, indica Moreira.
“O lado de quem parte, mas também de quem fica”
O documentário traz o lado de quem parte, mas também de quem fica, com depoimentos recolhidos na ilha de Santiago e na Boa Vista, ladeado por uma perspectiva antropológica e psicológica do tema.
Aliás, para Karina, uma das principais ilações retiradas da pesquisa está ligada ao próprio conceito de família cabo-verdiana.
“Nós temos uma visão muito europeia de família, com pai, mãe e filhos, mas, quem estuda o tema do ponto de vista antropológico consegue notar que a nossa constituição familiar é diferente a tal ponto que permite a saída dessas mulheres”, fundamenta.
Existe, conforme explica, uma rede matriarcal que permite que a mulher ao sair deixa os filhos com tias, avós, etc. “Se assim não fosse, se a nossa família fosse nuclear, clássica, e não houvesse essa família alargada, não haveria com quem deixá-los”, defende.
Por outro lado, acrescenta, com todas as mudanças que estão a acontecer na sociedade, incluindo mudanças de papéis, as mulheres sentem-se mais autónomas e propensas a quebrar regras sociais.
Sobre Ana Karina Moreira
Ana Karina Moreira é jornalista e linguista, e estreia-se, assim, no universo audiovisual, com “Da Rinkada”, produzido no âmbito do financiamento do NuNaC – Núcleo de Apoio ao Cinema e Audiovisual, no edital de novembro de 2023.
Para além da realização de Karina Moreira, o documentário conta com captação de imagem de Erci Chantre, edição e pós-produção de Nilson Cabral e Bruno Andrade.
Natalina Andrade
