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Dia Mundial do Turismo: Crescer, sim, mas a que preço?

Por: Pedro Castro

Em Cabo Verde, o turismo representa mais de um quarto do PIB do país, sustenta milhares de empregos e já é uma das principais fontes de divisas. É uma espécie de tábua de salvação económica, mas também um risco. Para entender o alcance desse risco basta olhar para Portugal, um país que se tornou referência turística global, mas que hoje enfrenta dilemas sérios: salários baixos, fuga de talento jovem, gentrificação urbana e saída de lucros para investidores estrangeiros. Esta é a lição que Cabo Verde não pode ignorar. O turismo em Portugal é um motor de crescimento, sim, mas também se revelou incapaz de transformar estruturalmente a economia. Os salários médios no setor continuam muito abaixo da média nacional, e milhares de jovens continuam a emigrar porque não encontram perspetivas de futuro fora do turismo. O capital estrangeiro domina a hotelaria e com isso vem também a saída sistemática de riqueza. Em paralelo, a pressão sobre habitação, recursos naturais e comunidades locais aumentou ao ponto de gerar tensões sociais. É o retrato de um turismo extrativista: gera riqueza, mas não a redistribui. Cabo Verde enfrenta agora uma encruzilhada semelhante. A aposta no turismo trouxe benefícios claros: dinamizou ilhas que estavam isoladas, colocou o país no mapa internacional e criou milhares de empregos. Mas se não for planeado com visão, corre-se o risco de repetir os erros portugueses: os “resorts all-inclusive” geram pouco impacto local e empregos de baixa qualificação e dependência excessiva de mercados emissores podem transformar o turismo de oportunidade em armadilha. O desafio cabo-verdiano não é rejeitar o setor, mas moldá-lo para que seja inclusivo e sustentável. Isso passa por diversificar a oferta, apostar em turismo de valor acrescentado, garantir que as comunidades locais participam no planeamento e assegurar que a riqueza gerada fica no país. Passa também por investir em educação e formação, para que os jovens cabo-verdianos sejam protagonistas e não apenas mão-de-obra barata.

O turismo pode ser uma grande força de Cabo Verde, mas só o será verdadeiramente se for acompanhado de políticas que garantam redistribuição, dignidade no trabalho e preservação do território. Sem isso, o país corre o risco de se tornar apenas um destino exótico nas mãos de investidores estrangeiros. É por isso que o sucesso do turismo cabo-verdiano não pode ser medido apenas em número de quartos vendidos, mas também em cidadãos que escolhem ficar para não ficar “rico” em turistas que fazem dele um destino de férias…e pobre em cabo-verdianos que não encontram ali um destino para a sua vida.

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