PUB

Sal

Imprensa espanhola descreve Cabo Verde como o “novo destino sexual” para as espanholas

Uma reportagem investigativa de um site espanhol descreveu Cabo Verde como o “novo destino sexual” para as espanholas. Revelou ainda que a tendência está a aumentar, e afeta sobretudo adolescentes pobres, que fazem sexo em troca de dinheiro. A rede social Tik Tok tem sido o canal de publicitação, com vários vídeos virais de turistas espanholas a relatarem a experiência.

Segundo o jornal “El Espanhol”, há vários anos que se fala sobre turismo sexual para homens, que viajam para países pouco desenvolvidos, como a Tailândia, para se envolverem com as mulheres locais, por vezes menores de idade. No entanto, estes tipos de viagens são igualmente populares entre as mulheres – e Cabo Verde tem sido o seu destino de preferência.

O diário revelou que Cabo Verde tem atraído, sobretudo, mulheres espanholas que “descobriram recentemente a beleza dos cabo-verdianos”.

“Há mulheres que vêm especificamente à procura de sexo com homens jovens. Outras não dizem, mas fazem-no”, explicou Milagros García López, uma freira espanhola que trabalha há mais de duas décadas no Mindelo, a capital cultural do país. “E há aquelas que se afeiçoam emocionalmente e mantêm relações à distância, enviando dinheiro todos os meses.”

Publicitação e amplificação no Tik Tok

No TikTok, os vídeos multiplicam-se, com várias espanholas a relatarem a experiência. “Antes de vir para aqui, as pessoas com quem falava diziam-me: “Bem, são todos muito bonitos lá”. E eu pensava sempre: “Talvez sejam super bonitos, mas não fazem o meu estilo, e parece que a maioria das pessoas de Espanha acaba por ficar com um cabo-verdiano aqui”, relatou uma viajante num vídeo citado pelo jornal.

“Parece que este é o único sítio com uma taxa mais elevada de prostitutos do que de prostitutas”, disse ainda.

A jovem continua: “Vim aqui sem me importar, e são perfeitos. Vi quatro rapazes da nossa idade, e têm uma pele perfeita, lábios, olhos, sorrisos, dentes, braços e corpos perfeitos.”

Nos comentários, várias viajantes partilham experiências semelhantes, com emojis de fogo, frases de humor e piadas sobre viagens ao arquipélago. Apesar de não ser invulgar, por detrás dos vídeos esconde-se uma realidade incómoda batizada pelo jornal espanhol como “turismo sexual feminino”.

O turismo sexual feminino

O “El Espanhol” explica que o arquipélago tornou-se num “íman para as mulheres nos últimos anos”, muitas delas espanholas, que viajam com a expetativa de terem relações com homens locais, sobretudo adolescentes. Apesar de, em alguns casos, tratar-se de casos temporários, existem exemplos de mulheres que chegam a manter a relação com os locais e a enviar dinheiro todos os meses à distância.

Neste caso, os homens que recebem dinheiro de turistas foram apelidados de “Western Union boys” (rapazes do Western Union, em tradução livre, referindo-se à plataforma internacional de transferência de dinheiro).

Situação não é nova

Em 2023, um relatório feito pela Morabi, já registava a presença de “relações de troca entre mulheres estrangeiras e adolescentes do sexo masculino no Sal e no Mindelo”

“Para muitos jovens, estar com um turista significa ter as suas despesas cobertas durante alguns meses, poder continuar a estudar ou ajudar em casa. Encaram isto como algo normal”, disse uma trabalhadora humanitária espanhola que trabalha em projetos de prevenção no arquipélago.

Várias associações e ONG têm consciência do que se passa no país e tentam ajudar as vítimas, sobretudo meninas e adolescentes, mas os recursos não são suficientes, conclui a reportagem.

Uma Fronteira Indefinida

Nem todas as relações entre turistas e moradores de Cabo Verde envolvem exploração sexual. Há histórias de casais que consolidaram seus relacionamentos, de casamentos binacionais, de laços baseados na atração mútua. A fronteira, no entanto, se vai quando a desigualdade extrema intervém: diferenças de idade, poder aquisitivo e oportunidades de vida transformam o que parece um idílio em uma troca marcada pela necessidade.

“O complicado é que muitas dessas mulheres não se veem como clientes da prostituição. Elas acham que conheceram alguém especial em suas férias. Mas quando você paga a conta do hotel, compra presentes ou envia dinheiro todo mês, você está participando de uma relação desigual”, explica a pesquisadora Yolanda Cruz, que estudou o turismo sexual na África Ocidental.

Segundo o El Espanhol, o turismo sexual feminino em Cabo Verde é um tema sobre o qual poucos querem falar. Principalmente porque não é compreendido como tal. Para as autoridades locais, continua o jornal, “reconhecê-lo significaria admitir sua incapacidade de proteger seus jovens mais vulneráveis”.

Pobreza do Sul em evidência 

Para muitos turistas, admitir isso colocaria em questão viagens vivenciadas como inocentes ou até românticas. Para a mídia europeia, significa abordar um desconforto: o de que as mulheres ocidentais também participam de dinâmicas de consumo sexual que se alimentam da pobreza do Sul, assim como os homens fazem há tanto tempo.

Enquanto isso, o fenômeno continua a se espalhar, amplificado por vídeos virais, voos baratos e um silêncio opressivo. Nos corredores das missões religiosas, nas oficinas de ONGs, nos depoimentos de jovens homens e mulheres que veem o turismo como uma oportunidade de sobrevivência, a realidade se repete: por trás de cada viagem, de cada noite de festa em Sal, há uma história que não cabe em um TikTok de 15 segundos.

No entanto, de salientar que não é só em Cabo Verde que isto acontece e há muitos anos que se fala desta situação em relação por exemplo, também, a turistas italianas.

C/ El Español

PUB

Adicionar um comentário

Faça o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PUB

PUB

To Top