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Defesa dos Tubarões Azuis: A semana mágica de Pico Lopes

De um convite para a selecção ignorado, à conquista de uma vaga no Mundial 2026, foram vários momentos de angústia e alegria para o cabo-verdiano-irlandês, Roberto Pico Lopes. Mas a festa chega agora em dose dupla. Na semana em que os Tubarões Azuis fazem história no futebol mundial, Pico Lopes prepara-se também para ser pai, pela primeira vez.

A história da qualificação da selecção cabo-verdiana para o Mundial de 2026, na América do Norte tem várias nuances: derrotas, frustrações, vitórias e alegrias; jogadores e treinadores que chegam à equipa, outros que partem. Com o feito inédito, as atenções do mundo do futebol viram-se, estes dias, para estas ilhas atlânticas.

A Irlanda pode não fazer ainda parte do mapa da diáspora cabo-verdiana, mas a história do defesa dos Tubarões Azuis, Pico Lopes, que deverá ser o próximo capitão dos Shamrock Rovers (Primeira Liga irlandesa), faz as delícias dos jornais locais. A alegria de Pico (filho de pai natural de São Nicolau e mãe irlandesa) pela conquista da vaga no próximo Mundial de futebol soma-se à do nascimento iminente do seu primeiro filho.

E mal terminou o jogo e os festejos, na companhia do pai, Carlos Lopes, e do cunhado – que viajaram de Dublin para a Praia, para assistirem ao jogo decisivo com Essuatini – o defesa central meteu-se a caminho de casa, para fazer os 4500 quilómetros que o separam da esposa.

Convite por Linkdln ignorado

Mas o que a imprensa local mais destaca é o facto curioso de Pico ter sido contactado pelo então treinador português da selecção cabo-verdiana, Rui Águas, através da rede social Linkdln. Julgando tratar-se de algum cumprimento, Pico não fez caso da mensagem. O jogador de 33 anos disse que ainda para mais estava escrita em português.

Pensou que fosse uma daquelas mensagens, tipo “obrigado por me ter aceitado”. E, acrescenta, “tendo crescido numa zona onde havia muitos ‘golpes’ e chamadas fraudulentas, não liguei. Talvez tenha sido demasiado cauteloso”. Depois, tocado pela curiosidade, foi ao tradutor do Google: “E foi quando descobri que ele queria que eu jogasse pela equipa nacional de Cabo Verde.”

Nove meses depois, Rui Águas voltou a escrever-lhe, desta vez em inglês. “Respondi logo, pedi desculpas e perguntei se a proposta ainda estava de pé e felizmente ainda fui a tempo. E um mês depois, se não estou em erro, fiz a minha estreia, em Marselha.”

Pico Lopes começou por jogar nos Bohemians, depois de ter feito parte da equipa dos sub-19 da República da Irlanda. Enquanto isso, trabalhava no departamento de empréstimos de um banco. A profissionalização chegaria nos Rovers, em 2017, tendo depois vencido quatro títulos da liga irlandesa, jogado no continente europeu, pela primeira vez, até chegar aos palcos internacionais do futebol.

A sua estreia por Cabo Verde aconteceria, em Outubro de 2019, num jogo amigável, numa vitória contra o Togo (2-1). São já vários jogos por Cabo Verde, sendo Pico apontado como um exemplo do segredo do sucesso dos Tubarões Azuis, isto é, como um país pequeno, algures no Atlântico Médio, conseguiu montar uma equipa com atletas espalhados pelo mundo, qualificando-se para o Mundial de 2026.

Quando Pico Lopes chegou mal sabia os rudimentos do crioulo, língua franca entre os vários elementos que formam a selecção cabo-verdiana e onde, a par dos “nascidos e criados” em Cabo Verde, não faltam ‘portugueses’, ‘franceses’ e ‘holandeses’. Do convívio com os colegas aprendeu o básico do crioulo e, com algum esforço, foi respondendo às perguntas que os jornalistas cabo-verdianos lhe colocaram, esta semana, na Praia.

Logo após o jogo decisivo da passada segunda-feira, Pico Lopes estava sem palavras, falando em “sentimento surreal”. “O maravilhoso alívio no final do jogo, a consciência de que o havíamos conseguido, que vamos estar no Campeonato do Mundo. Estou muito feliz neste momento e é uma sensação fantástica”, disse o jogador, ao canal irlandês, RTÉ.

E, logo depois do jogo, a preocupação de Pico era outra: “Estou numa corrida para chegar ao Aeroporto de Lisboa e de lá para Dublin”. O nascimento do seu primeiro filho deverá acontecer nestes dias. Uma dupla satisfação desde ano de 2025 e que marcará a vida deste defesa central, nascido em Dublin, com sangue cabo-verdiano.

Joaquim Arena

Publicado na Edição 946 do Jornal A Nação, de 16 de Outubro de 2025

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