Ângela Lopes, de 41 anos, professora e intérprete de Língua Gestual, além de presidente da Associação de Familiares e Amigos de Surdos em Cabo Verde (AFAS-CV), cresceu numa família com várias pessoas surdas. Viu de perto o insucesso escolar de dois tios e a rejeição de uma tia num programa de alfabetização, simplesmente pela sua condição auditiva.
Como confessa, esse acontecimento despertou-lhe “ira e vontade de lutar pelos surdos, para que mais ninguém passasse pela mesma situação”.
Com formação de base no antigo Instituto Pedagógico, ingressou na área da inclusão em 2016, na Escola Eugénio Tavares, onde aprendeu com colegas e alunos surdos.
Desde então, dedica-se ao ensino e à interpretação, mesmo sem formação contínua específica, “participei apenas numa formação básica de 30 horas em Língua Gestual e noutra com uma equipa brasileira em 2017, o resto foi autoformação, pesquisa e prática”, explica.
Os desafios, diz, “são diários e persistentes”. A falta de materiais, currículo adaptado, intérpretes e condições das famílias são barreiras constantes”. Ainda assim, Ângela não desiste.
“Apesar do medo do erro e da falta de formação, procuro sempre melhorar, estudo por conta própria e investigo experiências de outros países”, diz.
Na sala de aula, trabalha Ciências da Terra e da Vida e História e Geografia de Cabo Verde, usando vídeos, materiais visuais e aulas de campo,“adapto o currículo e traduzo os conteúdos em Língua Gestual para torná-los mais acessíveis”, partilha.
“O que mais me orgulha é saber que, mesmo sem formação específica, o meu trabalho abre esperanças na comunidade surda”, Ângela afirma com orgulho.
E, com isso, deixa uma mensagem para a sociedade: “Ninguém deve desistir de ajudar por falta de recursos ou formação. Faça o seu melhor enquanto espera o melhor vir. O seu melhor pode ser o melhor caminho”.



