O corpo do malogrado artista Vasco Martins será entregue à terra este sábado, às 16h00, no pequeno cemitério da aldeia do Norte de Baía, em São Vicente, cumprindo o desejo expresso pelo próprio em vida. Antes do funeral, o corpo ficará em câmara ardente no Centro Nacional de Arte e Artesanato (CNAD), a partir do meio‑dia, onde serão prestadas homenagens públicas e institucionais.
Entre as entidades que já confirmaram presença estão o Ministro da Cultura, Augusto Veiga, e o Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, além de artistas, colegas de longa data e cidadãos que acompanharam a trajetória singular do músico.
Família pede respeito ao desejo do artista
Segundo familiares, Vasco Martins “detestava coroas de flores” e manifestou claramente que não as queria no seu funeral.
Em respeito à sua memória, a família apela para que a população não leve coroas, podendo, se assim desejar, apresentar apenas um ramo de flor natural.
Ministério da Cultura “Perdemos um criador raro”
Em nota enviada à imprensa, o Ministério da Cultura lamentou profundamente a morte do artista, sublinhando que o país perde “um criador raro, inquieto e profundamente comprometido com a identidade sonora de Cabo Verde”.
A tutela destacou ainda o contributo de Vasco Martins para a música contemporânea cabo‑verdiana e para a experimentação artística, afirmando que o seu legado “continuará a inspirar gerações”.
Disco inédito apoiado pelo CNAD estava prestes a ser apresentado
Vasco Martins tinha concluído recentemente um novo disco, gravado com o apoio direto do CNAD, cuja apresentação pública estava prevista para os próximos dias.
O trabalho, descrito por fontes próximas como “um regresso às raízes e, ao mesmo tempo, uma ousadia estética”, deverá agora ser lançado postumamente, em articulação entre a família e as instituições culturais.
O CNAD, que acolhe a câmara ardente, recorda que o artista mantinha uma relação de longa data com a instituição, tendo colaborado em projetos de criação, residências artísticas e ações de formação.
Uma vida dedicada à música e à experimentação
Nascido em Lisboa, Vasco Martins, de 69 anos, destacou‑se como um dos músicos mais singulares do arquipélago.
Compositor, multi‑instrumentista e investigador sonoro, construiu uma obra marcada pela fusão entre tradição cabo‑verdiana, música erudita contemporânea e paisagens sonoras experimentais.
Ao longo da carreira lançou vários álbuns de referência, compôs obras sinfónicas e peças para guitarra, explorou ritmos e sonoridades das ilhas com uma abordagem inovadora, participou em festivais nacionais e internacionais, e tornou‑se uma figura incontornável da música de vanguarda em Cabo Verde.
Vasco Martins era igualmente conhecido pela sua postura discreta, pela relação profunda com a natureza e pela busca constante de novas formas de expressão artística.
João A. do Rosário



