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Cultura

“Cicatrizes” de Dino d’ Santiago lançado na capital : mais do que uma biografia, um grito de liberdade

O músico e escritor Dino d’Santiago apresentou na tarde de quinta-feira,11, o seu primeiro livro, Cicatrizes, no Festival Morabeza, obra em que o artista narra em primeira pessoa vivências de dor, discriminação e superação ao longo de um percurso que começou em Quarteira, Portugal, onde nasceu, e o levou a tornar-se uma das figuras mais reconhecidas da lusofonia.

Lançado no Festival Morabeza, Cicatrizes reúne relatos íntimos sobre dor, discriminação e o caminho de reencontro trilhado pelo artista.

Dino revelou que a obra surgiu do processo de psicoterapia e das chamadas “visitas somáticas”, que lhe permitiram ressignificar a própria história.

“Este livro nasce dessa viagem (…) o momento em que entendi que este “eu” não é um erro de sistema, mas alguém que tem direito de falhar até acertar. É um livro que vem na perspectiva de esperançar e mostra que podemos assumir as nossas sombras e luzes sem viver como personagem secundária da própria vida”, partilhou.

Papel da literatura

Durante o encontro, o músico destacou o papel transformador da literatura na sua vida, “ler salvou-me literalmente a vida”, ajudando-o a enfrentar uma infância marcada pela pobreza, discriminação racial e ausência familiar. Hoje, vê nos livros uma ferramenta de mobilidade social e construção de consciência.

Dino recordou que, na sua juventude, quase não encontrava representatividade negra na literatura, na pintura ou na música que consumia. A mudança, diz, começou quando teve mais contacto com referências negras dentro e fora de casa e, mais recentemente, com a expansão de artistas brasileiros e de pensamento africano traduzido para o português.

Saúde mental sem tabus

Um dos momentos mais marcantes da sessão foi a defesa aberta da psicoterapia e do cuidado emocional, onde o artista contou que iniciou acompanhamento psicológico aos 39 anos, caminho que descreve como libertador.

Perante estudantes que lidam com ansiedade, depressão ou pressão académica, deixou um apelo direto “procurar ajuda profissional e utilizar a escrita como ferramenta de autoconhecimento e organização das emoções”.

Cabo Verde mais próximo de África

Ao falar de identidade cabo-verdiana, Dino afirmou sentir que o país vive um movimento crescente de reencontro com o continente africano, muito impulsionado pelas artes.

“Eu sinto que finalmente Cabo Verde está mais Africano e menos Ocidental, ou seja, por mais que todas as nossa estruturas trabalhem de uma forma muito conectada ao Ocidente, e é normal pela nossa história, o facto de novas gerações estarem a querer  perceber como é mais o nosso continente, a história real do continente, não só a partir dos 400 anos de escravaturas mas não antes, caminhando pra tras e perceber que grandes pensamentos que dos grande pensadores e filósofos gregos foram se inspirar nos africanos ou seja já havia matéria prima então é esse resgate esse lugar de estar conectado com a África”, defendeu.

Antes do festival, o artista levou Cicatrizes à Universidade de Cabo Verde, onde foi recebido por estudantes e docentes para uma conversa marcada por reflexões sobre identidade, memória e pertença.

O encontro, realizado na Sala António Correia e Silva e conduzido pela docente Karina Gomes, aproximou literatura, arte e debate crítico do universo académico.

C/ RTC/UNICV

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