Era a figura principal e a voz que marcou a carreira e o sucesso dos Tavares Brothers, um grupo musical de americanos de origem cabo-verdiana, nascidos de New BedFord, ao longo de três décadas, participantes do célebre filme Saturday Nigh Feveer ao lado de John Travolta, Bee Gees e outras estrelas do “disco”. Anton ‘Chubby’ Tavares morreu na semana passada aos 81 anos, na sua casa da Flórida, deixando agora os Tavares reduzidos a dois elementos.
Com a morte de Anton ‘Chubby’ Tavares, aos 81 anos, é a voz principal dos Tavares Brothers, grupo de soul e Rithm and Blues, de origem cabo-verdiana, nascido em New Bedford, que desaparece. Nos últimos anos, o grupo de irmãos, tornado famoso nos anos 1970 pelos sucessos ‘Check it out’, ‘Heaven must be missing an angel’ e ‘More than a woman’, já havia perdido Ralph, o mais velho, em 2021 (que apesar de abandonar o grupo Tavares em 1984, voltou para algumas actuações), Arthur ‘Pooch’ Tavares, em 2024, outra das vozes principais, e Feliciano ‘Butch’ Tavares, responsável pelos falsetes que tanto marcaram as harmonias vocais do grupo, também em 2024.
Nos últimos anos, Perry Lee ‘Tiny’ Tavares, o mais novo dos irmãos, acompanhava ‘Chubby’ em algumas actuações pontuais, sobretudo em cerimónias de homenagem ao grupo. Em Junho de 2024, ‘Chubby’ viajou da Flórida onde residia para estar presente na inauguração da Tavares Brother’s Way, uma rua de New Berdford, baptizada em homenagem ao famoso grupo de irmãos naturais dessa cidade.
Depois dos discursos do mayor, senadores e outras personalidades políticas locais e no meio de abraços e cumprimentos das pessoas da comunidade cabo-verdiana, ‘Chubby’ falou da felicidade que era ter vindo da Flórida para assistir a esse momento, “que lembra todo o trabalho duro que tivemos para chegar onde chegámos. Eu disse à minha namorada que não podia por nada perder este momento”.
Também presente na cerimónia Perry Lee ‘Tiny’ Tavares, que lembrou que tinham todos nascido, naquela cidade, no Hospital de Saint Louis. Outro dos irmãos Victor Tavares, o primeiro a trocar a vida da estrada e dos palcos por outra mais pacata, lembrou como o grupo trabalhou muito para isso. No final, “Chubby” usou da palavra para os agradecimentos: “Todos aqui sabem de onde eu venho”.

Bebé ‘gordinho’ na família de músicos
Quando Albina Tavares deu à luz a esse bebé pesado, contava o malogrado cantor, ela disse, “a este vamos chamar ‘Chubby’ “(em português, ‘gordinho’, ‘rechonchudo’). E assim ficou, Anton Lawrence ‘Chubby’ Tavares, nascido em 1944, estava destinado a ser a figura e voz principal do mais famoso grupo musical saído da comunidade cabo-verdiana na América.
Os sete irmãos e três irmãs encontraram a música em casa, como acontecia em praticamente todos os lares crioulos, nos Estados Unidos. Albina Gomes Tavares e o marido Feliciano ‘Flash’ Vieira Tavares, tocador de violão, organizavam tocatinas em sua casa de Providence, em Rhode Island. Em várias dessas sessões, também participava a cunhada, Vicky Vieira, irmã de ‘Flash’. E é graças ao pai, como costumava dizer ‘Chubby’, nas entrevistas, que todos nasceram com talento para a música.
“Todos sabíamos cantar e eu era o ‘palhacinho’ da turma, o ‘front-man’, aquele que fazia todos rir. Foi o John (que abandonou cedo o grupo, substituído por Feliciano) que nos ensinou o estilo ‘doo-wop’ (harmonias vocais de suporte da voz principal) e costumávamos imitar grupos da época: os Flamingos, os Hoptons, os Moonglows, todos eles conseguiam grandes harmonias vocais, e o meu irmão John disse, podemos ser como eles e até melhores, mas para isso temos de criar o nosso próprio som.”
Estava-se em meados dos anos 1950 e partindo desse desafio, ‘Chubby’ decide então criar com os irmãos um grupo de quatro cantores com uma secção ritmica de três instrumentos: guitarra, baixo e bateria. Surgiram assim os Chubby and The Realities.
Alguns anos depois, após ser desmobilizado do serviço militar, Ralph, o mais velho, juntou-se ao grupo assim como o outro irmão Victor. O grupo sofreu a primeira mudança de nome, passando para Chubby and the Turpikes. A qualidade das harmonias e vocalizações começavam a dar resultado e o grupo conseguiu dois pequenos sucessos nas rádios na região da Nova Inglaterra: “I know the inside story’ e ‘Nothing but promisses’. Passaram a actuar em clubes de Boston e Providence, no Estado de Rhode Island.
Havia um pormenor curioso: em cada uma das actuações, eram obrigados a fazer subir ao palco o irmão ‘Putch’ de forma clandestina, já que ainda era menor de idade. “E logo depois da actuação, tinhamos de o tirar rapidamente e metê-lo num dos camarins, até sairmos dali”, lembrava ‘Chubby’.
Tavares invade discotecas
Em 1967, por razões pessoais, ‘Chubby’ abandona o grupo que passa a chamar-se apenas The Turnpikes. Quando ‘Chubby’ regressa em 1971, o irmão, ‘Putch’ tinha-se casado com a cantora, dançarina e actriz Lola Falana, em grande ascensão na época. E de partida para uma tourné pela Europa, ela convida o grupo dos irmãos de New Bedford a fazer as primeiras partes do seu show.
Quando regressam aos Estados Unidos, já com ‘Chubby’ de novo na voz principal, decidem então mudar o nome e adoptar o nome de família: Tavares. Com a primeira demo que gravam com a música ‘Check-it out’, já como Tavares, conseguem, através de um agente, o primeiro contrato com a editora Capitol Records. É o primeiro passo dos Tavares rumo a palcos e audiências maiores. Seguem-se outros sucessos, como ‘It only takes a minute’ e ‘She’s gone’.
O surgimento do disco-sound, por volta de 1976, vai catapultar ainda mais o grupo, embora este sempre se tenha mais identificado com o R&B (Rythm’n’ blues). O rótulo de banda de disco cola-se-lhes como uma luva, em especial depois do seu maior sucesso de sempre, “Heaven must be missing an angel”.
A música invade as pistas de dança de todo o mundo, sobe na lista dos mais vendidos e chega a disco de platina. Por essa altura, o grupo é convidado a fazer as primeiras partes de uma turné de um grupo de três irmãos australianos. Já conheciam o nome, como lembrava ‘Chubby’, mas não tinham a menor ideia de quem eram.
“Num dos primeiros espectáculos, na sala do Madison Square Garden, em Nova Iorque, estávamos a terminar o nosso ensaio para o show dessa noite e estavam três tipos sentados na primeira fila, a assistir. E pensámos que eram ‘rodies’ (equipa técnica); depois de terminarmos, fomos para os camarins e o nosso manager disse, ‘acabo agora mesmo de falar com os Bee Gees, e Barry Gibb disse-me que tem uma óptima música que ele compôs para os Tavares’”.
Joaquim Arena
Leia a matéria na íntegra na Edição 954 do Jornal A Nação, de 11 de Dezembro de 2025



