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São Vicente

Estrada Mindelo–Calhau: Obras em andamento com dúvidas persistentes

Depois de décadas de promessas adiadas e entraves burocráticos, a estrada que liga Mindelo à aldeia piscatória e agrícola de Calhau avança, agora, a bom ritmo. Máquinas pesadas, camiões e brigadas técnicas ocupam diariamente o traçado, no que parece ser uma corrida contra o tempo. Mas, nisso também, cresce o questionamento sobre se o futuro da via está a ser construído com qualidade ou apenas com pressa.

A ligação entre Mindelo e Calhau sempre foi vista como estratégica. Para os pescadores e agricultores locais, representa acesso mais rápido ao mercado e maior integração com a cidade. Para os visitantes, abre caminho a um dos cenários naturais mais emblemáticos de São Vicente. Contudo, a obra esteve durante décadas marcada por silêncio, promessas e adiamentos. 

Em 2024, o governo anunciou que a requalificação da estrada Calhau–Morada teria um custo superior a 500 mil contos, com financiamento assegurado por parcerias internacionais. Em Março deste ano, o ministro das Infraestruturas garantiu que a obra seria retomada “brevemente”, após atrasos financeiros e administrativos. Em Outubro passado, a Câmara Municipal confirmou que decorriam pavimentações em betão betuminoso e execução de drenagem ao longo do traçado.

Apesar do ritmo já acelerado, técnicos e moradores levantam dúvidas sobre aspectos fundamentais, entre os quais ao alargamento da via. Aqui, os motoristas questionam se a largura prevista garante segurança em curvas e zonas de maior tráfego. Outra preocupação tem a ver com a proteção das bermas em que especialistas alertam para riscos de erosão e desmoronamentos, sobretudo em áreas expostas ao vento e à chuva. 

No tocante às encostas A NAÇÃO constatou que têm sido tomadas medidas de contenção que, no entanto, parecem insuficientes para evitar deslizamentos, levantando dúvidas sobre a durabilidade da obra. E sobre a qualidade do asfalto fala-se no receio de que o material usado não resista ao clima seco e salino da ilha. 

Vozes locais

Esta reportagem ouviu várias pessoas, como agricultores, pescadores e motoristas de hiace. “É bom ver a estrada a andar, mas queremos que seja feita para durar”, afirma António, agricultor de Calhau, enquanto carrega caixas de tomate para o mercado. 

Já Maria, pescadora, comenta: “Com estrada boa, podemos levar peixe fresco mais rápido para o Mindelo. Mas se não protegerem as encostas, daqui a uns anos vai cair tudo de novo”. 

Um motorista de hiace acrescenta: “Se não alargarem bem, vai ser mais perigoso do que antes. A estrada não pode ser só para mostrar serviço”.

 Caracteristicas

Segundo informações fornecidas pelo Ministério das Infraestruturas, a obra prevê cerca 16 quilómetros de pavimentação em betão betuminoso, numa execução de 35 pontos de drenagem para águas pluviais, alargamento em zonas críticas, com bermas reforçadas. O prazo de conclusão primeiro semestre de 2026, e o custo estimado em 520 mil contos, com financiamento do Estado e parceiros internacionais. 

O governo garante que “a estrada Mindelo–Calhau será construída com padrões internacionais de qualidade e segurança, respondendo às necessidades da população e ao desenvolvimento turístico da ilha”.

Impacto social e económico 

Com as melhorias anunciadas na Estrada, Calhau pode ganhar nova centralidade como destino natural e cultural e haverá maior Integração comunitária, pois para muitas pessoas, a estrada simboliza inclusão, mas só se responder às necessidades reais da população. 

Vários especialistas consideram que a obra se insere num padrão recorrente em Cabo Verde, em que há projectos avançam sob pressão política, deixando dúvidas sobre fiscalização e sustentabilidade. Comparando com outras obras públicas na ilha, como intervenções após tempestades, nota-se que a manutenção é frequentemente negligenciada. Sem planos claros de conservação, o risco é repetir o ciclo de degradação rápida e com isso a triste sensação de recursos públicos desbaratados.

João A. do Rosário

Publicado na Edição 954 do Jornal A Nação, de 11 de Dezembro de 2025

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