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Santiago

Hospital da Praia: Denúncia sobre alegada falta de talheres e pratos gera indignação

Uma publicação nas redes sociais a denunciar a falta de talheres e pratos para pacientes internados no Hospital Universitário Dr. Agostinho Neto (HUAN), na cidade da Praia, desencadeou uma avalanche de comentários, reações e testemunhos sobre a qualidade e dignidade do atendimento hospitalar, com muitos a descreverem a situação como “inacreditável”. Em reacção, a Administração do HUAN reitera que não recomenda que os pacientes levem talheres de casa e reconhece os desafios do sector.

A publicação original foi feita nas redes sociais, por uma internauta que expressou o seu “desapontamento, revolta e tristeza” ao relatar o caso de uma amiga que foi internada para uma cirurgia e, no momento da refeição, terá sido abordada por uma servente do hospital que lhe terá perguntado se tinha colher e prato para tomar a sopa, porque o hospital não dispõe de talheres nem pratos para os pacientes. Sem alternativas, a filha da paciente terá solicitado o apoio da pessoa que fez a publicação para disponibilizar os utensílios.

“Incrível chegarmos a uma situação destas”, lamentou a autora da denúncia. “Este não é o meu Cabo Verde onde nasci, cresci e optei viver toda a Vida”.

O desabafo, que também foi publicado na página Provedor da Praia CV, gerou centenas de reacções e comentários, que relatam situações semelhantes ou mais graves, denunciando o que consideram ser um cenário de desorganização e precariedade recorrente, inaceitável no maior hospital do país.

Muitos alegaram ter vivenciado situações semelhantes, em que pareciam haver escassez de determinados produtos ou materiais na estrutura hospitalar, incluindo roupas de cama e luvas. Além disso, alguns referiram-se a casos de desvios e roubos de materiais dentro do hospital, incluindo talheres, pratos e outros bens, feitos por outros pacientes e pelos próprios funcionários da unidade hospitalar.

Uma questão de dignidade

Indignados, os cidadãos acusaram as autoridades de negligência e má gestão dos recursos públicos. Muitos referiram-se a outros desafios enfrentados pelos hospitais como a falta de médicos especialistas e de medicamentos, mas consideraram que o episódio relatado é uma “autêntica vergonha nacional” e representa o ponto a que chegou o sistema, que não consegue assegurar o mínimo necessário para garantir a dignidade de um paciente.

Os internautas referiram- -se ainda ao tratamento dado aos pacientes e à presença de insetos como baratas e mosquitos, que põe em causa a saúde dos pacientes.

Tratando-se ou não de uma situação pontual ou recorrente, a denúncia ecoou com força entre a população, que aproveitou o mote para relatar outras situações que consideram que devem merecer uma maior atenção por parte das autoridades competentes.

HUAN não recomenda que utentes levem talheres de casa

Contactado pelo A NAÇÃO, o Hospital Universitário Dr. Agostinho Neto reagiu com um comunicado assinado pelo Presidente do Conselho de Administração, Evandro Monteiro. O documento não comenta directamente o caso relatado, mas reitera que o HUAN “não recomenda que pacientes tragam talheres de casa”.

Ainda assim, são reconhecidos “os desafios que o setor enfrenta”. A Administração do hospital diz manter-se firme “na busca de soluções sustentáveis, envolvendo todos os parceiros e colaboradores”. Neste sentido, anuncia um projeto de remodelação física do hospital, envolvendo cerca de três milhões de escudos, e o reforço dos “recursos humanos e equipamentos”.

E, em relação à alimentação, o HUAN informa também que em 2024 foram servidas 447.354 refeições a utentes internados, o que representa uma média de 37.280 refeições por mês e de 1,243 refeições por dia. Além disso, terão sido servidas 7.305 refeições a acompanhantes.

Ainda de acordo com o documento, a unidade hospitalar “conta com uma equipa de profissionais qualificados, que presta assistência nutricional com eficiência, qualidade e sensibilidade às necessidades específicas de cada paciente”.

Para o hospital, o “processo reflete a complexidade e o rigor” do serviço, “para garantir o bem-estar dos utentes do maior hospital de Cabo Verde”.

Ilda Fortes

Publicado na Edição 943 do Jornal A Nação, de 25 de Setembro de 2025

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