Embora seja uma fase natural na vida da mulher, a menopausa ainda é envolta em silêncio e desinformação. Algumas passam por ela quase sem sintomas, mas muitas enfrentam mudanças intensas, físicas e emocionais, que afetam o bem-estar e a vida quotidiana. Para especialistas e mulheres que atravessam essa fase, é urgente falar mais sobre o tema para que essa transição seja vivida com mais informação e empatia.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a menopausa marca o fim da idade reprodutiva das mulheres, normalmente entre os 45 e os 55 anos, podendo ocorrer naturalmente ou após a realização de cirurgias de remoção do útero ou dos ovários. Embora não seja uma doença, pode ser acompanhada por sintomas com impacto em todas as esferas da vida e riscos para a saúde, sobretudo a nível dos ossos (osteoporose) e do sistema cardiovascular.
Para sensibilizar sobre o tema, a Sociedade Internacional da Menopausa e a OMS instituíram, em 2019, o Dia Mundial da Menopausa, assinalado a 18 de outubro, para promover um maior conhecimento sobre estratégias a adotar para melhorar a saúde e o bem-estar nesta fase.
Um processo natural, mas desafiante

Neusa Semedo, ginecologista
Em termos biológicos, a menopausa é o momento em que a mulher deixa de menstruar por doze meses consecutivos. No entanto, segundo a ginecologista Neusa Semedo, o processo é gradual e pode durar vários anos. “Durante essa transição, chamada perimenopausa, o corpo da mulher começa a produzir menos estrogénio e progesterona e essa variação hormonal desencadeia os primeiros sintomas”, explica.
Entre os sinais mais comuns, estão as alterações no ciclo menstrual, ondas de calor, suores noturnos, distúrbios do sono e do humor, secura vaginal, infeções urinárias recorrentes, ganho de peso abdominal, diminuição da massa muscular e da densidade óssea, queda de cabelo, pele seca, unhas frágeis, cansaço, nevoeiro mental e uma crescente sensação de instabilidade emocional.
No entanto, a médica sublinha que cada mulher vive essa fase de forma distinta, pelo que o acompanhamento individualizado é essencial. “Algumas atravessam a transição quase sem sintomas, enquanto outras sentem um impacto significativo na sua vida diária. Essas diferenças dependem de fatores genéticos, estilo de vida, histórico reprodutivo, alimentação, tabagismo e até do estado emocional”, esclarece a especialista.
“Algo estava a mudar e eu não sabia o que era”
Aos 45 anos, Paula Fortes começou a sentir os primeiros sintomas de forma subtil. Ansiedade, tristeza sem motivo aparente, oscilações de humor, irritabilidade, enxaquecas, insónia e uma acentuada diminuição da libido passaram a fazer parte da sua rotina. “Inicialmente, pensei que fosse uma fase passageira relacionada com o stress ou o cansaço. Mas como os sintomas persistiam, decidi procurar a minha ginecologista”, relata.
O diagnóstico veio na consulta: estava no climatério, fase que antecede a menopausa. “Percebi que não é apenas uma questão hormonal, mas uma fase que exige atenção integral à saúde”, conta Paula. Confessa que o início foi difícil. “Sentia-me confusa e vulnerável. Foi um período de grande desequilíbrio emocional”, descreve.
As mudanças também afetaram os relacionamentos familiares e o trabalho, mas o diálogo ajudou. “Quando expliquei o que se passava, fui acolhida com compreensão e empatia”, afirma. Hoje, diz procurar o equilíbrio com informação, autocuidado e paciência.
Ilda Fortes
Leia a matéria na íntegra na Edição 948 do Jornal A Nação, de 30 de Outubro de 2025



