PUB

Economia

Educação Financeira: O desafio de mudar mentalidades

Num país onde o custo de vida aperta e o consumo imediato ainda dita muitas escolhas, Cabo Verde aposta na educação financeira como ferramenta de mudança social. Do Banco Central às comunidades locais, passando pelas escolas e famílias, cresce o movimento que ensina – desde cedo – a poupar, planear e investir com consciência. A meta é clara: transformar hábitos, equilibrar prioridades e preparar as novas gerações para um futuro económico mais sustentável.

Pelos bairros de todo o arquipélago, ensina-se e aprende-se educação financeira – uma forma de ajudar as pessoas na gestão do seu dinheiro, tendo em conta a dureza dos tempos modernos. Trata-se de um exercício aparentemente silencioso, mas com grande impacto, capaz de chegar a crianças, jovens, adolescentes e adultos que começam a perceber que, afinal, “é no poupar que está o ganho”. Um pensamento que, caso triunfe, poderá abrir caminho ao investimento necessário na saúde, na educação e na boa alimentação – rumo a um futuro mais equilibrado.

 

Segundo Júlio Dias, jurista do Banco de Cabo Verde, o objectivo é fazer vingar na sociedade cabo-verdiana os três pilares de uma boa gestão financeira: o ter, o ser e o fazer.

“O ‘ter’ é o dinheiro em si, como instrumento material de aquisição de bens; o ‘ser’ relaciona-se com a vertente espiritual; e o ‘fazer’ tem a ver com o comportamento – o onde e o como usar o dinheiro”, explica.

O jurista exemplifica lembrando o conflito entre razão e emoção: “tudo é uma questão de hábito e comportamento. Se não consegues controlar as tuas emoções, então não estás preparado para controlar o teu dinheiro. Muitas pessoas evitam andar com a carteira, mas não há mal em ter dinheiro nos bolsos. O importante é que, sempre que eu passar por uma montra e conseguir resistir à compra do supérfluo, terei conquistado uma pequena vitória. E, no somatório de várias, isso representa um conjunto de vitórias. É preciso planear tudo para se poder ganhar o futuro.”

E esse amanhã está no investir.

Para Vera Figueiredo, comunicadora social, o cabo-verdiano ainda lida mal com o dinheiro, invertendo frequentemente as prioridades. Ela cita dados estatísticos de 2002- 2003, segundo os quais,“a família cabo-verdiana gasta mais em lazer do que em educação – e, nesse lazer, está o álcool”. Esse estilo de vida, assegura, não pode ser considerado investimento.

 

Vera defende que, para enfrentar o binómio “custo de vida” (habitação, saúde, educação) e “qualidade de vida” (a forma como vivemos), é preciso repensar a forma como se gasta o baixo salário médio num país onde “comer custa caro, a renda de casa é alta e as creches são onerosas”, além das dívidas contraídas junto à banca.

Um passado que precisa de ser corrigido

O psicólogo Nilson Gonçalves partilha da mesma opinião. Para ele, a sociedade cabo-verdiana ainda tem muito a aprender em matéria de educação financeira, pois persistem comportamentos compulsivos e uma má definição de prioridades – reflexo de um passado instável e pouco orientado durante a infância e a juventude.

 

“Vivemos um consumismo imediatista que precisa ser corrigido”, alerta, aconselhando as pessoas, sobretudo as que têm um plano de vida, a abrirem mão de hábitos que não contribuem para o futuro – festas, saídas noturnas e fins de semana com gastos evitáveis, muitas vezes com bebida em excesso.”

José Mário Correia

Leia a matéria na íntegra na Edição 949 do Jornal A Nação, de 06 de Novembro de 2025

PUB

Adicionar um comentário

Faça o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PUB

PUB

To Top