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Política

Sidónio opta pelo “descanso do guerreiro”

Sidónio Monteiro deixa a vida política e partidária com o sentimento de “dever cumprido”, mas com “preocupação” em relação à renovação do PAICV, partido com quem mantém uma ligação de quatro décadas. O deputado, que defende uma renovação na continuidade, considera que o PAICV tem “todas as condições” para renovar a maioria, porque há um trabalho “extraordinário” feito pelo Governo.
Deputado nacional desde a década de oitenta, Sidónio Monteiro decidiu não concorrer às próximas eleições legislativas. Isso acontece depois de representar o circulo eleitoral das Américas na Assembleia Nacional, uma “migração” que, na altura, mereceu forte contestação das estruturas do PAICV nos EUA. Em vias de cumprir o mandato, e quando se assiste uma corrida aos lugares elegíveis para a próxima legislatura, aquele deputado e médico, natural da ilha do Fogo, resolveu que é hora de ceder o lugar a “outras pessoas”, conforme assumiu ao A NAÇÃO.
Nisso, Sidónio recorda que se filiou no PAIGC/CV nos anos setenta, mesmo antes de se deslocar a Cuba, onde se formou, em 1982, em medicina. Após o seu regresso foi delegado de saúde na ilha do Fogo e em 1985 foi eleito deputado pelo círculo do Fogo. Desde então, desempenhou funções tanto no Parlamento como no Governo. Também desempenhou, cumulativamente, as funções de presidente da Assembleia Municipal dos Mosteiros, depois de 1995.
Em suma, agora que está de saída, aquele político adianta que se vai dedicar à sua actividade profissional, a medicina, actuando na área social, com destaque para o desporto, onde já exerceu funções de presidente de clube e de médico da selecção nacional de futebol.
“Estou na política activa desde muito jovem. Estou há 30 anos como deputado e fui eleito três vezes como presidente da Assembleia Municipal dos Mosteiros. É tempo suficiente para o ‘repouso do guerreiro’ e dar lugar a outras pessoas para poderem contribuir e participar nesse processo”.
Questionado se essa retirada não está ligada, hoje em dia, à falta de espaço dentro do actual PAICV, o nosso entrevistado responde que não: “Há mais de um ano que tomei a decisão de não participar em mais nenhuma eleição. Participei activamente na campanha política para eleições internas no PAICV, apoiando a candidatura de Felisberto Vieira, mas ele próprio já sabia que, não obstante o meu apoio, eu estava já determinado em não pertencer aos órgãos do partido, como aconteceu no último congresso”.
Questionado igualmente se o facto de ter apoiado Aristides Lima para as eleições presidenciais e Felisberto Vieira na disputa para a liderança do PAICV não lhe terá colocado numa situação de fragilidade em relação à nova liderança do partido, o nosso interlocutor afirma que os apoios que concedeu a essa duas personalidades foram feitos com convicção.
“Apoiei Aristides Lima abertamente, porque entendi, na altura, que a candidatura dele representava a maioria dos militantes do PAICV. Fi-lo de consciência tranquila. Aliás, muitos que na altura não apoiaram Aristides Lima hoje reconhecem que ele seria a melhor aposta do partido nas presidenciais de 2011”, desabafou.
E, em relação a Felisberto Vieira, advoga que este tem um “percurso e uma trajectória política” que lhe davam a ele, Sidónio, “mais garantias para um PAICV mais forte e coeso”. Porém, diante do que está a acontecer, aproveita para expor o seguinte ponto de vista:
“Quando se apoia uma determinada tendência num partido, os que ganham, se não souberem gerir adequadamente a vitória, têm a tendência em tentar excluir a outra parte. Acontecendo, é péssimo para o partido, porque o líder deve federar e congregar todas as vontades”.
Sidónio ressalva, entretanto, que não se sente rechaçado ou afastado, e muito menos desencantado com o PAICV, porque decidiu, mesmo antes das eleições, em não participar nos órgãos do PAICV. E, sobre a luta entre os “novos” e os “velhos” no interior desse partido, diz-se favorável a uma renovação, mas que ela não deve ser feita eliminando gente com trajectória, com capital político e com energia suficiente para ajudar o PAICV.
“Há, efectivamente, uma tendência nalguns sectores e de algumas pessoas com quem tenho conversado, uma ideia da renovação pela renovação, ou seja, tirar uma pessoas e pôr outras mais jovens. Essa tendência é negativa e não é benéfica para o PAICV”, enfatiza Sidónio Monteiro, deixando entender que a renovação deve acontecer na continuidade, “para que se possam aproveitar todas as energias”.
JÚLIO E LIVIO
Sobre a não inclusão de Júlio Correia e Lívio Lopes na lista do Fogo para as próximas eleições legislativas, o deputado diz que, antes de tudo, é preciso ver o que esses “dois camaradas têm dado ao PAICV”.
Em relação a Lívio, o nosso entrevistado esclarece que, tal como ele, Sidónio, o seu colega e conterrâneo decidiu pôr fim à vida política partidária activa, optando por regressar ao seu quadro de origem. E no tocante a Júlio Correia, a conversa é outra: “Pelo percurso dele, os resultados na ilha do Fogo serão afectados pela sua não inclusão na lista, embora se fale da sua colocação na lista de Santiago Sul”.
Em jeito de desabafo, e sem mencionar nomes, Sidónio Monteiro deixa transparecer alguma mágoa pelo facto de os que tiveram que fazer a “travessia no deserto”, na década de noventa, estarem agora a ser rechaçados por alguns que, naquela altura, estiveram do outro lado da barricada, ou seja, ao lado do MpD, que era poder.
“Fizemos uma longa travessia no deserto, numa altura em que muitos vaticinavam o desaparecimento do PAICV. Daquele tempo tínhamos grandes dificuldades em formar as listas, muitos recusavam à última hora em dar a cara para o partido. Mesmo assim, com muito esforço, conseguimos colocar o PAICV no poder e hoje, como é natural, há muita gente a querer os poucos lugares nas listas para as eleições legislativas”.
Sobre os próximos pleitos eleitorais, Sidónio Monteiro considera que o PAICV tem “todas as condições” para renovar a maioria, porque há um trabalho “extraordinário” feito pelo Governo.

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