“Projecto Escola Activa”, em fase de implementação na Escola Secundária Januário Leite, no Paul, Santo Antão, pretende ser uma ferramenta de luta contra o alcoolismo entre os alunos e a sociedade civil, no geral. A estratégia inclui activismo social e cultural entre os alunos e a comunidade educativa, bem como as famílias.
O “Projecto Escola Activa” nasceu de uma iniciativa particular da sua coordenadora, Helga Fonseca, que há um ano começou a reunir material para montar o programa e aplicá-lo no Paul. Em Maio do ano passado, esta animadora sócio-cultural, natural de São Vicente, mudou-se para aquele concelho de Santo Antão e, diante da realidade, apresentou o programa à Delegada de Educação no concelho e ao Ministério.
O projecto está agora na fase de início de implementação e visa provocar mudanças comportamentais capazes de reduzir o acesso e consumo tanto no público-alvo – alunos da Escola Secundária Januário Leite – como na sociedade civil, a médio e longo prazo.
Paul é um concelho onde, para além de outros factores, há uma forte produção de aguardente. O consumo é bem enraizado e aceite socialmente. A tal ponto que um porcento da população padece de alcoolismo crónico, isto é, pessoas doentes que têm de ser tratadas para toda a vida. Em 2016, estavam oficialmente identificados 22 casos crónicos, em 2017 registaram-se mais 66 casos novos. Ou seja, no espaço de um ano, o número de doentes triplicou.
Foi este cenário que, segundo Helga Fonseca, ditou a criação deste projecto, focado na prevenção do alcoolismo na Escola Januário Leite e a comunidade do Paul. “Temos dados suficientes para sublinharmos que o caminho que se deve seguir hoje (paralelamente ao de outras abordagens de parceiros) é o da prevenção. Esta deve ser feito na idade onde está apontado o interesse para a primeira experiência – adolescência – retardando cada vez mais este primeiro consumo”, explica a coordenadora do projecto.
Foco na criança e adolescente
“Escola Activa” é um projecto que defende como metodologia a informação, formação, sensibilização e a comunicação. De acordo com a sua promotora, este processo é feito através de dinâmicas sócio-culturais, desportivas, de activismo cultural entre os alunos e a comunidade educativa, as famílias e a comunidade em geral, de uma forma, articulada, coordenada e em rede.
“É um projecto que coloca o próprio adolescente na linha da frente da sua própria transformação e da sua comunidade”, admite Helga Fonseca.
Para além de criar esta dinâmica socio-cultural, o projecto aposta “fortemente” numa comunicação “interessante e assertiva”. Para isso, adianta Helga Furtado, foram criados também, na Escola Januário Leite, o Jornal Kalderon e a Rádio Escola, onde é o próprio aluno que, juntamente com a coordenadora do projecto, recebe e trabalha a informação sobre a questão do alcoolismo.
“Temos três frentes de trabalho. Uma directamente com os adolescentes, nas salas e nas estratégias de ocupação de tempos livres, outra através do trabalho com eles nas redes sociais, no jornal e rádio escola, e a terceira nas famílias e comunidades, quer através de mesas redondas e ciclos de partilha, como de mudança de normas”, explica.
Hoje, em Cabo Verde, a primeira experiência com bebidas alcoólicas é cada vez mais cedo. O último estudo da Comissão de Coordenação do Álcool e outras Drogas (CCAD) aponta que a taxa de prevalência é de 37% em crianças e adolescentes com idades compreendias entre os 7 e 17 anos. 40% dos alunos do ensino secundário já experimentaram bebidas alcoólicas e muitos já ficaram embriagados mais que uma vez.
“O que podemos fazer para reverter este quadro? Projectos locais, com foco nas comunidades, trabalhando em rede com o devido conhecimento do meio é um dos caminhos a percorrer. Escola Ativa é um desses exemplos”, congratula-se Helga Fonseca.
Perspectivas
“Projecto Escola Activa” é idealizado para ter uma duração de três anos e, ao longo desse período, estão programadas diferentes iniciativas e formas de sensibilizar todo o publico-alvo, directa ou indirectamente. O projecto pretende, para este ano, começar a colocar o adolescente na linha de frente desta transformação.
“Vamos dar pequenas formações e está programada uma formação de curtas metragens onde eles próprios poderão criar seus conteúdos para canal de ‘Youtube’, sempre com o objectivo de sensibilizar, de forma interessante e assertiva, o maior número de público”, adianta Helga Fonseca.
A coordenadora do projecto faz saber que já está a trabalhar num programa de férias de verão em que os conteúdos vão continuar a ser produzidos e divulgados, através de uma colónia de férias, como forma de ocupação de tempos livres dos adolescentes.
Parceiros
Um dos parceiros do “Projecto Escola Activa” é o programa “Menos Álcool, Mais Vida”, da Presidência da República, que disponibiliza alguns equipamentos e materiais de sensibilização, e também a CCAD que co-financiou parte do projecto, financiando a Rádio Escola e uma máquina compacta de fotografia e filmagem.
“Temos conseguido selar parcerias que hoje nos permitem entrar na segunda fase do projecto que é o de implementação, trabalhando directamente com o nosso publico-alvo”, assegura a promotora.
De entre os parceiros há também personalidades que querem apoiar e transmitir as suas experiências. Um deles é o fotógrafo Zé Pereira, que lançou, recentemente, o livro “BOKAFUMO -Uma História de Superação às Drogas”, onde retrata a sua vida enquanto dependente e sua superação e libertação. No início deste mês, Zé Pereira esteve à conversa com os alunos sobre o seu percurso de dependência das drogas – durante metade da sua vida – e da sua libertação da dependência de há onze anos até então.
João Paradela, realizador português que reside na cidade do Mindelo, São Vicente, também é outro amigo do projecto, disponibilizando dezenas de filmes para serem projectados na Escola Secundária Januário Leite, no âmbito do “Projecto Escola Ativa. No dizer de Helga Fonseca, Paradela disponibilizou-se para se deslocar ao Paul para dar uma formação de curtas metragens.