Os agricultores dos concelhos de Santa Catarina e São Salvador do Mundo, interior de Santiago, que normalmente fazem “sementeira em pó” (em terra seca), por altura de Junho e Julho, este ano, mostram-se reticentes, preferindo esperar pelas chuvas para semearem.
Em conversa com o A NAÇÃO, alguns agricultores confessam que, por falta de sementes, devido ao mau agrícola registado em 2017, preferem jogar pelo seguro. Num contexto “normal”, por essa altura do ano, boa parte dos agricultores já teriam feito as sementeiras.
Além da escassez de sementes e do seu preço alto no mercado, coloca-se também o preço da mão de obra: mil escudos/dia para os homens abrirem as covas e 700 escudos para as mulheres semearem. Resumindo, diante dos maus resultados do ano passado, todos querem evitar despesas desnecessárias em tempo de crise.
Cláudio Cabral, “Vasquinho”, natural dos Engenhos (Santa Catarina), diz estar à espera das chuvas para fazer a sementeira deste ano. “Vasquinho” avança que, à semelhança dele, outros camponeses estão a espera da chuva para semear. “Neste momento quase todos estão a limpar as suas parcelas agrícolas para semear. Muitos dizem que só vão semear antes de ‘Nhu São Tiago’ (25 de Julho) se chover, caso contrário só depois”.
Conforme Vasquinho, as pessoas estão a jogar pelo seguro, dado que no ano passado semearam duas vezes, sem resultado. “Muita gente está sem sementes; ninguém se aventura a comprar semente no preço elevado que está para ir semear na terra seca e correr o risco de estragar ou ser comido pelos bichos”, afirma.
Invasão dos animais
Um outro factor que desencoraja os agricultores a proceder às sementeiras é a invasão de animais. Com a falta de pasto, muitos criadores continuam com o gado solto, nomeadamente, cabras, carneiro, vacas e burros, sem respeitar a propriedade alheia. E, como esses animais ficam a deambular de um lado para outro, à procura das favas das acácias para comer, acabam por entupir as covas da sementeira.
A isso soma-se, em certas zonas, o eterno problema dos macacos e galinhas do mato, que estão praticamente sem nada para comer nas montanhas por causa também da seca. “E os bichos esfomeados procuram as sementes para alimentar”, lastima um dos interlocutores do A NAÇÃO.
Sementes pela hora da morte
As sementes estão mais caras no mercado. Com a produção praticamente nula em 2017, este ano, as pessoas que possuem sementes estão a aproveitar para fazer um bom negócio.
No mercado da Assomada, por exemplo, um litro de milho de semente está a ser vendido por 150 escudos, feijão pedra 160 escudos, bongolon 900 escudos, embonje fava nacional 600 escudos e importado 500 escudos e sapatinha nacional 900 escudos litro.
No ano passado, por esta altura, um litro de milho estava a ser comercializado por 50 escudos, feijão pedra a 60, fava a 80 e bongolon a 60 e sapatinha nacional por 300 escudos.
As rabidantes dizem que a venda ainda está fraca, devido à falta de poder de compra das pessoas, mas também porque muitos estão à espera do apoio do Ministério da Agricultura e Ambiente. Conforme as vendedeiras, muita gente apenas pergunta o preço para se informar, quando muito alguns comparam apenas meio litro.
SM