Por: Nataniel Vicente Barbosa e Silva
O nome vem da origem latina Antonius, que por sua vez origina do grego Antónios. Significa “valioso, inestimável, digno de apreço”. Sem dúvida, uma bonita definição que se adapta à pessoa que hoje recordamos com muita emoção e respeito.
António Denti D’ Oru -uma fonte de inspiração
Franzino de corpo pequenino de estatura mas com uma alma gigantesca, com aquela voz calma e serena e, mui particularmente aquela genica extraordinária que fazia trair até aos mais austeros dos santos nas suas brincadeiras. Numa palavra: “Un homi ki nunka perdeba si manera di brinka mesmu na kama”. Lamentamos profundamente o seu desaparecimento mas, morreu o homem ficou a obra. Julgamos que tudo quanto se escreve a seu respeito se mostra insuficiente.
António Vaz Cabral, ou, (Ntoni Denti D’ Oru), alcunha pelo qual era popularmente conhecido. Ganhou esse epíteto em Cabo Verde logo após o seu regresso de Portugal em 1974 na sequência da extracção de alguns dentes, onde aí trabalhava como emigrante, substituídos estes por uma prótese “Denti D’Oru”, como designamos em nosso crioulo.
Vamos então resumidamente saber quem foi António Vaz Cabral ou, “Denti D ́Oru” se assim preferir. Denti d,Oru foi uma figura mítica da ilha de Santiago respeitado e acarinhado por todos. Nascido em São Domingos a poucos quilómetros da cidade da Praia a 15 de Fevereiro de 1926, no seio de uma família de camponeses tal como sucede a uma boa parte de artistas da terra da chamada “musica tradicional (gente iletrada) com uma extraordinária capacidade imaginativa que faz inveja aos próprios letrados.
Recorde-se que em São Domingos também nascera um grande vulto da nossa música: Ano Nobo, que foi compositor de vários temas cantados por vários artistas nacionais de renome internacional.
O casamento
António Vaz Cabral foi casado com a Sr.ª D.nª Maria dos Reis Afonso de Carvalho, 7 anos mais nova. O enlace deve ter acontecido provavelmente nos meados de 1954 a 1955; dessa união nasceram 5 rapazes e uma rapariga.
António Vaz Cabral emigra para Portugal
Em 1973, com a idade de 47 anos António Vaz Cabral emigra para Portugal à semelhança de outros tantos cabo-verdianos, tentando a sua sorte, ali trabalha numa fábrica de cimento e regressa à terra por altura da Independência em 1975.
Denti D’ Oru um homem de sorriso franco e aberto
António Vaz Cabral foi um homem de fino trato, simples na maneira de estar e simples na sua maneira de brincar e de fazer entreter os seus admiradores. Não hesitaria em classificar o Denti d,Oru como uma “espécie rara que se encontrava em extinção.
António Denti D’ Oru e o seu pessimismo ao futuro do batuku em São Domingos
Numa entrevista concedida a um jornalista há alguns anos o Vaz Cabral mostrava o seu pessimismo quanto ao futuro do batuque em São Domingos depois do seu desaparecimento: “Dia kin sai dez mundu n sta konvensidu ma na S. Dimingu ka ta parci alguen pa subustituin pamodi jovens di gosi ka sta interesadu na kuzas di batuku.”
Após o lançamento de seu primeiro disco em 1998, Ntoni Denti d’Oro retornou à Europa e viajou também para os Estados Unidos para promover o seu trabalho. Apresentou-se em vários países entre os quais Portugal, França, Holanda, Estados Unidos e obviamente em Cabo Verde.
António Vaz Cabral sobrevive a um suposto envenenamento
Do seu historial, como artista, consta uma tentativa de envenenamento através de aguardente. O intento fracassou porque conseguiu descobrir que o grogue oferecido continha substâncias estranhas.
Diz o artista: “Mi e kautelozu pamodi nha mai ta flaba mi senpri ma grogu di tudu mo ka ta bebedu.”
Como é do conhecimento público o nosso grande homem de cultura “Denti D’ Oru” deixou-nos ontem 26 de Setembro de 2018 aos 92 anos de idade.
Paz à sua alma e as nossas sentidas condolências à família.
Tarrafal, 27 de Setembro de 2018