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Opinião

Por uma Imprensa que respira

 

Por: António Carlos Gomes

 A economia não é PIB (Produto Interno Bruto) porque nenhuma sociedade tem, na acumulação do capital, a mais nobre missão.

Economia é actores, interesses, conflitos, alianças, estratégias e, para modelar tudo isso, instituições.

E, porque não somos gladiadores e, consequentemente, as regras de convivência são outras, não há uma luta de morte e muito menos esse arrepiante pressentimento de uma Imprensa Privada, que se deseja livre, ferida de morte porque a libertação da palavra e das ideias é a condição “sine qua non” para que haja acções transformadoras que asseguram um processo sustentado de desenvolvimento.

Assim sendo, o aniquilamento da palavra, das ideias, de forma velada ou assumida, é um indicador patognomónico do estado da saúde social em que se encontra uma sociedade.

Não deveria, pois, em Cabo Verde, persistir o sentimento de asfixia dos actores sociais, políticos, culturais e/ou económicos, porquanto o discurso dominante é, precisamente, o da construção de soluções através de interacções norteadas por um diálogo, sem truques, entre os protagonistas de interesses e prioridades diferentes.

A construção do consenso através do diálogo é, simultaneamente, o alicerce e o instrumento necessário para que a Orquestra Cabo Verde seja capaz de nos unir numa sinfonia que viabiliza o direito de cada um de nós, ser diferente, de ter opções diferentes e de fazer escolhas diferentes. Tudo isso em termos de práticas religiosas, preferências sexuais e/ou políticas.

Não deveria haver, em Cabo Verde, badios e sampadjudos, católicos e protestantes, autóctones e alóctones, MpD e PAICV, homossexuais e heterossexuais. Deve, sim, haver apenas homens e mulheres dotados de direito que cada um de nós deve respeitar escrupulosamente.

Mas isso só nos é possível se formos um pouco mais alocêntricos e respeitador do princípio alicerce das regras de convivência: “Não faça aos outros o que não gostaria que te façam a ti” (Jesus Cristo, Mateus 7:12).

Compete às instituições criar o quadro jurídico-moral facilitador de um diálogo que nos permite a consensualidade sobre o presente e o futuro que desejamos.

Mas isso pressupõe, ao contrário do Parlamento que se enclausurou no enfadonho e irritante debate sobre década de 80 e de 90 do século passado, ousar se libertar do passado e avaliar, de forma sistemática e rigorosa o presente para, prospectivamente, construir o futuro aqui e agora.

Um tal empreendimento requer que não haja actores inibidos que, pensando com o estômago, se retraem, se abstêm e que dizem não aquilo que lhes vem na alma, mas o que o caudilho deseja ouvir.

Essa condição de não recalcamento é o pré-requisito para que a palavra se liberte e a informação circule e o desenvolvimento aconteça.

Sem essa circulação de informação poderemos ter crescimento, mas, seguramente, sem desenvolvimento.  Na verdade, para que haja desenvolvimento, “tout court”, precisarmos de uma Imprensa, Pública e Privada, verdadeiramente livres e independentes, que informam e formam o cidadão proactivo, porque desinibido.

Mas uma Imprensa Livre e Independente, por isso liberta de estratégias asfixiantes da parte de aqueles que julgam uma dada linha editorial incomodante, pressupõe uma classe média que, infelizmente, não temos. A nossa é medíocre, não reivindicativa, desprovida do capital simbólico, sem vontade de morder e cujo lema é: “Nu nassi nu atxal nu ta morri nu ta dexal”.

Mudar este quadro obriga-nos a iniciar, com determinação, um processo heurístico que leva a nossa classe média a conhecer os obstáculos naturais e antropogénicos do processo de desenvolvimento nacional.

Na verdade, só uma classe média assim apetrechada se libertaria dessa anuência nefasta face a tentativas, veladas ou assumidas, dos poderes instituídos de minar o direito de informar e ser informado.

O pior de tudo é que essa atitude anuente, também se encontra no seio dos profissionais da Comunicação Social, facto que confirma a descapitalização da nossa classe média.

Não há, pois, espaços para dúvidas.

Tivéssemos uma outra classe média, não haveria censura nem jornais e rádios agonizantes, quer do ponto de vista moral quer do ponto de vista financeiro.

Quanto a este último, não tenho dúvidas de que uma política fiscal específica, que valoriza a utilidade pública subjacente a qualquer Órgão de Comunicação Social se impõe com naturalidade.

Com naturalidade porque o carácter de utilidade pública resulta da missão e da respobnsabilidade dos Órgãos da Comunicação Social de formar homens.

Sim, podemos, legitimamente, questionar até que ponto a nossa Comunicação Social contribui para a formação do Homem Kriolo.

Com a mesma legitimidade, também se pode questionar até que ponto o Poder, ao longo dos anos, tem impedido a Comunicação Social de cumprir, cabalmente, esta missão de formar homens e mulheres de hoje e de amanhã.

Em suma, uma Imprensa Livre é uma condição necessária para que o desenvolvimento da sociedade cabo-verdiana seja possível.

Os políticos que assim não entendem, tentam controlá-la e fazem-no em nome de interesses pessoais, para o bem do País deles e…não do meu.

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