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Opinião

Carnaval de S. Vicente. Moderação, humildade e lucidez

 

Por: José Manuel Araújo

Dispenso discorrer acerca da essencialidade do carnaval para S.Vicente pois, presumo que todos, enquanto actuais intervenientes têm a consciência dessa realidade bem como de todo o respeito que lhes é esperado para com os seus antecessores.

Pretendo sim fazer alguns comentários e propostas construtivas para reflexão de quem estiver desinteressadamente interessado.

O antídoto para actos ou atitudes, voluntários ou não, potencialmente destrutivos são a moderação, a humildade e a lucidez.

Para um entendimento entre a LIGOC e o grupo Estrelas-do-Mar.

Parece que tudo começa numa coincidência. A LIGOC é criada precisamente no mesmo ano em que o Estrelas-do-mar decide regressar ao carnaval. A culpa não é de ninguém entretanto, em virtude da referida coincidência, o Estrelas-do-mar é surpreendido com um estatuto que como é óbvio teria de existir mas que não responde aos anseios mais imediatos do grupo. Acrescenta-se a isso, que o mesmo é portador duma história marcante no carnaval mindelense. Como conciliar estas duas coisas?

Se bem entendi, entre outras, o estatuto tem duas regras: 1ª) O grupo carnavalesco que deseja entrar para o carnaval oficial deve começar por participar no grupo de acesso; 2ª) O grupo de acesso só acontecerá se houver mais do que um grupo carnavalesco para que possam competir, subindo aquele que vencer.

Confrontado com isso, parece e compreende-se que o Estrelas-do-mar, provavelmente aspirando legitimamente um regresso em apoteose que não beliscasse a sua imagem de outros tempos, consciente do estatuto que conquistou, e de que o desejo do seu regresso se tenha mantido sempre aceso no seio da sociedade mindelense, se tenha sentido acossado para não se dizer mesmo um pouco injuriado com tantas exigências inesperadas. Mas a realidade é esta. O Estrelas-do-mar esteve ausente por muito tempo pelo que os seus dirigentes devem ter isso em conta e, com a humildade necessária, esforçarem-se para naturalmente, moderar as expectativas e considerar que nesta nova largada, o caminho deve-se fazer caminhando, rumo à reconquista do seu espaço. Entendendo as coisas desta forma e cedendo naquele primeiro ponto do estatuto, o grupo certamente aceitaria sem problemas e com toda a galhardia, fazer a sua reentrada através duma participação no desfile de acesso.

Já por seu turno e tendo em conta o historial do grupo que merece respeito, e a tal coincidência acima referida, a LIGOC poderia neste momento abrir mãos do segundo ponto, permitindo assim que no caso da inexistência de mais grupos concorrentes no desfile de acesso, ao Estrelas-do-mar, excepcionalmente, nesse primeiro ano experimental para ambos, e em que ocorreu essa coincidência, fosse permitida a passagem automática para o desfile de terça-feira do ano seguinte (2020). Neste caso a LIGOC também pode pôr a mão na consciência e compreender que falar em “não querer abrir precedente para evitar que qualquer grupo que queira entrar no carnaval venha a pretender o mesmo tratamento”, é fazer o Estrelas-do-mar sentir-se numa posição de vulgaridade que também pode parecer alguma desconsideração, o que não contribui para um ambiente distendido e conciliador. Portanto, a meu ver, o Estrelas-do-mar deveria aceitar desfilar pelo grupo de acesso e a LIGOC deveria aceitar que, não existindo mais grupos no grupo de acesso, que o Estrelas-do-mar fosse automaticamente promovido para o desfile da 3ª feira no ano seguinte. Caso contrário o Estrelas-do-mar pode recear correr o risco de ficar eternamente no grupo de acesso, somente devido à inexistência de outros grupos.

Para um entendimento entre a LIGOC e o grupo Vindos-do-Oriente.

Parece-me que o grupo deve repensar a sua decisão de abandonar o carnaval, se tiver em conta que S. Vicente está acima de tudo isso. Mesmo que por acaso esteja com a razão do seu lado, essa razão do grupo não deveria se sobrepor à ilha.

Por outro lado, apesar de ter lido um desabafo que dizia que na LIGOC a situação é de quatro contra um, sendo este um o Vindos do Oriente, presumo que as decisões são tomadas através do voto pelo que me parece que se as decisões tomadas têm ido sempre contra as ideias e a filosofia do Vindos do Oriente, seja por maldade, seja por diferenças de fundo, a meu ver tal não deveria ser considerado razão suficiente para o auto afastamento. Pelo contrário, assim é a vida, as maiorias mudam e as correlações de força alteram-se num e noutro momento.

Já à LIGOC, sugeria que independentemente de estar ou não com a razão do seu lado, que tivesse também em atenção, a forma, o tom como apresenta as suas posições, que podem mesmo que involuntariamente, espicaçar reacções menos positivas, contribuindo para a falta de aproximação e entendimento. A título de exemplo, ao invés de se posicionar “aberta” para conversar com o Estrelas-do-mar, perece-me que melhor seria se posicionasse “INTERESSADA” em conversar com o grupo.

Mas como os conselhos, em virtude da sua subjectividade podem ser facilmente mal interpretados, quero apresentar algumas propostas concretas para os estatutos e/ou regulamento, que no meu entender, contribuiriam efectivamente e duma vez para sempre, para contornar todas estas dificuldades duma organização recém-nascida e por isso, no início duma aprendizagem.

Em primeiro lugar, penso que é necessário e urgente a criação duma estrutura da LIGOC capaz de contribuir de forma eficaz para minimizar as hipóteses de surgimento de climas de suspeições, que amenizasse os ânimos sempre que necessário, que promovesse a conciliação e o diálogo, que participasse no equilíbrio das decisões através de aconselhamentos e promoção de debates mas também em certas matérias com poder de decisão. Refiro-me a um “Conselho do Carnaval” entendido como mais do que um conselho consultivo.

O CONSELHO DO CARNAVAL (CC)

I – O Conselho do Carnaval seria constituído por 11 elementos a saber: a Câmara municipal; a Câmara do comércio; a Associação do turismo (que estranhamente ainda não existe só em S. Vicente); a Delegação do Ministério da cultura; a Delegação do Ministério da economia; os três últimos presidentes da LIGOC (e não os presidentes dos três últimos anos); os três últimos presidentes dos júris de carnaval (e não os presidentes dos três últimos júris).

II – Atribuições orientadoras: a) o CC responde com opiniões solicitadas pela LIGOC; b) Por iniciativa própria, apresenta à LIGOC sugestões da sua autoria ou da autoria de cidadãos mindelenses.

III – Atribuições vinculativas: a) o CC intervém com decisões vinculativas mesmo não tendo sido solicitada a sua intervenção, em caso de situações de impasse, crise ou manifestamente prejudiciais ao carnaval de S. Vicente; b) Elege, de entre os mindelenses, o presidente da LIGOC (nenhum elemento dos grupos oficiais pode fazer parte de qualquer estrutura da direcção da LIGOC, e, será esse presidente da LIGOC eleito pelo CC, a escolher os restantes elementos da Direcção). Por uma questão de ajustamento, a LIGOC poderia mudar de nome.

IV – A presidência do CC pode ser rotativa, por ordem alfabética.

Em conclusão, a minha proposta se consubstancia em dois momentos: 1º) assumir ainda para este ano, atitudes, comportamentos e acções conciliadoras, deixando de lado os interesses seja da LIGOC seja dos grupos, para dar primazia aos interesses de S. Vicente e do carnaval de S. Vicente que está em ascensão há muitos anos (muito antes do edital do governo), para impedir um retrocesso em 2019 com consequências imprevisíveis no futuro. 2º) E com mais calma: criar essa nova estrutura, o “Conselho do Carnaval”, que irá permitir precaver de quaisquer surpresas no futuro. Não esquecer que a LIGOC é uma estrutura recém-nascida, que deve ter a nobreza da humildade para saber que ainda tem um caminho a percorrer e muito para aprender ou alterar.

Esta é a minha proposta que gostaria que fosse agarrada, trabalhada, melhorada e refinada, tanto pela LIGOC como também por qualquer dos grupos ou ainda por qualquer dos membros desse provável Conselho do Carnaval.

Na minha opinião muito pessoal, ao invés destas conferências de imprensa que à partida só incitam a mais questiúnculas, deveriam sim ter iniciativas para encontros de entendimentos, incluindo obviamente os convenientes cuidados com a linguagem utilizada.

S. Vicente e o carnaval de S. Vicente, estão muito acima das contendas (com ou sem razão) de qualquer grupo ou Liga. Lembrem-se disso.

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