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Opinião

Importância da Laginha no lazer, na saúde e na economia de São Vicente**

 

Por: Maurino Camões Delgado*

O Movimento para o Desenvolvimento de São Vicente com essa intervenção pretende  chamar à atenção das autoridades, despertar a consciência  dos operadores turísticos, nomeadamente, hotéis, residenciais, agências de viagem, de transportes de passageiros e também  da população em geral para juntar esforços na problemática da segurança dos turistas, para assegurar o negócio do turismo.

Estão sendo realizadas obras para transformar S. Vicente num destino turístico. Nesse contexto, a Praia da Laginha destaca-se como um dos elementos importantes desse projeto, com a sua enseada de corais, um oceanário natural que a natureza nos proporcionou e que o engº Guilherme Mascarenhas, e os biólogos, Corrine Almeida, Evandro Lopes e Rui Freitas , docentes universitários, investigadores e mergulhadores, incansavelmente, vem chamando à atenção para a sua conservação, beleza, riqueza e importância ambiental, socioeconómica, ecológica, científica e estética. ( Atualmente está a ser preparada a sua candidatura a área protegida.  Outros gastam fortunas, construindo oceanários, enquanto nós temos um oceanário natural, ao pé da  nossa Cidade, pugnamos por destruí-lo, com intervenções feitas sem respeitar os procedimentos legais, tal como a obrigação dos estudos do impacto ambiental e as advertências dos especialistas. É preciso inverter esse estado de espírito de atraso para o espírito do desenvolvimento, porque um povo que não valoriza o que é dele, dificilmente, sai da pobreza. Muito agradecemos a esses quadros que pela sua elevada consciência cívica e social, colocam o seu conhecimento técnico e científico ao serviço do desenvolvimento do país esperando que os dirigentes tomem consciência das suas responsabilidades políticas e governativas e não continuem a fazer orelhas moucas aos pedidos da Sociedade Civil para uma governação séria e competente.

A Enseada d’coral tem importância socioeconómica (turismo de mergulho), recreativa (mergulho para os nacionais de todas as idades), científica (laboratório da UniCV utilizada pelos seus alunos, docentes e eventualmente por cientistas estrangeiros), ecológica ( A fauna e flora marinha soma mais de 300 espécies  com uma representatividade considerável da biodiversidade marinha cabo-verdiana, com muitas espécies endémicas e pelo menos 9 espécies de corais) desportiva (mergulho, natação, bodyboard, surf, remo, stand up paddle), educativa ( tem desempenhado um papel importante na sensibilização e educação ambiental) e medicinal (o mergulho tem revelado ser uma boa terapia psicológica relaxando e melhorando a disposição dos seus praticantes).

A Praia da Laginha tem uma importância grande para a Cidade do Mindelo, seja para o  lazer, para a saúde e  para  o crescimento da   economia de São Vicente.

A segurança e a infraestruturação da praia da Laginha são fatores   fundamentais para a sua valorização.

Assalto a turistas na praia da Laginha, repercussões na economia de São Vicente.

Temos que resolver os  problemas de insegurança que dificultam o desenvolvimento do País.

Transformar a Cidade do Mindelo num grande resort, deverá ser o nosso objetivo. Tomemos a consciência de que o resort mais importante para os nacionais desta Ilha, é a própria Cidade do Mindelo.

Os resorts que eventualmente venham a ser construídos na Baia das Gatas, Salamansa ou noutros sítios, são bons mas o grosso dos lucros saem do país porque os investimentos  são dominados pelo capital externo.

Transformar a Cidade do Mindelo num resort  não é difícil porque   já temos as infraestruturas principais e necessárias, que são, a praia da Laginha, a Cidade,  Madeiralzinho, Ribeirinha, Monte Sossego e os outros bairros,  com todos os seus equipamentos sociais, desportivos, de entretenimento, etc.  O que nos falta é a boa gestão dessas infraestruturas é a determinação, é  a vontade de criar riqueza, de procurar recursos para viver  com dignidade.

Grande parte das dificuldades económicas e não só, por que passamos  em Cabo Verde, é porque  gerimos mal o País.

Por isso, no momento em que se mostra necessário  requalificar essa praia  para que sirva de um elemento impulsionador da economia e desenvolvimento desta Ilha, temos que estar atentos para que os interesses privados  não se sobreponham ao  interesse coletivo. Esclarecendo melhor: se a praia da Laginha, para o seu bom uso, precisa de espaços para estacionamento de viaturas, construção de piscinas, de  espaços para receber mais pessoas, para as necessidades de uma cidade que cresce de ano para ano e para receber  mais  turistas ou de espaços para se   deslocar a estrada que muito perturba o funcionamento da praia, então,  os  terrenos à volta da Laginha  não devem ser vendidos para outros fins, como  vem acontecendo em São Vicente, onde  a Câmara Municipal  vende tudo o que seja terreno para especulação imobiliária,  sem ter em conta as necessidades estruturantes para o desenvolvimento  de uma cidade  que se quer sustentável, comprometendo eixos importantes do desenvolvimento de São Vicente.

Assalto a turistas

No passado dia 29 de Novembro de 2018,  o jornal online Mindelinsite, noticiava que um grupo de turistas foi surpreendido  na praia da Laginha por um assaltante que levou os seus pertences com um cúmplice que o esperava de mota para a fuga.

Em Março deste mesmo ano, também uma Holandesa era agredida e assaltada  na praia da Laginha, ficando com ferimentos. O proprietário da Residencial Beleza que acompanhou a Holandesa  à Polícia disse que uma semana atrás, um casal de turista que estava hospedado na Residencial Laginha foi seguido e assaltado. Foram apresentar queixa à Polícia e não deu em nada.

Pessoalmente já assisti a dois turistas  terem os seus pertences roubados  na Laginha por dois garotos enquanto tomavam banho. Levaram passaportes e outros documentos e dinheiro. Não há muito tempo.

O mais preocupante nessa problemática é que tudo isso acontece e não se vê quem de direito a tomar medidas concretas  ou a dar uma explicação qualquer.

Os  fatos atrás  mencionados  são sinais evidentes de que em termos de segurança a praia da Laginha está desprotegida, não está preparada para receber turistas que vêm sendo  os alvos preferenciais dos ladrões.

A quem devemos pedir contas?  Em primeiro lugar é ao  Presidente da Câmara Municipal que é o gestor principal deste município e que como tal, por imperativo institucional, direta e indiretamente responde por tudo o que acontece no seu território. Não é por mero acaso que ele tem responsabilidades de coordenação e de colaboração com os serviços desconcentrados do estado, Artº 105º dos Estatutos dos Municípios. Em  segundo lugar, temos que pedir responsabilidades ao Comandante Regional da Polícia  que é responsável pelas forças de segurança em São Vicente, que têm por funções garantir a segurança interna, a tranquilidade pública, artº 244º da Constituição.  Também são responsáveis: os Vereadores da Câmara Municipal, os Eleitos da Assembleia Municipal ( artº 45º do Estatuto dos Municípios, artº11º do regimento da Ass. Municipal)  e os Deputados da Assembleia Nacional, artº13ª  Estatuto dos Deputados. É preciso pedir contas! Nós achamos que os  titulares desses cargos  de muita responsabilidade, cujo desempenho  depende, em grande parte, o bem-estar da população, precisam ser proativos, imaginativos, para procurarem as melhores  soluções para os  problemas.  No caso dos assaltos a turistas na praia da Laginha não nos venham dizer que é por falta de efetivos porque a Praia da Laginha é um espaço que devia ter  prioridade nos planos de segurança, pelas razões anteriormente invocadas.

O Movimento para o Desenvolvimento de São Vicente está muito  preocupado particularmente, com essa situação de assaltos a turistas, por várias razões: porque temos a responsabilidade de garantir a segurança a todos aqueles que nos visitam, é uma questão de honra, de orgulho, e pela importância económica que o turismo representa para a nossa sobrevivência. Falar de turismo é falar de negócio, de economia, de emprego. Não há turismo sem turistas. É preciso prestar um serviço de qualidade ao turista e garantir-lhe a máxima segurança.

Acentuando essa importância que o turismo tem para nós, um condutor de um autocarro de transporte de turistas comentava: se não fossem os turistas estávamos todos de braços cruzados; uma proprietária de um restaurante comentava no mesmo sentido: se não fossem os turistas, o meu restaurante estava fechado; a própria sustentabilidade da ligação marítima São Vicente/Santo Antão é graças aos turistas; Em determinados períodos, chega a acontecer ter mais turistas à bordo dos barcos do que nacionais. Não é por acaso que o turismo representa 20% do nosso produto interno bruto.

É evidente que temos todas as condições naturais  para fazer crescer esse negócio mas, se não tivermos capacidade de garantir a segurança do turista, todo o esforço para promover o país como destino turístico fica comprometido ou então o turista é empurrado para os resorts  em que o nacional quase que fica de fora do negócio, muito pouco ganha, porque esse tipo de negócio é dominado pelo capital estrangeiro, que come tudo, all inclusive.

O Movimento traz essa questão para debate porque entende que as autoridades não estão a fazer tudo aquilo que está dentro das suas possibilidades para resolver o problema e é preciso pedir-lhes conta do trabalho. A própria  população  uma vez consciente dos interesses em jogo pode   colaborar na segurança do turista.

Citamos como exemplo: há algum tempo um individuo resolveu assaltar um casal de turistas no percurso Ponta do Sol/Cruzinha, na ilha de Santo Antão. Quando os moradores da localidade se aperceberam da situação, perseguiram o ladrão. Na fuga, acidentalmente, o ladrão deu  um passo em falso, caiu de rocha. A população dessa localidade dizia: ninguém vem aqui nos  envergonhar. É um bom exemplo de cidadania. É preciso manter   esse orgulho vivo, essa consciência, essa  determinação de ninguém nos vir envergonhar,  de  não voltar a cara ao problema,  de passar a  considerar que isso é normal porque em toda a parte os turistas são assaltados. Não, não podemos fazer isso, não podemos correr esse risco porque,  São Vicente encontra-se  numa situação economicamente difícil, precisamos de turistas, os turistas não podem ser assaltados, não nos venham emborcar a nossa panela. Temos que fazer tudo para que o turista não seja assaltado, circule à vontade entre nós, por toda  a parte, possa pernoitar ou viver temporariamente, seja em Ribeirinha, Fonte de Inês, Madeiralzinho, Monte Sossego, Fernando Pó, ou em qualquer outra parte de São Vicente, porque esse negócio é a nossa tábua de salvação. Que será de nós, com a seca que nos persegue e sem o negócio do turismo? Temos que refletir seriamente sobre a nossa vida porque as dificuldades estão a apertar no dia-a-dia.

Continuando com a  questão da segurança na Praia da Laginha que reafirmamos ser uma questão de gestão, fazemos notar que , há uns cinquenta anos  na praia da Matiota onde foi construída a Cabnave, a Câmara Municipal, mantinha instalações apropriadas onde os banhistas guardavam a roupa e outros pertences. Num passado recente havia polícias da Capitania que vigiavam a praia da Laginha. Agora não se vê nada disso. Estamos a regredir.

Agora que a praia ganhou mais importância por causa do turismo, agora que temos mais polícias e que a polícia tem  mais meios operacionais,  agora que temos mais gente no poder para pensar São Vicente, temos menos segurança na Laginha. A pergunta que se coloca, por que razão? A resposta, só pode ser, que não estamos com capacidade de gerir  esta Cidade.  Que fazer? É a questão que colocamos a todos os munícipes de São Vicente porque é  um problema que diz respeito  a todos os munícipes. Para  resolver um problema comum temos que começar a refletir sobre ele. Que fazer?

Quero terminar  pedindo a todos os cabo-verdianos que nos inspiremos na obra e nas palavras do Padre Octávio Fasano que proclamou:  A vinha de Maria Chaves quer ser um sinal concreto de esperança. A terra árida e difícil do Fogo pode dar frutos e gerar desenvolvimento para um futuro digno das novas gerações, isso  vem inscrito nas garrafas de vinho da Vinha maria Chaves, terra árida que o Padre Ottávio Fasano transformou num campo de videiras produzindo vinhos que ganharam medalha de ouro num concurso realizado na Itália.

*Dirigente do Movimento para o Desenvolvimento de São Vicente

**Apresentado na Conferência de Imprensa, em Mindelo (na Ilha de São Vicente), a 18 de Janeiro de 2019

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