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Opinião

Não existe uma Ideologia do Género

Por: António Carlos Gomes

Não há uma Ideologia “Género”! O que há é um esforço de construção de um quadro teórico que permite a compreensão e a consequente explicação do processo pelo qual uma diferença biológica se traduziu numa diferença de poder que afeta a divisão social do trabalho, provoca a erosão do “poder interior” pelo condicionamento do “poder de” e do “poder com” e exclui, com base nesta diferença biológica, uma parte da sociedade do acesso e controlo dos recursos e limita, por vezes, a sua mobilidade tanto social quanto espacial.

O “Género” é uma relação de poder. Assim sendo, “masculino” e feminino” não são variáveis nem objeto de estudos para os especialistas de desenvolvimento. O que interessa é o construto social que sustenta esta relação na origem da diferença do poder entre o homem e a mulher. Numa determinada fase da construção do quadro teórico, a psicologia reteve a atenção dos economistas, e não só, que se interessam pela questão do desenvolvimento, para a necessidade de se diferenciar o sexo da identidade. E isso foi importante na melhoria da análise comportamental, tanto individual quanto coletivo, naquilo que é relevante para a compreensão do processo de desenvolvimento pelo facto de facilitar um maior e melhor conhecimento do processo decisório.  É, na verdade, a abordagem género que permite compreender porquê que os pais, ao entrarem numa creche, recusam lá deixar os seus bebés se encontrarem, unicamente, homens e rapazes como educadores infantis. Este é um tipo de comportamento, expresso através de uma decisão, que condiciona a divisão social do trabalho. E, quando um portador do órgão reprodutivo masculino, com um olá meninas, entra no toilete das mulheres é bem-recebido e até há, por vezes, trocas de batom vermelho e um outro provoca indignação e um vomitar de adjetivos, estamos perante um caso comportamental determinado não pelo sexo, mas pela identidade dos envolvidos. Se transpusermos este exemplo para a sociedade, veremos, facilmente, como a questão da identidade surge, também, como condicionante antropogénico do desenvolvimento.

O desenvolvimento é produto de uma parceria entre homens e mulheres de uma sociedade. Sabe-se que essa parceria é efetiva e eficaz se, e só se, à mulher não for negada o acesso ao poder (económico, político, social) numa repartição equitativa do poder. É essa equidade (conceito importado da ciência jurídica e indispensável na definição de políticas públicas mormente a social e a fiscal) no acesso e no controlo do poder que irrita, porque fere a expressão doentia da masculinidade.

Nas religiões monoteístas (Cristã, Islâmica e Judaica) o problema da igualdade (conceito fraco)  e da equidade (conceito forte) na repartição do poder se põe com maior acuidade que na sociedade em geral e o discurso e a estratégia adotados para barrar o acesso ao poder as mulheres exprimem, de forma brilhante, um arcaísmo sustentado por uma afirmação negativa da masculinidade que assegura à mulher presença sem poder.

E, para manter este monopólio do poder, determinados setores do cristianismo, e isso em quase todas as denominações cristãs, recorrem a discursos e práticas cavernais, sobretudo, na América do Norte e na América Latina destorcendo a verdade bíblica nas vertentes relação homem/mulher e na vertente família. Quando o Criador instaurou a primeira família instruiu-os numa igualdade absoluta e não condicionada entre o homem e a mulher. A sujeição, à condição, da mulher (esposa) ao homem (marido) foi permitida apenas após a entrada do pecado no mundo. “…O teu desejo será para teu marido. Ele te governará” (Génesis 3:16). E a condição é “no Senhor!” E esta é uma condição limitativa que atribui à mulher a responsabilidade de avaliar a pertinência da escolha do homem antes de o seguir e ao homem o dever absoluto de adotar o princípio da renúncia do eu expresso através do “Agape”. Isto é, na relação entre o homem e a mulher rejeita-se, o efeito manada.

Em suma, a abordagem “género” não é uma ideologia e o obscurantismo, que assim não entende, envergonha.

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