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Política

Jorge Carlos Fonseca considera que o 25 de Abril “potenciou” a independência das antigas colónias portuguesas

Jorge Carlos Fonseca afirma que o 25 de Abril “potenciou” a independência das antigas colónias portuguesas e que as lutas de libertação contribuíram para favorecer a tomada de consciência por parte de vários seguimentos militares e políticos portugueses.

“As lutas de libertação africanas contribuíram para favorecer a tomada de consciência por parte de vários seguimentos militares e políticos portugueses, no sentido de que haveria que encontrar uma solução diferente para as colónias portuguesas”, precisou o antigo activista do PAIGC em Portugal, referindo-se ao 25 de Abril que, segundo ele, “marcou a queda do fascismo”

Quando se deu o 25 de Abril, Jorge Carlos Fonseca estava a cumprir o serviço militar no Regimento de Infantaria 3, em Beja, ao abrigo da chamada lei de incorporação compulsiva no exército criada por Marcelo Caetano e, nessa madrugada, era oficial de piquete.

A anteceder a sua chegada à tropa, em 1972, o então estudante do Direito na Universidade de Coimbra, por razões de teor político, foi arguido num processo disciplinar que lhe foi instaurado e cuja decisão só conheceu 1973, último ano do curso.

“Na altura, fui punido com alguns anos de suspensão da Universidade de Coimbra em que era acusado de greves, de ter arrombado portas e ter impedido aulas, “ainda que, em boa medida, essas acusações se baseassem em factos falsos”, indicou Jorge Carlos Fonseca, actual Presidente da República de Cabo Verde.

Segundo ele, nas vésperas do exame do quinto ano do curso recebeu a comunicação das sanções aplicadas, pelo que não pôde fazer os últimos exames e, por conseguinte, não conseguiu acabar o curso aos 22 anos, como seria seu desejo.

Entretanto, tentou transferir-se para Lisboa, mas a transferência lhe foi indeferida. Fez um recurso hierárquico ao ministro de altura que era o Veiga Simão e não resultou.

“Ao abrigo da chamada lei da incorporação compulsiva no exército, que era uma lei do Marcelo Caetano, meteram-me na tropa”, revela, acrescentando que nessa altura já era militante do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Queria sair de Portugal, mas na altura tinham instruções do partido que os militantes de Cabo Verde, chamados para o serviço militar, deviam ir para tropa e “tirar todos os dividendos e aprendizagem desse serviço que poderia ser útil posteriormente”.

“Um outro motivo que me levou a aceitar as instruções (do PAIGC) é porque sabia que nunca seria mobilizado para a guerra colonial, porque tinha um irmão mais velho que morreu muito novo na tropa em Moçambique”, explicou

“Não sabia que ia acontecer naquele dia, mas através de estruturas do PAIGC e contactos com outros camaradas de altura, que tinham ligações com o Partido Comunista, tínhamos informações que estaria prestes a acontecer um levantamento, até porque antes já tinha havido um, em Calas, mas que abortou”, precisou Fonseca que, aos 17 anos de idade, já era activista pela independência de Cabo Verde.

Lembra-se que na madrugada do dia que ficou conhecido como “Revolução dos Cravos” um cabo miliciano português, ligado ao Partido Comunista, foi ter com ele, para lhe dar mais informações e propondo-lhe que tomassem o quartel.

“Eu tinha ligações mais com o PAIGC e, portanto, pouco tempo depois abandonei o exército e passei a ser considerado refractário”, admitiu.

Para ele, o 25 de Abril representa a queda do fascismo em Portugal e uma “base boa para potenciar a independência das antigas colónias portuguesas”.

“Como jovem de 20 e poucos anos vivi aquilo (25 de Abril) com muita intensidade”, garantiu.

Instado se acreditou desde sempre que a revolução do 25 de Abril era um processo irreversível, respondeu: “Sim, eu tinha menos dúvidas do que muitos dos meus colegas. Muitos tinham dúvidas sobretudo pelo protagonismo de certas figuras nos primeiros tempos, como por exemplo o general Spínola e outros. Havia sempre algumas reservas, dado o posicionamento deles no processo político em Portugal”.

“A dinâmica da revolução de Abril foi tão intensa, forte e rápida e apercebemos que aquilo era um movimento com alguma radicalidade, mas que levaria ao derrube do regime fascista e potenciaria a libertação das antigas colónias portuguesas”, assegurou Jorge Carlos Fonseca, para quem as lutas nas ex-províncias ultramarinas contribuíram também para o 25 de Abril e vice-versa.

Lembra que muitos dos capitães de Abril tinham feito a guerra colonial na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique e, portanto, “viveram de perto” a situação e aperceberam-se de que a “guerra não era uma solução”.

De acordo com Jorge Carlos Fonseca, aqueles militares foram criando uma “consciência crítica em relação à situação colonial” e, por via disso, também no que tange aos problemas vividos em Portugal, através de um “regime ditatorial, opressivo e fascista”.

“As lutas de libertação africanas contribuíram para favorecer a tomada de consciência por parte de vários seguimentos militares e políticos portugueses, no sentido de que haveria que encontrar uma solução diferente para as colónias portuguesas”, acentuou o antigo activista do PAIGC em Portugal.

Na madrugada de 25 de Abril de 1974, durante a parada da Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, Salgueiro Maia, um dos capitães de Abril, proferiu o célebre discurso: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto.

Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!” Todos os 240 homens que ouviram estas palavras, ditas de forma serena, mas firme, tão característica de Salgueiro Maia, formaram de imediato à sua frente. Depois seguiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura.

Foi ele que comandou a coluna de blindados, vinda de Santarém, e montou cerco aos ministérios do Terreiro do Paço forçando, já no final da tarde, seguindo as ordens de Otelo Saraiva de Carvalho no Posto de Comando na Pontinha, a rendição de Marcelo Caetano, no Quartel do Carmo, que entregou a pasta do governo a António de Spínola. Foi ele que escoltou Marcelo Caetano ao avião que o transportaria para o exílio no Brasil.

Inforpress

 

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