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Opinião

Pequenas notas ao deus Cronos

Por: Filinto Elísio

O Príncipe e Einstein -99 anos

Daqui a um mês, mais precisamente no dia 29 de Maio, celebra-se mundialmente os 99 anos da prova da Teoria da Relatividade Geral, do físico Albert Einstein. Esta Teoria, que mudou o mundo (não só o da Ciência, mas o do Pensamento Geral), teve mercê na expedição e no empenho do astrónomo Arthur Stanley Eddington e da ilha do Príncipe, na República de São Tomé e Príncipe, para que se tornasse marco-iniciático da experiência-prova. Foram, para além das deduções teóricas, a eclipse solar vista da roça Sundy, a chuva equatoriana que deixou coar as estrelas e o perfeito arco-íris que se descortinava na floresta densa que, em 1919, colocaram STP na rota da confirmação da Teoria da Relatividade e questionaram o absolutismo do comportamento da luz e da gravidade, postulado por Newton e outros cientistas. Os documentos, que podem ser consultados e pesquisados na Sociedade de Geografia de Lisboa e na Royal Geographical Society de Londres, contam esta história com mais consistência que esta simples nota e demandam mais conhecimento. O desafio é que, no próximo ano, o de marco centenário, a ser celebrado, estiquemos a “corda da visibilidade”. A ilha do Príncipe, que já é Património Mundial da Biosfera, poderia, pelo viés deste acontecimento científico, candidatar-se a Património Mundial da Humanidade. Vamos pensar nisso, ó Governo de STP, ó CPLP.

Cidade da Praia – 160 anos

Momento comemorativo dos 160 anos da Cidade da Praia, Capital de Cabo Verde. Mantenha-se ela, terreiro que me viu nascer e crescer, território do meu firme apego e incondicional amor. Pulsa-me no pensamento e no sentimento os dolorosos e os exultantes momentos da sua história. Por haver tal passado, há futuro. Fazendo jus ao que entendo ser uma disposição constitucional, pergunto: e o Estatuto Administrativo Especial? E ao que também julgo desígnio nacional: e a Região Metropolitana de Santiago Sul? O desafio verdadeiramente central é torná-la cada vez mais criativa, inovadora, próspera e cosmopolita. Com segurança, bem-estar e qualidade de vida. Para o orgulho e o aconchego de todos os filhos da Nação. Saibamos refletir e debater no espaço público (sempre com cidadania participante e ativa) o devir desta nossa cidade.

25 de Abril – 44 anos

Há quarenta e quatro anos, mercê do dia 25 de Abril de 1974, o povo português apartava-se do fascismo-colonial do Estado Novo, instaurava processos das descolonizações e inscrevia Portugal no mundo com uma notável democracia constitucional. Como cidadão cabo-verdiano, residente por ora em Portugal, a Revolução dos Cravos, para lá da espuma dos dia, promete-me sempre tempos novos, estes que dão mais ânimo e mais coragem para as liberdades, a paz, a solidariedade e a inclusão. Redenção sempre para o Planeta!

João Lopes Filho – 40 anos de escrita 

Há dias, na Associação Caboverdeana de Lisboa, tive ocasião (diria mais, privilégio) de coapresentar o livro “Clabedeche/Tchapa-tchapa”, de João Lopes Filho – uma sinfonia que revela a complexidade deste antropólogo, professor, investigador e escritor que, com esta trigésima obra, celebra seus 40 anos de escrita.

A pedido de alguns, recorto aqui a minha abordagem (súmula apenas, não a recensão da obra), evidenciando o seguinte:

. O título “Clabedotche/ Tchapa-tchapa”, postula e remete à manta de retalhos, à roupa remendada com bocados de pano, ao ofício do mosaico e aos “patchwork quilts”, insinuando composição e recomposição de olhares sobre a vivência cabo-verdiana.

. O prefácio assinado pelo escritor Jorge Tolentino reafirma a ideia da “panóplia de conhecimento” ao serviço do leitor e a própria nota preambular do autor que, dando o mote, assume que os produtos dispersos, em meios que não livros, aparentemente “de uso e descarte” mantêm-se como bens culturais e a preservar (no caso, em compilações).

A multiplicidade e a diversidade desta “panóplia” resultam do engenho e arte do Autor:

– Na triagem feita (são 50 textos, escolhidos entre 250 publicados em jornais, revistas, monografias dissertações, teses e outros meios)

– Na seleção consentida (a seleção dos textos busca apurar e estruturar em produção escrita os grandes campos do interesse científico, cívico, cultural e literário do autor, ao mesmo tempo que realça, sem obsessão cronológica, os 40 anos de produção escrita)

– E na organização das várias linhas temáticas (de 1 até 1.5 – O livro e a leitura; de 2 até 2.4 – A Literatura; de 3 até 3.7 – A História; de 4 até 4.3 – Património Intangível; de 5 até 5.3 – Turismo; de 6 até 6.15 – Intervenções; e de 7 até 7.12 – Reflexões)

. Por tudo isso e a rigor, abordei o livro da perspetiva de uma obra-coletânea

– Pela dimensão antológica (onde sobressai o ato crítico da seleta e da avaliação judicativa de compilador/organizador)

– Pela estratégia temática e sub-temática (de intensa coerência metodológica em catalogação dos vários assuntos, bem como nos procedimentos de indexação próprios da arquivística e da biblioteconomia)

– Pela componente de materiais coligidos (que exalam crónicas, artigos, intervenções e reflexões, escritos no tempo e no espaço)

– E pela própria classificação documental (reunião de conteúdos em grupo, hierarquizando-os por graus de semelhança, complementaridade ou pertinência).

Livro enciclopédico, sinfónico e panorâmico (sobre Cabo Verde e a vivência cabo-verdiana). Livro em tudo de (e para) referência e de iluminação sobre as grandes questões da Caboverdianidade.

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