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Opinião

De quem é a nossa mente?

Por: Olímpio Tavares*

Desde a tenra idade somos condicionados por um conjunto de ideias que acabam por marcar o resto das nossas vidas. Na verdade, somos inculcados determinadas ideias por diversas entidades sociais: pais, professores, padres, políticos, entre outros.

A intenção comum dessas entidades é controlar, desde a tenra idade, a nossa mente e fazer-nos meros instrumentos sociais, se possível, desprovidos de qualquer pensamento crítico. A pergunta de quem é a nossa mente é propositada uma vez que levá-los a pensar, de forma profunda, sobre os propósitos da nossa existência, sobretudo como senhor e dono de si mesmo.

É um facto que temos uma mente. A questão é saber se essa mente nos pertence no sentido substancial do termo. A minha resposta a essa questão é não. Porque a maior parte de nós passa uma vida inteira sem questionar se as ideias presentes na nossa mente fazem algum sentido e, por outro lado, se contribui para sermos uma pessoa mais inteligente, e, consequentemente, nos leva a viver melhor.

Podemos pensar numa das ideias que muitos pais colocam na cabeça dos filhos desde a tenra idade. O feitiço, por exemplo. O feitiço é uma suposta capacidade de determinadas pessoas para fazer mal aos outros. Em Cabo Verde e em África, em geral, é uma realidade muito comum. É uma ideia estranha e falsa que acaba por manipular a nossa mente no sentido de dar-lhe crédito. Muita gente acaba por orientar parte significativa da sua vida baseado nessa ideia.

Outra ideia muito comum inculcado na nossa mente pelo pessoal da religião é a ideia de que ser pobre aos olhos de Deus é sinal de perfeição moral. Sendo assim, o indivíduo que vive na miséria, depois da sua morte, será recompensado no suposto paraíso.

Por fim, há que dizer que os políticos inculcam algumas ideias na nossa mente que acabam por estragar as nossas vidas. Uma dessas ideias é de que resolvem os nossos problemas. Na verdade, os políticos, em geral, resolvem problemas que lhes garante mais votos, e consequentemente, a perpetuação no poder.

A nossa mente só seria nossa se de facto estamos dispostos a extirpar um conjunto de ideias, que são muitas, da nossa mente. Isso não é fácil porque estamos acomodados a essas ideias que acaba por nós dar um certo conforto. Embora esse conforto seja ilusório e falso. Afinal, a tão falada “fake news” faz algum sentido na estrutura mental que criamos. Se nós mentimos a nós próprios (autoengano), não será normal os outros colocarem um conjunto de mentiras na nossa mente?

*Licenciado em Filosofia, pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Atualmente, leciona Filosofia na Escola Secundária “Olegário Tavares”, na vila de Achada do Monte (interior de Santiago)

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