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Opinião

Comunidade de quarta linguagem de relação, a CPLP ainda está vacilante

Por: José Valdemiro Lopes

É facto, que o mundo Lusófono, é uma comunidade heterogénea deste planeta Terra, a diversidade em vários aspectos, do grupo nos impede de falar de cultura comum, apesar da centralidade que marca Portugal, do ponto de vista linguístico, mas que embora todas as hipóteses especulativas, fica relativamente distante dos mais actores do clube.

Nove países unidos por um passado histórico colonial paternalista e linguístico, espalhados pela Africa, América do Sul, Ásia e Europa, com pesos económicos desequilibrados, entre eles, ocupando, desmesuradamente e em destaque, sozinho, o Brasil, 85 por cento da produtividade do conjunto no seu todo.

No peso económico, Cabo Verde não está na cauda: os dados do Banco Mundial atribuem a Cabo Verde, o valor nominal 1,8; ficando imediatamente à frente de Timor-Leste, 1,6; Guiné-Bissau, 1,3; e São Tomé e Príncipe, 0,4, respectivamente.

Estes resultados são confrontados com a soma total produzida pela  Comunidade, que, em 2017, apresentou, um PIB (Produto Interno Bruto) nominal global, igual a 2.425,70 (10ª milhões USD resultado de 2017 “fonte: Banco Mundial”).

Nota também ressalvar que o Brasil, produziu, praticamente o bolo inteiro: (como novo país emergente), apresentando, em 2017, o PIB nominal de 2.056,0 (10ª milhões USD resultado do ano de 2017 “fonte: Banco Mundial”) …!!!

Analisando de perto o cadastro perfil da CPLP (Comunidade dos Países da Língua Oficial Portuguesa), não há duvida alguma que, entre os seus membros, o sub-aproveitamento em termos de trocas socio-económicas é evidente e este facto descaracteriza a importância, que deveria ter a Comunidade, no concerto das nações. Ou seja: um “grupo linguístico” praticando e detentora de, provavelmente, a quarta língua mais falada do mundo, reunindo vários povos e cultura espalhados em vários continentes.

Para o comum dos cabo-verdianos, o peso simbólico e cultural da “lusofonia” é controverso e não suscita paixões: falamos todos, no quotidiano das nossas vidas, a nossa língua materna e a constituição da Nação cabo-verdiana antecedeu a emancipação política, formalizada a 5 de Julho de 1975.

Uma vantagem de Cabo Verde em relação à maioria das nações-irmãs africanas, que se desembaraçaram do colonialismo desde os primeiros anos da década dos anos 60 do século passado. Varias nações-irmãs africanas do grupo “CPLP”, praticam correntemente o “português” como língua veicular entre as suas populações, que falam diferentes línguas locais …

Longe de nós trazer ou veicular uma ideia ou uma visão unilateralista de actor global descontraído e autónomo, porque, do nosso ponto de vista, Cabo Verde não pode ignorar sua pertença tropicalista, africanidade e europeísta.

Somos o que ousamos chamar de portadores de uma cultura “universalista”.

Se Cabo Verde é igual à África, África não é igual a Cabo Verde. Já nos anos 30 do século passado, Manuel Ferreira, no seu ensaio “A Aventura Crioula”, tentou responder à pergunta se Cabo Verde é igual à África ou Europa e ficou no unilateralismo, na solução: Cabo Verde é igual a Cabo Verde, mas Cabo Verde é tudo isso não se afastando de nenhuma das suas origens, criando culturalmente uma simbiose própria e original, que não se referencia à revolução da “negritude” de Senghor nem ao europeísmo ocidental, resumindo tudo na simplicidade de uma existência pacífica, padronizado na morabeza e cabo-verdianidade, referenciado na fronteira e integração cultural “judaico-cristã” e a africanidade, instalando e vivendo numa cultura aberta e universalista.

Se a França criou, bem que mal o que se chama, pejorativamente, de “Françafrique” a autoestima e sangria de muitas vidas nos países africanos-irmãos, recusou e impediu a criação do Portugal africano e a Revolução dos Cravos de Abril de 1974, enterrou o império extemporâneo e frustrado.

A lusofonia é um campo cultural, intercontinental de cooperação entre povos de várias culturas, heterogénea que apagou as cicatrizes colonialistas, onde não se consegue identificar um país matriz, federador de ideias, aspirando unir, simbolicamente, todos os membros do clube, transformando todas as potencialidades dos nove países membros em uma comunidade intercontinental de trocas e de facilitação de circulação de pessoas, bens e serviços o “isolamento” reina de maneira, quase que endémica, independentemente da excepcionalidade de encontros cimeiros, “convívios-Jogos” e, se calhar, algumas mais excepcionalidades culturais raras…num vasto mercado intercontinental…

No campo literário, a lusofonia produziu uma literatura de excelência e boa colaboração. Cabo Verde teve, recentemente, a honra de receber dois prémios “Camões”.

Os nove países estão individualmente integrados, nas Comunidades Económicas regionais: União Europeia, SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), CEEAC (Comunidade Económica Estados África Central), Mercosul, CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático).

Na era da sociedade de comunicação, o português é o quarto idioma de relação no mundo, com 169, 2 milhões de utentes para uma população falante estimada em 268,5 milhões, um mercado, por excelência, em “stand by”…

Para quando a materialização da ideia mais que revolucionária e mesmo necessária de circulação de “bens e pessoas” no clube CPLP, em benefício de todos os seus nove membros?…

miljvdav@gmail.com

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