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Sociedade

Hotel Vulcão: Um paraíso em pleno coração da Cidade Velha

Já lá vão quatro anos desde que o carismático empresário cabo-verdiano, Braz de Andrade, realizou o sonho de erguer o Hotel Vulcão. Um sonho que surgiu da visão de aliar o mundo dos negócios à cultura e ao turismo, de forma a prestigiar o sítio Património Mundial da UNESCO – Cidade Velha, na Ribeira Grande de Santiago.

Hoje, Braz de Andrade, divide o seu tempo entre a vontade de potenciar o turismo local, que, na sua óptica, “não está a ser aproveitado devidamente”, e o seu negócio de venda de materiais de construção e mobiliário para a casa. O turismo foi uma forma de diversificar os negócios, promovendo também a cultura, que é, no seu entender, uma das maiores riquezas que Cabo Verde tem para oferecer ao mundo.

E nada melhor que o sítio histórico da Cidade Velha, Património da Humanidade (UNESCO) desde 2009, para dar corpo a uma nova aventura empresarial, de forma a acompanhar o desenvolvimento do país no sector do turismo. Assim nasceu o Hotel Vulcão, em homenagem também à sua “querida” ilha do Fogo, terra do mítico vulcão. Um investimento de mais de 800 mil contos e que hoje emprega directamente cerca de 30 pessoas. 

“Santiago é, talvez, a ilha com maior história para contar e descobrir. Infelizmente é uma ilha que nunca foi vendida para o turismo, mas que está carregada de história”, conta Braz de Andrade sobre o que está na génese da escolha da Cidade Velha, para construir o seu primeiro empreendimento turístico.

 

Serviços

Ao todo são 58 quartos, divididos em categoria de suites, standards e quartos superiores, equipados ao nível de qualquer hotel de luxo do mundo, sem faltar a internet Wi-Fi, além da excelente vista para o mar e jardins, num contacto intimista com a natureza. Entre Março e Abril pode até observar as baleias que passam em frente ao hotel.

O empreendimento possui ainda um centro de conferências e mais dois salões multiusos, um restaurante, ginásio e várias piscinas de crianças e adultos. A maior é a natural, no mar – a piscina “Atlântico” – muito apreciada por locais e turistas. No mar foram criadas condições para que todos possam nadar em segurança. Inclusive, existe um nadador salvador e escadas de acesso ao mar.

 

Buffet aos Domingos

O Hotel Vulcão oferece o famoso buffet aos Domingos, que já é muito requisitado por cabo-verdianos, vindos da capital e de outros pontos da ilha de Santiago, pois, em família ou entre amigos, podem desfrutar de um almoço com vista para o mar, ao som de uma boa tocatina cabo-verdiana e tomar banho de piscina ou no mar. “Aqui pode-se passar um bom Domingo, com toda a segurança e várias actividades para as crianças”, destaca o empresário.

A taxa de ocupação ainda está aquém das expectativas, em parte por falta de “infraestruturação adequada” na Cidade Velha. “É preciso criar condições para potenciarmos de facto a riqueza que o sítio Património Mundial da Unesco tem. Cidade Velha é um diamante bruto, tão perto da Praia, mas, essa distinção, na prática, não trouxe nada em termos de benefícios. Os turistas que visitam a Cidade Velha vêm com informações, querem ver o que dizem os documentos que lêem, mas chegam cá e não encontram nada”, afirma.

Diante desta situação, o Hotel Vulcão está a delinear novas estratégias de atracção de turistas. Paralelamente, Braz de Andrade e a sua equipa “100% cabo-verdiana” têm vindo a apostar na realização de grandes eventos para diversificar o negócio e trazer maior rentabilidade e sustentabilidade ao empreendimento, que ocupa 12 mil metros quadrados.

“Realizamos casamentos, conferências, festas de aniversário, congressos e outros eventos. Isso é o que tem ajudado a manter o negócio”, afirma o empresário, que tem esperança em “melhores dias” para o desenvolvimento turístico da Cidade Velha.

“É um investimento muito grande e, neste momento, é difícil dizer que compensa. Mas como a parte fundamental da economia é a psicologia, a gente sempre aguarda melhores dias. Como tenho outra empresa, tenho estado a fazer uma gestão em conjunto. Um lado cobre o outro, na esperança de que o legado de Património da UNESCO passe efectivamente a funcionar. Porque, se funcionar como deve ser, isso trará grandes rendimentos, tanto para o Hotel Vulcão, como para as outras unidades que existem nesta zona”, explica Braz de Andrade, que emprega 60 funcionários.

O empresário garante que tem estado a desfazer-se de outros patrimónios para “aguentar” o hotel, mas admite que isso não pode ser eterno. “Tenho compromisso com o banco, os trabalhadores e com a manutenção, entre outros, que totalizam despesas  na ordem dos 100 mil escudos, por dia, que tenho que assegurar para aguentar o hotel”, finaliza.

 
 

“É preciso cuidar melhor do Património Mundial da UNESCO”              Empresário Braz de Andrade

Situado a 14 quilómetros da capital de Cabo Verde, Cidade Velha está aquém das expectativas de desenvolvimento turístico, sobretudo se tivermos em conta que desde 2009 carrega o peso da distinção de Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Uma distinção a que muitos sítios do mundo aspiram, mas que poucos conseguem.

“Tem de haver um envolvimento sério do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, da Igreja , do Ministério do Turismo e do Ministério da Agricultura e Ambiente para, de facto, potenciarmos e tirarmos proveito daquilo que é o Património Mundial da Humanidade. Nenhum turista vem à Cidade Velha para encontrar Nova Iorque. Eles sabem, com certeza, que o país é pobre, mas é preciso cuidar melhor da Cidade Velha”, defende Braz de Andrade.

Nesse contexto, o empresário partilha da opinião de que devia haver um gabinete de turismo na Cidade Velha, só para gerir o Património da UNESCO e rentabilizar o título. “A população local é humilde, mas que sofre muito, perto de uma grande riqueza, histórica, cultural e patrimonial. Imaginem a Sé Catedral de porta aberta, em que ninguém paga nada para entrar! A própria Sé não é potenciada!”, questiona.

Braz de Andrade fala de activos ainda não explorados. “Há fortes na Cidade Velha que ainda estão perdidos, por conhecer, canhões perto do mar que ninguém chega lá…”.

O empresário defende ainda que é preciso dar mais atenção aos turistas que realmente podem gerar mais-valias para a população. “O turista que vem para Cidade Velha é diferente daquele que vai para o Sal e Boa Vista. São turistas, como costumo dizer, com alguma capacidade na cabeça e na algibeira. E temos que estar preparados para dar atenção especial a esses turistas no acolhimento, porque, por exemplo, é difícil uma pessoa na casa dos 60 a 65 anos chegar ao Convento, porque não tem acessibilidades adequadas. O caminho da Fortaleza também tem de ser recuperado”, alerta. 

O empresário acredita que uma das saídas é apostar no empreendedorismo jovem local e combater a pobreza. “Vem um turista à Cidade Velha e não consegue levar um produto genuíno de Cabo Verde como recordação, não consegue ouvir um Batuco, que é a nossa riqueza…a nossa cultura. Temos raparigas lindas a varrer a estrada, que podiam ter quiosques a vender licores, doces, compotas, t.shirts com o logótipo da Cidade Velha, mas não estão. E quando os turistas vêm não encontram nada e, quando encontram, é artesanato da costa africana”.

À parte cultural acresce a falta de infraestruturação. “O Hotel Vulcão está situado mais ou menos a 14 quilómetros da capital, mas há sítios em que a rede móvel não funciona e onde nem há um sinal de luz, na estrada. Isso é complicado  para um sítio que se diz que se quer desenvolver turisticamente. Cidade Velha é tão importante, mas na prática tem o estatuto de aldeia”, lamenta. 

Estrada, energia e água são na sua óptica, condições essenciais para se desenvolver o Sítio. “Imaginem um hotel desta envergadura a trazer água da Praia para abastecer porque a água da rede não funciona. Temos um posto sanitário de 1966. Às vezes, há turistas que sofrem um pequeno problema de saúde e tem que ser levado à Praia, porque o posto sanitário não serve e, inclusive, há um período em que não tem médico. Isso é complicado num sítio que é Património da UNESCO”.

“Aquilo que falam que está a arrancar (turismo), nunca mais arranca”, diz, elencando um conjunto de mais-valias históricas por explorar. “Um lugar onde viveu o Padre António Vieira, Vasco da Gama e várias personalidades do mundo. Um sítio que tem a Rua Banana, a mais antiga rua construída pelos portugueses na África Subsaariana e nos trópicos… Nós temos sete fortes de defesa no litoral, mas não conseguimos mostrá-los aos turistas”, elenca.

Braz de Andrade defende um novo olhar sobre a Cidade Velha. “Nós temos uma zona agrícola das mais bonitas, mas não se chega lá por causa da estrada. Um turista que esteja na Cidade Velha e queira ir a Rui Vaz, tem de deslocar-se, primeiro, à Praia, quando, com uma boa estrada, podia ir directamente”. Na sua óptica, estes são investimentos que já teriam de envolver o Governo. “Um Governo ousado podia recorrer ao crédito internacional ou à banca porque isso dá rendimento. Peço que o Governo veja o que é preciso fazer pela Cidade Velha, pela riqueza deste concelho que é Património da UNESCO. Conheço emigrantes dos Estados Unidos que querem investir na Cidade Velha, mas, quando vêm a estrada, ficam desencorajados”, informa.

O empresário garante que as preocupações do empresariado local já são do conhecimento da Câmara Municipal e do Ministério do Turismo e o que falta é acção.

“Acho que falo por todos nós, empresários que quase sentimo-nos arrependidos de ter investido nessa zona. Já ultrapassámos a fase de projectos.  É preciso que esses projectos passem à execução para que  Cidade Velha ganhe dinâmica”, conclui. 

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