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Sociedade

Ribeira de Calhau e Madeiral: Sem água e com terrenos desactivados, criadores obrigados a desfazerem-se do gado

A falta de chuva nos últimos três anos e a inexistência de um plano de retenção de água na comunidade já levou à desativação de grandes parcelas de terreno nas localidades do Madeiral e da Ribeira de Calhau. Desanimados e com os depósitos vazios, lavradores abandonam a agricultura, uma vez que não conseguem suportar o custo da compra de água em autotanques.

E sem pasto também para os animais, a única alternativa é a compra de ração para alimentar o gado, o que representa um custo demasiado elevado para ser suportado. Na ausência de uma solução, muitos têm optado por restringir o gado e fazer algum cultivo, muito reduzido, quase apenas para a subsistência.

Cientes de que a chuva é incerta por estas bandas, os agricultores e criadores de gado clamam por uma intervenção assertiva por parte do Ministério da Agricultura e do Ambiente (MAA), no sentido de resolver, de uma vez por todas, o problema de falta de água que há largos anos afecta aquelas comunidades.

“É preciso implementar um plano de retenção de águas pluviais e de proteção torrencial”, aponta o presidente da Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral, o proprietário Filinto Brito. CNão há chuva, mas ela pode vir a cair, causando até alguma destruição. A construção de diques de retenção parece-me o plano ideal para converter as adversidades que assolam esta comunidade no tocante à água, servindo ao mesmo tempo de proteção torrencial.N

É que, segundo Filinto Brito, pode chover em grande quantidade, mas a água vai toda para o mar. E nos anos em que isso acontece, os agricultores só conseguem desfrutar dela durante cerca de seis meses. Este é um problema que se arrasta há muitos anos e que, apesar dos vários alertas, nunca nada foi feito de concreto por parte das autoridades.

“Apesar de termos muitos lugares onde poderiam ser construídos diques de grande porte, há cerca de 20 anos que não é construído um único dique em São Vicente”, explica aquele agricultor, considerando que a delegação do MAA em São Vicente precisa sair do gabinete e fazer um levantamento real da situação pelo que passam estas famílias, de modo a priorizar as situações mais gritantes.

Há cerca de três anos que não consigo produzir. A solução tem sido trabalhar em outras coisas porque agricultura não está dando resultadoH, confessa o produtor Humberto Tanaia, que inclusive já recolheu os materiais de rega gota-a-gota dos terrenos, sob pena de deteriorarem, abandonados e sem uso. Este lavrador diz que há muito ouviu falar de um projecto de dessalinização de água, que colocaria um fim a muitos dos seus problemas, mas que até agora “não passou de conversa”.

Não sendo São Vicente uma ilha considerada agrícola, no dizer dos nossos entrevistados, quem trabalha a terra, aqui, está praticamente entregue à própria sorte.

Apoio irrisório para a pecuária

Para a pecuária, os criadores têm recebido vales-cheques, no valor de trezentos escudos para cada saco de ração, com um custo total de mil e quatrocentos escudos a unidade. Ou seja, a ajuda não chega a metade de preço da ração.

Neste contexto, muitos têm preferido guardar os vale-cheques em casa e continuar a compra da ração como o habitual, pois, como alegam, não justifica as despesas. “A ajuda que recebemos, se eu o posso chamar de ajuda, não faz praticamente diferença nenhuma. Primeiro porque só abrange cabras e vacas. Num saco de ração de mil e quatrocentos escudos, o Governo entra com trezentos e eu com mil e cem”, explica o agricultor e pecuarista António Pires.

NA

(Leia mais no A Nação impresso, nº 634, de 24 de Outubro de 2019)

 

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