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Sociedade

Ribeira da Barca: Mulheres querem alternativas à apanha da areia

A apanha de areia do mar é uma prática antiga, na Ribeira da Barca, e constitui a principal fonte de rendimento de muitas mulheres chefes de família. Estima-se que cerca de 80% das construções existentes em Santa Catarina, particularmente na Assomada, foram construídas com inertes da Ribeira da Barca.
A apanha desenfreada de inertes levou à destruição das praias de Lém Rocha e Charco, sítios onde já não existe areia. Actualmente, apesar de existir uma lei que proíbe a apanha de inertes, diariamente, dezenas de mulheres da Ribeira da Barca continuam a procurar nessa actividade o seu sustento. Hoje, devido à pouca areia que resta, as mulheres são obrigadas a entrar no mar, enfrentando ondas de um a dois metros de altura, para juntar uma carrada de areia para vender a troco de quatro a cinco mil escudos.
Em conversa com A NAÇÃO, as mulheres que vivem da apanha de areia dizem-se conscientes que tal prática é prejudicial tanto para o meio ambiente como para a própria saúde delas. Aleida Rocha Tavares, “Leila”, 40 anos, é uma das mulheres que, desde os 15 anos, levanta-se todos os dias, às seis horas, para se aventurar no mar de Charco.
“A vida não está nada fácil”, afirma. E continua: “Estou aqui à procura de um dinheirinho para sustentar os meus seis filhos e arcar com as despesas da educação. Mas a situação, no mar de Charco, está a tornar-se cada vez mais difícil, dado que, dia após dia, há menos areia. Antes andávamos em cima da areia para encher os carros, agora temos que entrar no mar e enfrentar ondas até de dois metros de altura para conseguir um balde de areia. No dia que conseguir um outro trabalho mais rentável deixarei esta vida. Até porque já estou com problemas de saúde”. Conforme “Leila”, ela e outras mulheres já receberam várias visitas de diversas autoridades que as aconselharam para deixarem de apanhar areia, com promessas de que serão apoiadas com outros projectos mais rentáveis, o que até ainda não aconteceu.
“Recentemente, numa reunião, prometeram porcos e galinhas para as mulheres que vivem da apanha da areia”. “No meu caso”, acrescenta Leila, “eu queria um forno eléctrico porque o meu companheiro é padeiro e poderíamos formar um grupo com cinco mulheres que vivem da apanha de areia para juntos produzirmos pão e vender na comunidade, até porque o pão que aqui consumimos vem da Assomada. Mas disseram que forno está fora de questão. Por isso, vou continuar apanhar areia. É difícil, mas pelo menos os meus filhos não ficam a passar fome”.
Já, Maria Rocha e Maria Cabral dizem que se encontrarem outro tipo de trabalho, mesmo que seja na área de saneamento, vão deixar de ir ao Charco. “Disseram-nos para organizarmos em grupo de cinco e que nos vão apoiar com porcos, galinhas e cabras para apostamos na criação. Mas isso é muito arriscado, porque eles dão assistência apenas durante seis meses. E para alimentar esses animais temos que comprar rações e para isso precisaremos de dinheiro. E, por outro lado, os animais podem morrer ou até ser roubados. Por isso, o melhor mesmo seria arranjar-nos trabalho e cada um decide o que fazer com o salário que recebe”, conclui.
SM

  • Esta peça integra uma reportagem publicada na edição número nº 633

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