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Sociedade

São Vicente: O contraste da vida de dois jovens na morada e periferia

Pouco mais de dois quilómetros separam o centro do Mindelo, vulgo Morada, da Ribeirinha, bairro periférico, também chamado de “Fralda”. De um extremo ao outro são várias as diferenças que podem ser encontradas nesse percurso. Para “desenhar” este quadro ninguém melhor do que dois jovens moradores em cada um desses pólos.
A zona histórica do Mindelo foi o ponto de partida a partir do qual a ilha de São Vicente se começou a desdobrar. Do outro lado, o bairro de Ribeirinha só em meados da década de 80 é que realmente começou a se formar enquanto bairro. Ilídio Mendes, 20 anos, mora no centro da cidade do Mindelo, na casa dos pais. É estudante universitário do curso de licenciatura em Contabilidade pela ISCEE. Actualmente não trabalha, dedicando a sua vida principalmente aos estudos.
“Durante os dias de semana, a minha rotina passa basicamente por estudar em casa ou na biblioteca da minha universidade de manhã e no final do dia vou assistir às aulas. Regresso à noite e já não há tempo de fazer mais nada, além de dormir. Aos fins-de-semana procuro conviver com os amigos, ver jogos na TV, mas também vou à loja do meu pai ajudar”.
Uma vez que ainda não trabalha e não sendo bolseiro, os custos da sua licenciatura são bancados pelos pais. O facto de morar perto da universidade onde estuda faz com que Ilídio não tenha despesas de deslocação da casa para o estabelecimento de ensino.
Apesar de morar no centro, Ilídio considera que não há espaços de lazer, pelo que a alternativa é quase sempre jogar e assistir jogos de futebol ou então jogar playstation.
Ilídio ainda não pensa muito no futuro, mas uma das certezas é, após o término dos estudos, ir procurar um trabalho que lhe proporcione estabilidade financeira e que lhe permita satisfazer as suas necessidades básica. Questionado sobre a possibilidade de vir a enfrentar o desemprego logo após a licenciatura, este entrevistado diz que ainda não pensou no plano B para o futuro.
Marco Fortes
Marco Fortes é ligeiramente mais velho do que Ilídio. Este jovem de Ribeirinha tem actualmente 24 anos e vive no bairro da Ribeirinha, mais precisamente na área de Chã de Faneco. Frequenta o 4º ano da licenciatura em Engenharia Electrotécnica da Universidade Técnica do Atlântico. Tal como Ilídio, Marco também não trabalha ainda e os custos dos estudos são suportados pela mãe e um tio. Á mensalidade de nove mil escudos, juntam-se os custos de transporte entre outras despesas próprias do universitário. “É um montante exagerado para uma família que vive do rendimento médio”, diz Marco Fortes.
Nos tempos livres, este jovem joga futebol, pratica natação e partilha da convivência com os amigos. Isto tudo para driblar a falta de espaços de lazer, sendo que os recintos desportivos e as praças existentes no bairro encontram-se em péssimo estado de conservação. “A vida no meu bairro hoje em dia é pacata. A nível de segurança melhorou muito. No que tange a infra-estruturas tem tido uma melhoria mas nada de se louvar. Tem tido um melhoria substancialmente na área de iluminação, também em termos de água e saneamento. A nível social Ribeirinha continua igual, muita pobreza (ligações clandestinas de luz), dificuldade de acesso a terrenos próximos para a construção”.
A nível profissional, Marco Fortes almeja se tornar engenheiro e trabalhar na área em que se formou. Caso não conseguir entrar directamente no mercado de trabalho, pensa estudar mais e enveredar para o empreendedorismo.
JF
*Esta reportagem foi publicada no Caderno Especial São Vicente na edição imprensa nº634 do jornal A NAÇÃO.
 

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